Título: Refrigerante que imita água já é copiado pelos pequenos
Autor: D'Ambrosio, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2007, Empresas, p. B1

As pequenas empresas de refrigerantes foram rápidas e, até certo ponto, eficientes. Encontraram uma oportunidade de negócios valiosa no aumento de vendas e na visível falta do refrigerante H20H! das prateleiras. A Xereta lançou a H2X e a Refriso colocou no mercado a Cachoeira que, apesar do nome distinto, tem embalagem muito parecida.

No caso da Xereta, logotipo e embalagem são tão similares que tem muita gente comprando "gato por lebre." A AmBev, que produz e comercializa o produto da Pepsi, entrou na Justiça comum pedindo liminar que impedisse a venda da Cachoeira. O pedido foi negado e a cervejaria recorreu da decisão. Contra a Xereta, a AmBev ainda estuda que medidas irá tomar.

O H20H! revelou-se, em pouco tempo, um fenômeno de vendas. Na Grande São Paulo, já é a bebida "diet" mais vendida, desbancando a Coca Light e o Guaraná Antarctica. Mas o produto chegou no mercado debaixo de polêmicas. A Associação Brasileira de Água Mineral (Abinam) pediu ao Ministério da Agricultura e ao Ministério Público do Estado de São Paulo a retirada do produto do mercado e cancelamento do registro, alegando que a bebida confunde o consumidor ao adotar o símbolo da água para nomear um refrigerante. A decisão ainda não saiu.

Em janeiro, a H20H! atingiu market share no mercado de refrigerantes diet/light na Grande São Paulo de 27,6%, passando à frente da Coca-Cola Light (26,7%) e do próprio Guaraná Diet, da AmBev, dono de 13,4%. Uma análise das fatias das principais marcas desde setembro, quando foi lançado, mostra claramente que H20H! roubou mercado de Coca Light, que tinha 37,1% (perdeu mais de 10 pontos percentuais) e do Guaraná Diet (que recuou 7,6 pontos).

No Rio de Janeiro, onde a marca foi lançada em dezembro, a fatia da H20H! é de 11%. Incluídas as versões dos refrigerantes tradicionais, a participação de H20H! na Grande São Paulo cai para 3,7%, contra 39% da Coca-Cola e 7,5% do Guaraná. A briga deve esquentar com a chegada das versões "zero" - que prometem o sabor original, sem açúcar - no mercado de refrigerantes de baixas calorias.

A AmBev começou a produção na fábrica de Jaguariúna. Em janeiro, já havia expandido para quatro e, agora, já está produzindo o refrigerante em seis plantas. Além de São Paulo e Rio de Janeiro, o produto está começando a ser vendido em Porto Alegre e Belo Horizonte. Até o final do ano, o plano é que esteja nas principais capitais.

Um dos motivos alegados pela AmBev para a compra da Cintra foi a produção de refrigerantes. As duas fábricas da Cintra podem fabricar até 2,8 milhões de hectolitros/ano, e apenas 100 mil estavam sendo produzidos.

As fabricantes de refrigerantes que entraram nesse mercado não escondem que aproveitaram a janela de oportunidade deixada pela AmBev. "Eles criaram um conceito novo, de sucesso, e vimos uma chance de entrar nesse mercado", afirma Cid Gallo, diretor comercial da Xereta, que lançou o H2X há menos de um mês.

A Xereta aproveitou que o nome do produto da AmBev está sendo questionado pela Abinam para criar a sua cópia. "Mas se houver notificação, vamos acatar a Justiça", diz Gallo. Até lá, a companhia aproveita a distração dos consumidores para alavancar suas vendas. "Está sendo uma surpresa muito boa", afirma, sem revelar volumes.

Com o refrigerante Cachoeira há mais tempo no mercado - desde janeiro - a Refriso, dona da marca Bacana, já está ampliando a distribuição. Começou no Estado de São Paulo, está indo para o Rio de Janeiro e pretende expandir em breve para o Paraná, Bahia e Recife. Segundo Fábio Pleins, diretor comercial, a empresa já fechou contrato com Wal-Mart e o atacadista Makro.

O próximo passo será o lançamento da versão em lata de 350 mililitros - por enquanto o produto é engarrafado em PET de 350 ml, 650 ml e 2 litros. O diretor da Refriso diz que seu produto é diferente do da Pepsi. "O sabor é outro."

Todos os produtos são à base de limão, na versão diet e com menos gás que os refrigerantes convencionais, mas nem por isso podem ser chamados de água. A H20H!, por exemplo, tem 50% menos gás. "É uma categoria nova de produto", afirma Alexandre Loures, gerente de comunicação da AmBev.

Nos Estados Unidos a H2OH! é classificada como água saborizada. No Brasil, as águas com sabor - como a Aquarius, da Coca-Cola - são chamadas de preparado líquido aromatizado. A Nielsen começou a auditar esse mercado em outubro.