Título: Para continuar a crescer, Google corteja o usuário
Autor: Rosa, João Luiz
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2007, Empresas, p. B3

No início do mês, a revista americana "BusinessWeek" estampou uma pergunta em sua capa: "O Google é poderoso demais?" A pergunta faz sentido. Em meia década, o Google tornou-se o mais usado serviço de busca da internet e a porta de entrada na rede para milhões de usuários em todo o mundo. Mensalmente, 380 milhões de pessoas usam o serviço, que responde por mais de 50% de todas as buscas na web. O valor de mercado da companhia, de US$ 107,3 bilhões, também impressiona, assim como sua popularidade. Em "Scoop", o mais recente filme de Woody Allen, o personagem de Scarlett Johansson usa o neologismo "googlar" enquanto procura um possível assassino em séria na internet.

Os imbróglios legais da empresa - e eles são muitos - reforçam as desconfianças sobre seu poderio. Nos Estados Unidos, a companhia está sendo processada pela Viacom, a dona da MTV, por causa dos direitos autorais de vídeos exibidos no site YouTube, que pertence ao Google. Grandes editoras fazem o mesmo para tentar impedir a digitalização das coleções de grandes bibliotecas públicas pela companhia. Mesmo no Brasil, a imagem da empresa sofreu abalos depois que promotores passaram a investigar casos de pedofilia e outros crimes no site de relacionamento Orkut, outra de suas marcas principais, sob os protestos de que a companhia não estava cooperando para descobrir os culpados.

Com tantos pontos de tensão, Eric Schmidt, o executivo-chefe e presidente do conselho do Google, parece um contraponto ao que os críticos da empresa tratam como sinais inequívocos da arrogância da companhia. Pela primeira vez no Brasil, ele pede desculpas pelo atraso de 10 minutos - "estava fazendo fotos", comenta, afável e bem-humorado - e reconhece que a empresa comete erros. "Mas quando erramos, corrigimos isso rapidamente", diz. "Na semana passada, um parceiro na China ficou insatisfeito e nós imediatamente pedimos desculpas."

Um veterano da indústria de tecnologia da informação, com passagens pela Novell e pela Sun Microsystems, Schmidt diz que o público do Google não o acha poderoso demais e que, para a companhia, é isso o que importa. "Nós respeitamos os usuários e os tratamos bem", afirma.

Manter o consumidor satisfeito é uma necessidade de toda empresa, mas no caso do Google o desafio é atender aos milhões de pessoas que fizeram o sucesso da empresa e sempre esperam por novidades, ainda mais em um mercado disputado por outras gigantes, como o Yahoo e a Microsoft.

Nos últimos cinco anos - todos sob a condução de Schmidt, que entrou no Google em março de 2001 -, a receita saltou de US$ 439 milhões para US$ 10,6 bilhões, um salto de 2.300%. O lucro líquido também fez bonito: aumentou de US$ 99,6 milhões para US$ 3,077 bilhões. À medida que a empresa ganha músculos, porém, a taxa de crescimento desacelera. No ano passado, ela foi de 73% em relação a 2005, um desempenho forte, mas distante dos 409% de 2002.

Schmidt ajudou a transformar uma empresa de garagem em dos um dos maiores ícones da web. Agora, seu desafio é não perder a agilidade de outrora. Sob essa diretriz, ele está explorando vários caminhos diferentes. Um deles é o Google Apps, um serviço que oferece processador de texto e planilha eletrônica - duas fortalezas da Microsoft -, de graça e via web. "Esse pode se tornar um grande negócio para nós", afirma. Uma chance importante, diz o executivo, está na oferta do serviço em versões pagas para empresas.

O Google Apps e suas variantes podem ganhar um papel estratégico porque representam uma alternativa à receita principal do Google - a publicidade on-line, que hoje soma 97% das vendas totais. Mas mesmo nos anúncios, há campos novos a explorar. É o caso dos anúncios ligados às transmissões digitais de rádio e vídeo.

Outro ponto importante para o Google é o mercado de telefonia celular. Há algum tempo correm boatos sobre a oferta de um Google Phone. Schmidt reconhece que o mercado de telefonia móvel é maior que o de internet, mas se diverte com as especulações. No momento, ele diz, não há nenhum anúncio a fazer sobre um telefone do Google. No futuro, quem sabe? "Pode ser que sim, pode ser que não", responde com um sorriso, escondendo o jogo.