Título: Dólar já afeta ocupação na indústria
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2007, Brasil, p. A4

Os números do mercado de trabalho dão mostras do impacto do câmbio valorizado sobre o emprego, assim como também refletem a febre dos biocombustíveis. Um dos piores resultados é o da indústria calçadista, enquanto um dos destaques é o do setor de alimentos e bebidas, no qual estão incluídas as empresas de açúcar e álcool.

Nos 12 meses encerrados em fevereiro, o saldo entre admitidos e desligados na indústria de calçados foi positivo em 4.376 vagas, pouco para um setor que emprega mais de 280 mil trabalhadores, de acordo com números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Esse resultado mostra o efeito do câmbio valorizado, diz o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, observando, porém, que houve uma melhora do segmento nos últimos meses graças principalmente à recuperação da economia na região Sul. No acumulado de janeiro e fevereiro, o saldo entre trabalhadores contratados e demitidos ficou em 6,6 mil, observa ele.

O segmento de madeira e mobiliário, que também tem sofrido com o dólar barato, é outro que contratou pouco nos 12 meses até fevereiro: apenas 4.598 pessoas. É um número baixo para um setor da indústria que emprega no total mais de 430 mil trabalhadores.

O resultado do setor de material elétrico e de comunicações também deixa a desejar. É um segmento muito afetado pela concorrência dos produtos importados. O Caged mostrou a criação de 6,3 mil postos de trabalho nos 12 meses terminados em fevereiro.

Quem vai muito bem é o segmento de alimentos e bebidas: nos 12 meses terminados em fevereiro, foram criados 111,5 mil postos de trabalho, o equivalente a 40,2% do total de 277,1 mil de toda a indústria de transformação. A febre do etanol ajuda a explicar o desempenho, diz Romão: dos 111,5 mil empregos, 50,4 mil são do setor de açúcar e álcool, que estão aí incluídos.

Boa parte desses empregos surgem em São Paulo. Segundo números divulgados ontem pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a indústria de transformação criou 57 mil postos de trabalho no primeiro trimestre deste ano, resultado 2,73% superior ao mesmo período do ano passado. Desse total, pouco mais de 42 mil empregos (74%) foram originados no setor sucroalcooleiro. Excluído esse segmento, o emprego na indústria paulista teria crescido apenas 0,8% nos três primeiros meses de 2007.

"Não temos nada contra este tipo de emprego, apesar de serem empregos mais ligados ao campo do que à indústria" , diz o diretor do departamento de economia Fiesp, Paulo Francini. Segundo ele, a grande maioria das vagas criadas no setor sucroalcooleiro é no plantio e na colheita da cana, e não na operação das usinas. Nos 12 meses encerrados em março, houve a criação de 32 mil empregos em São Paulo.

Romão nota que o segmento específico de alimentos também tem contratado muito: nos 12 meses até fevereiro, o saldo entre admitidos e desligados do Caged ficou em 55,5 mil - metade dos 111 mil que incluem bebidas e açúcar e álcool. Segundo ele, o aumento da renda é um dos principais fatores que explicam esse desempenho, que foi muito positivo no primeiro bimestre de 2007, quando houve a criação de 11,2 mil empregos.

Na indústria metalúrgica foram criados 33,1 mil postos de trabalho nos 12 meses encerrados em fevereiro - 11,9% do total registrado pela indústria de transformação. O segmento passa por um bom momento, estimulado pela forte demanda pelo aço, tanto interna quanto externa. (SL e Murilo Camarotto, do Valor Online)