Título: Bancos chineses rolam dívida de governos locais e adiam possível calote
Autor: Rabinovitch, Simon
Fonte: Valor Econômico, 30/01/2013, Internacional, p. A11

Bancos chineses rolaram pelo menos três quartos de todos os empréstimos a governos locais com vencimento até o fim de 2012, numa indicação do imenso desafio que a China enfrenta para reduzir a sua carga de endividamento.

As autoridades municipais chinesas tomaram grandes empréstimos para bancar o programa nacional de estímulo durante a crise financeira mundial e estão agora em dificuldades para gerar receita para quitar as dívidas, um descompasso que poderá lançar uma sombra sobre o crescimento.

Os bancos concederam pelo menos 3 trilhões de yuans (US$ 482 bilhões) - possivelmente mais -, dos aproximadamente 4 trilhões de yuans em empréstimos mais juros que os governos locais deveriam ter pago até o fim do ano passado, de acordo com cálculos do "Financial Times" com base em dados oficiais.

Os montantes são imprecisos porque a agência regulamentadora bancária chinesa só divulga números referentes ao total de empréstimos para governos locais, e não publica detalhes sobre pagamentos de juros ou acordos de refinanciamento.

Mas três economistas disseram que os números confirmam que os bancos chineses rolaram grande parte das dívidas para evitar inadimplência.

"Essa é uma observação e explicação correta", disse Stanley Li, analista da Mirae Asset Securities. "A julgar pelos prazos de reembolso dos custos dos projetos de infraestrutura [iniciados por governos locais], serão necessários mais de 10 anos para ver esse dinheiro de volta".

Huang Yiping, um economista do Barclays, concorda. "Rolar a dívida era realmente a única opção disponível para o governo e para os bancos", afirmou.

"O que você pode fazer quando um empréstimo bancário de três anos vence quando a estrada ainda está em construção", disse Ken Peng, do BNP Paribas. "A rolagem de dívidas tem sido uma prática comum e o que está acontecendo é um sinal disso."

As preocupações sobre o endividamento na China desapareceram, nos últimos meses, quando a economia recuperou-se, mas muitos analistas acreditam o crescimento desacelerará novamente ainda neste ano.

Shang Fulin, mais alta autoridade de regulação bancária chinesa, disse que o total de empréstimos não quitados concedidos a governos locais totalizavam 9.2 trilhões de yuans no fim de 2012, de acordo com relatórios divulgados ontem. No final de 2010 o montante devido era de 9,1 trilhões de yuans.

Durante esses dois anos, venceriam 41% das dívidas, segundo o Birô Nacional de Auditagem.

Além disso, na prática, Pequim bloqueou todos os novos empréstimos a governos locais.

A consequência é que a grande maioria do reembolso de empréstimos foi simplesmente prorrogada. Contabilizando os pagamentos de juros de 6% ao ano, os governos locais reembolsaram, no máximo, 1 trilhão de yuans.

O governo chinês propagandeou a estabilização do nível de endividamento dos governos locais como sendo um grande feito.

"O nível de endividamento público está sob controle e é seguro", disse o premiê Wen Jiabao, em fim de mandato, ao Parlamento, no ano passado, acrescentando que a maior parte da dívida é lastreada em "ativos de alta qualidade com fluxos de caixa estáveis e retornos promissores", e que seria gradualmente reembolsada.

Cidades e províncias tiveram de recorrer cada vez mais a instituições financeiras não bancárias para levantar crédito novo.

"À medida que as agências reguladoras tornaram-se mais cuidadosas, elas puderam transferir o risco para outras fontes de financiamento, como fundos fiduciários e títulos", disse Peng. "O risco não desapareceu. Simplesmente, foi espalhado."

A dívida pública oficial na China é extremamente baixa, inferior a 20% do Produto Interno Bruto (PIB). Mas Huang disse que Pequim poderá ter de pagar a conta da dívida contraída pelos governos locais, da ordem de 25% do PIB, pois foi quem, para início de conversa, orientou os governos locais a gastar o dinheiro.