Título: Apostas arriscadas miram uma maior rentabilidade
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2007, Finanças, p. C1

Países em desenvolvimento como o Brasil deixaram de representar um risco significativo para o sistema financeiro internacional ao aproveitar o ciclo de expansão da economia global para administrar suas políticas macroeconômicas de forma mais cuidadosa, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Mas, a procura por maiores rendimentos num ambiente de taxas de juros baixas e dinheiro sobrando nos mercados levou muitos investidores a fazer apostas arriscadas demais em lugares que até recentemente não despertavam tanto interesse assim, criando "bolsões de vulnerabilidade", na avaliação do Fundo.

O relatório do FMI aponta duas regiões como fontes de preocupação. No Leste Europeu, o Fundo identificou um número crescente de operações em que empresas de qualidade duvidosa conseguiram captar volumes significativos de capital. E o interesse dos investidores aumentou muito por papéis emitidos por países da África subsaariana, como Nigéria, Zâmbia e Gana.

O volume de negócios com papéis dessa região da África dobrou no ano passado, atingindo quase US$ 13 bilhões, segundo o relatório do Fundo. Para o FMI, é um movimento muito arriscado para os investidores, e que torna vulnerável um grupo de países que parece despreparado para lidar com mudanças súbitas no fluxo de capitais quando os investidores decidirem ir embora.

Como o relatório do Fundo deixa claro, não é o mesmo caso de países como o Brasil, que nos últimos anos aproveitaram as condições favoráveis da economia mundial para aumentar de forma expressiva as exportações, reduziram muito seu endividamento externo e acumularam um volume inédito de reservas.

Mas nenhum lugar parece suficientemente seguro num ambiente tão dominado por incertezas como o atual. O relatório do FMI menciona o Brasil como exemplo das dificuldades que os investidores podem encontrar para se desfazer de posições adquiridas em países emergentes quando uma súbita mudança de humor dos mercados torna esses investimentos menos rentáveis.

Atraídos por um incentivo fiscal criado no início do ano passado, investidores estrangeiros compraram US$ 52 bilhões em papéis emitidos pelo governo brasileiro no mercado doméstico no primeiro trimestre de 2006. Eles se interessaram especialmente por um tipo de bônus vinculado à inflação que se tornou bastante popular na época.

Logo em seguida, uma onda de nervosismo atingiu os mercados emergentes, provocando um aumento nas taxas de juros no Brasil e reduzindo a rentabilidade dos papéis que os investidores tinham acabado de comprar. Quando eles tentaram se desfazer dos bônus, ninguém queria comprá-los. Como mostra o relatório do FMI, a situação só se normalizou depois que o Tesouro aceitou recomprar os papéis e a turbulência no mercado internacional amainou.

(RB)

www.imf.org/external/pubs/ft/gfsr/ 2007/01/index.htm