Título: Disputa por liderança preocupa Renan
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 29/01/2013, Política, p. A6

Eunício: "Tenho convicção de que todos [entendimentos] serão honrados"

O impasse em torno da escolha do líder do PMDB no Senado, disputada por Romero Jucá (RR) e Eunício Oliveira (CE), está causando a Renan Calheiros (AL) mais problemas que a denúncia apresentada contra ele ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel.

Para evitar crise na bancada, que poderia contaminar sua indicação para suceder José Sarney (AP) na presidência do Senado, Renan tem que pacificar os aliados até quinta-feira, quando a bancada deve confirmar sua escolha para presidir a Casa.

A solução, segundo um aliado de Renan, deverá ser mesmo deixar a liderança da bancada com Eunício e a do Bloco da Maioria (que reúne PMDB, PP e PV) com Jucá. Hoje, Renan acumula as duas funções. Ao Valor, Jucá disse que só abre mão de disputar "no voto" o comando da bancada, se lhe couber a liderança da Maioria.

Essa alternativa enfrenta resistências. Interlocutores de Eunício afirmam que o líder da Maioria é escolhido pelos líderes dos partidos que formam esse bloco parlamentar. E que a partir do dia 4 de fevereiro, quando começa a sessão legislativa, os partidos ainda discutirão manter ou não esse bloco.

Para pemedebistas, se houver disputa entre Eunício e Jucá na bancada, o caminho estará aberto para que alguém concorra com Renan à indicação para a presidência. Parte do comando do PMDB começou a discutir ontem a hipótese de lançar outro candidato à sucessão de Sarney. Os nomes cogitados foram os de Luiz Henrique (SC) e Waldemir Moka (MS), hoje segundo vice-presidente da Casa.

A denúncia feita por Gurgel ao STF na sexta-feira - relativa à suspeita de uso de notas frias para comprovar patrimônio, em investigação da Polícia Federal de 2007 - transformará Renan em réu em processo criminal, se acatada pelo tribunal. É um fato novo que complica a situação dele, mas considerado insuficiente para ameaçar a eleição. Aliados de Renan já calculam até o placar: 58 votos a seu favor.

Os chamados "dissidentes", contrários a Renan, acham que a denúncia de Gurgel lhes dá um argumento consistente. "Se já havia complicações, elas aumentaram. É uma dose cavalar", afirma Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Amanhã, ele se reúne com os dois senadores que se lançaram para concorrer com Renan, Pedro Taques (PDT-MT) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), e outros do grupo, como Pedro Simon (PMDB-RS) e Cristovam Buarque (PDT-DF). Podem lançar apenas Taques, que agrega mais apoios, ou tentar restabelecer uma candidatura do PMDB.

O PSB (quatro senadores - um deles, João Capiberibe (AP), integrante dos dissidentes) vai buscar uma decisão conjunta da bancada. A líder, Lídice da Mata (BA), avalia que a situação de Renan "se agravou" com a denúncia de Gurgel, embora considere o gesto do procurador, a poucos dias da eleição do Senado, político. "Mas o fato de ser político não anula a existência de denúncia formal contra Renan", diz Lídice.

Na bancada do PT (a segunda maior, com 12 senadores), a denúncia de Gurgel não alterou a decisão de apoiar Renan, até porque há compromisso da presidente Dilma Rousseff com a cúpula pemedebista. Petistas sabem que vão pagar um preço pelo desgaste da eleição de Renan, mas jogam a responsabilidade para o PMDB. Senadores de vários partidos, que preferem não falar sobre o assunto abertamente, admitem "incômodo" e "desconforto", mas dizem que, como não tem adversários, ele só não será o próximo presidente se desistir.

Para ser escolhido sem racha na bancada, Renan tem que decidir o problema da liderança. Eunício diz ter havido acordo para a escolha de Renan sucessor de Sarney e dele, líder da bancada. "Sei os entendimentos que foram feitos e tenho convicção de que todos serão honrados", afirmou. A reunião da bancada está marcada para o dia 31, mas ontem havia pressão por antecipação.

Hoje, será o primeiro encontro público dos senadores após o recesso. O presidente do Senado oferece almoço em sua residência oficial em homenagem ao presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), e convidou os senadores.

A eleição do novo presidente da Casa será na sexta, dia 1º. Pela regra da proporcionalidade partidária, prevista no regimento do Senado, cabe ao partido com a maior bancada - no caso, o PMDB, com 20 senadores- indicar o ocupante do cargo. O nome escolhido tem de se submeter a eleição do plenário. A votação é secreta e, para vitória em primeiro turno, são necessários, no mínimo, 41 votos (maioria simples) a favor do candidato.

A primeira opção do grupo de dissidente seria a escolha de um integrante do PMDB para disputar com Renan, em respeito à proporcionalidade. Foram cotados Luiz Henrique, Jarbas, Simon e Ricardo Ferraço (ES). O mais forte seria Luiz Henrique, que já presidiu a legenda e tem boa relação com o Planalto.

Mas, sem apoio de Dilma, negou-se a disputar com Renan. Ele já decidira votar no líder, por ser "homem de partido". Nos últimos dias, voltou a receber pressão para entrar na disputa. Mas o catarinense está doente - pegou um vírus em viagem oficial ao Haiti e a Cuba, que lhe provocou uma úlcera no globo ocular - e só retorna após o Carnaval.