Título: KPC faz mais três vítimas no DF
Autor: Mader, Helena
Fonte: Correio Braziliense, 09/12/2010, Cidades, p. 37

Apesar das novas regras para restringir a venda de antibióticos, balanço do governo revela que surto ainda não foi controlado. Número de mortes causadas pela superbactéria sobe para 25 e total de infectados desde janeiro chega a 319

A superbactéria Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) segue fazendo vítimas nos hospitais do Distrito Federal. A Secretaria de Saúde confirmou mais três mortes em decorrência da infecção, além da contaminação de outras 73 pessoas internadas nas últimas duas semanas. Desde 6 de outubro, o número de pacientes que não resistiram aos tratamentos subiu 66%: o número de mortes saltou de 15 para 25. Já os casos de contaminação, totalizam 319 em 2010.

Entre os pacientes internados em unidades de terapia intensiva (UTI), a infecção pelo micro-organismo resistente também avançou. São 32 casos a mais do que o total registrado em 19 de novembro, passando de 198 para 230 infectados. De 29 de novembro a 3 de dezembro, 57 pessoas foram observadas nos hospitais, sendo que 12 apresentavam infecção.

Chefe da Gerência de Investigação e Prevenção à Infecção e Eventos Adversos em Serviços de Saúde (Gepeas), Eulina Menezes Ramos alega que o aumento nos casos de contaminações nas últimas semanas não se refere a um crescimento repentino dos infectados. ¿Ficamos um período sem fazer exames devido à falta de material. Nesse meio tempo, foram acumulados alguns casos. O fato de os estarmos identificando agora não significa que as infecções ocorreram nesse período¿, explica.

A prevenção de novos casos de KPC, no entanto, segue em 23 hospitais: 10 da rede pública e 13 da privada. ¿Todas as unidades de saúde estão tomando as precauções. A tendência é que novas incidências de KPC comecem a diminuir. Porém, alguns hospitais levam até um ano e meio para combater o surto. Os hospitais particulares investiram em precauções, mas o controle é o tempo que vai dizer. Não dá para prever uma data. Temos que esperar¿, disse Eulina Ramos.

Esterilização A proliferação do micro-organismo nos centros médicos aumenta quando os profissionais da Saúde abandonam hábitos simples, como a lavagem rigorosa das mãos entre um atendimento e outro. Levantamento preliminar da Gepeas realizado com servidores do Hospital Regional da Asa Sul (Hras) ¿ instituição considerada referência em maternidade no Distrito Federal ¿ aponta um baixo índice de higienização por parte dos funcionários: apenas 32% seguem o protocolo de higienizar as mãos entre os procedimentos que realizam ao longo do dia.

As vítimas do descaso dos servidores, que além de descumprirem regras básicas, muitas vezes descuidam da esterilização dos materiais hospitalares, acabam sendo os pacientes com imunidade baixa, que têm mais propensão ao contágio pela KPC. Além do surto da superbactéria registrada inicialmente em outubro, a Secretaria de Saúde contabilizou a morte de 11 recém-nascidos em um período de 40 dias no Hras. Todos os bebês foram vítimas de infecções causadas por três tipos de bactérias: Serratia, Stafilococos e klebsiella. Segundo a direção da unidade, as contaminações aconteceram por meio de instrumentos utilizados em mais de uma criança sem a devida esterilização ou por meio das mãos dos profissionais de saúde.

MUTAÇÃO GENÉTICA A Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) é uma bactéria resistente a 95% dos antibióticos existentes no mercado farmacêutico. Ela surgiu a partir de mutações genéticas em micro-organismos que desenvolveram resistência aos antibióticos. A identificação de casos é feito por meio da análise de material do sistema digestivo. Para tratar os pacientes infectados, há poucos medicamentos disponíveis. O principal deles é a polimixina.

Fique atento

» A prescrição de antibióticos deve ser feita em duas vias simples: uma será retida pela farmácia e outra será carimbada e ficará com o paciente

» Os dados de quem compra ficarão registrados no estabelecimento

» O receituário terá validade de 10 dias. Se o medicamento não for comprado nesse prazo, o paciente terá que voltar ao médico e pedir uma nova receita

FECHADA PARA INVENTÁRIO ANUAL A distribuição de medicamentos da Farmácia de Alto Custo da Secretaria de Saúde ¿ localizada na Estação do Metrô da 102 Sul ¿ ficará suspensa por dois dias da semana que vem para realização do inventário anual obrigatório para os cálculos finais das contas de 2010. Nas terça e na quarta-feira próximas, a Gerência de Medicamentos Excepcionais trabalhará internamente sem atender o público externo. O registro de pacientes também será paralisado. Na quinta-feira, a distribuição de remédios volta ao normal, das 8h às 18h.

Rigor nas farmácias

O surto de infecção causado pela superbactéria Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) forçou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária a adotar medidas mais duras contra a compra indiscriminada de antibióticos. O uso desregrado desse tipo medicamento pode aumentar a resistência das bactérias. A restrição ao acesso é uma tentativa de dificultar o hábito da automedicação.

As determinações do Ministério da Saúde ¿ em vigor há nove dias ¿ proíbem as farmácias de vender os remédios sem a apresentação e a retenção de uma segunda via da receita médica. Nesse caso, o documento emitido pelo médico não precisa necessariamente ser a receita azul, utilizada para a compra de medicamentos controlados, de tarja-preta.

No caso dos antibióticos, os pacientes conseguem adquirir o remédio portando uma receita simples, com cópia carbonada, ou seja, os farmacêuticos podem aceitar o documento comum emitido nos consultórios, desde que seguido de uma segunda via.

As normas da Resolução nº 44/2010, da Anvisa, publicada no Diário Oficial da União em 28 de outubro, estipulam também que os dados do paciente e de quem compra o produto fiquem recolhidos no estabelecimento. Os dados do antibiótico vendido também devem ser registrados no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC) ou anotados em um livro exclusivo para esse cadastro. O procedimento é o mesmo adotado para remédios antidepressivos.

O prazo de validade da receita acabou reduzido de 30 para 10 dias. Caso o paciente não consiga comprar dentro do período, deve voltar ao consultório para obter nova receita. As indústrias farmacêuticas ainda têm um prazo de 180 dias para alterar a embalagem dos produtos. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que mais de 50% das prescrições de antibióticos no mundo são inadequadas. Só no Brasil, o comércio de antibióticos movimentou, em 2009, cerca de R$ 1,6 bilhão, segundo relatório do instituto IMS Health. (NT)