Título: Valorização do euro deve afetar exportações da UE
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 30/01/2013, Internacional, p. A11

A recente alta do euro começa a inquietar os exportadores na zona do euro, sobretudo na Alemanha, que tem sido motor da economia europeia e é altamente dependente do comércio exterior.

A moeda comum europeia se valorizou 11% desde julho de 2012 em relação ao dólar americano e também em termos efetivos ("trade-weighted basis"). Em termos históricos, ainda está 11% abaixo do pico de 2008.

De um lado, a valorização ilustra a maior confiança na zona do euro, podendo estimular o consumo das famílias e os investimentos das companhias, além de reduzir o preço de importações para preservar a renda.

Mas, de outro, para os exportadores significa uma nova dor de cabeça. Analistas concordam que a taxa cambial do euro pode não ser desastrosa para exportadores da zona do euro, mas deverá diminuir o ritmo das vendas para o resto do mundo neste ano.

Como observa o economista Ben May, da Capital Economics, de Londres, no passado a alta do euro resultou em crescimento das exportações em ritmo muito lento ou mesmo negativo nos meses seguintes. "A recente alta do euro e o crescimento modesto da demanda global significam que o crescimento das exportações da zona do euro será mais fraco do que os 3% do ano passado", afirmou May em nota. Segundo ele, o consenso é de alta de 2,7%, sem excluir a contração caso o euro continue a se valorizar.

Uma saída para os produtores europeus será responder à alta da moeda cortando o preço em euros, mantendo assim o preço inalterado na moeda estrangeira e garantindo o volume de vendas. Entre o início de 2009 e de 2012, o preço das exportações subiu cerca de 8%, enquanto o custo unitário da mão de obra caiu 10%.

Como sublinha May, isso indica que os exportadores europeus têm espaço para reduzir margens.

Ainda mais porque alguns países continuam altamente dependentes de vendas para o exterior. É o caso da Alemanha. Suas vendas externas aumentaram 0,7% em 2012 comparado ao ano anterior. A contribuição das exportações para o crescimento da economia foi de 1,1%, mais do que em 2011, e o componente de maior peso no PIB.

De acordo com o Deutsche Bank, as exportações cresceram graças a maior demanda originária dos EUA e da Ásia, sobretudo no primeiro trimestre, compensando a menor demanda nos outros países da zona do euro afetados pela recessão.

Mas para 2013, apesar das projeções de ligeira recuperação da economia mundial, a expectativa é que a contribuição do comércio exterior para o crescimento alemão seja negativo em 0,25%. O PIB alemão pode crescer apenas 0,3%, mais lentamente do que no ano passado, apesar de contribuição maior da demanda doméstica, que é resultado de alta das importações, acima das exportações.

Em 2012, pela primeira vez em muitos anos, a União Europeia (UE) teve superavit no comércio com o Brasil, de mais de US$ 1 bilhão. Para este ano, se os exportadores cortarem as margens e o real continuar valorizado como atualmente, a tendência é de os europeus manterem o superavit. Ainda assim, Bruxelas não cessa de se queixar de barreiras no Brasil.