Título: CNPC quer ação do governo contra as falhas do Sisbov
Autor: Rocha, Alda do Amaral
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2007, Agronegócios, p. B15

Num encontro ontem com jornalistas para apresentar o Congresso Internacional da Carne, que acontece este mês, o presidente do Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC), Sebastião Costa Guedes, poupou poucos da responsabilidade sobre o ressurgimento da aftosa no país em outubro de 2005. E disse que só a implantação de uma zona de exclusão na região de fronteira entre Mato Grosso do Sul e Paraguai fará a União Européia retomar as compras de carne bovina de São Paulo, proibidas desde que a aftosa ressurgiu, em outubro de 2005, no Mato Grosso do Sul e no Paraná.

Para Guedes, ainda deve levar mais 18 meses para que o Mato Grosso do Sul recupere o status de livre de aftosa com vacinação perante a Organização Internacional de Saúde Animal (OIE). Ele avalia que antes será necessário implementar a zona de exclusão num raio de 15 quilômetros da fronteira entre o Estado e o Paraguai. A região é considerada uma das mais problemáticas no que tange o controle sanitário do gado bovino.

"O que aconteceu [ressurgimento da aftosa] no Mato Grosso do Sul é um exemplo de desmazelo da administração anterior", disse. Na região onde surgiram os focos, há assentamentos de sem-terra e áreas indígenas, segundo ele.

A zona de exclusão, proposta de Vincenzo Caporale, presidente do comitê científico da OIE, prevê a proibição do trânsito de animais vivos e a saída apenas de carne desossada que pode ser consumida apenas no mercado doméstico. "Esse é um laxativo que temos de tomar para limpar uma situação e daí cuidar da saúde do rebanho", comparou. A implantação da zona de exclusão deve ser definida dentro de um cronograma do governo, segundo Guedes.

O presidente do CNPC também disse que a União Européia só habilitará novas áreas no Brasil para compra de carne bovina - ou retomará a importação de regiões hoje suspensas - se a rastreabilidade do gado ocorrer de fato. "A UE quer que a rastreabilidade ocorra na prática e não só no papel", disparou. Segundo ele, "infelizmente" no Brasil, durante muito tempo, o pecuarista "fingia que rastreava", e frigoríficos e governo informavam à UE que a rastreabilidade ocorria. Essa situação contou com a "tolerância da UE durante anos".

Guedes criticou a atuação de certificadoras no programa de rastreabilidade nacional, o Sisbov. Sem dar nomes aos bois, o presidente do CNPC disse que o governo deveria "prender dois ou três", "descredenciar" certificadoras que atuam de forma incorreta.

Na opinião de Guedes, o futuro reconhecimento de Santa Catarina como área livre de aftosa sem vacinação perante a OIE vai estimular outros Estados a buscarem a mesma condição. Ele alertou ainda para as novas barreiras, relacionadas ao bem-estar animal, que a Europa deve tentar impor ao Brasil. "Justo a Europa, onde os animais [confinados], no andar de cima, defecam nos de baixo". Além disso, afirmou, no Brasil há uso "mínimo de insumos químicos" na pecuária.