Título: Mercado busca profissionais com um perfil mais sofisticado
Autor: Boarini, Margareth
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2007, Brasil, p. A2

Embora o setor de seguros no Brasil não seja uma atividade nova - chegou com a abertura dos portos e teve sua primeira seguradora de bens inaugurada por volta de 1870, foi apenas há uma década que os profissionais da área viram-se obrigados a deixar de aprender o ofício exclusivamente dentro de casa. A internacionalização do mercado, o acirramento da concorrência, a estabilização da moeda e as exigências dos órgãos reguladores tornaram obrigatória a busca pelo aperfeiçoamento da gestão, da técnica de precificação e até do domínio do idioma inglês.

"A indústria de seguros vive uma fase de mudança no perfil do profissional. Ela, que sempre teve uma técnica muito boa, carece de gestores com formação específica, foco em clientes e segmentação de mercado, por exemplo" avalia Jorge Maluf, sócio-líder da prática de serviços financeiros da Korn/Ferry International.

O consultor acredita que a demanda maior seja pela sofisticação do profissional, que apresente capacidade, por exemplo, de interagir em inglês com áreas de subscrição de riscos de empresas internacionais, de negociar e estruturar contratos, de precificar adequadamente. "A sofisticação começa a trazer para o mercado executivos mais seniores", diz.

Na opinião de Roberto Picino, gerente da divisão de "insurance", da Michael Page, por conta deste gap existente hoje, o setor de seguros oferece uma série de oportunidades para os profissionais. "É um mercado conservador, até refratário a quebras de paradigmas na área da gestão, mas acredito que o próprio profissional deve passar a olhar mais para a sua própria carreira e buscar aprimorá-la. Também acredito que as instituições educacionais também poderiam criar mais opções de cursos voltados exclusivamente para este setor para atender esta nova necessidade", diz Picino. Apesar de ser uma área que registra um bom crescimento anual, ela carece de atenção na esfera da educação, avalia o consultor.

Alexandra Attílio Munhoz Gomes, técnica de seguros no Itaú Seguros, cuida da gestão dos centros de atendimento rápido, com foco no produto automóvel. Entrou na área há 13 anos, quando era assistente em uma corretora pequena.

Formada em psicologia, com pós-graduação em gestão de recursos humanos, Alexandra sentiu necessidade de ampliar conhecimentos em outras áreas do setor e por este motivo decidiu fazer um curso específico na FIA-USP. "Considero fundamental ir atrás de informações novas, de visões mais generalistas, para aprofundar o conhecimento no negócio e não apenas no produto", atesta a executiva. Assim que terminar o curso neste ano, ela pretende intensificar as aulas de inglês para ganhar maior fluência no idioma. Para Picino, da Michael Page, falta muito pouco para ser imperativo saber comunicar-se corretamente em inglês para atuar no setor. "A quebra do monopólio do IRB e cada vez mais a chegada de players internacionais forçarão nossos executivos da área a se tornarem bilíngües", acredita.

Atenta a esta mudança no perfil do profissional de seguro, a FIA-USP dispõe do MBA Banking, que contempla seguro como um dos principais temas. Existem duas modalidades de cursos, um de curta duração focado em custos de seguro e outro de duração maior com status de especialização, que aborda produtos financeiros, gestão de riscos e certificações. "Com a exigência da certificação do profissional, buscamos oferecer mais opções", afirma Roy Martelanc, diretor educacional.

"Não dá mais para se contentar em aprender a trabalhar com seguro exclusivamente dentro de casa. É preciso investir na capacitação, uma vez que o mercado se desenvolveu e hoje quer seguir padrões internacionais", reforça Carlos Eduardo Mori Luporini, vice-coordenador do curso de aperfeiçoamento gerencial em seguros e previdência da FIA-USP. Segundo ele, atualização e aperfeiçoamento são as qualidades básicas exigidas pelo mercado atualmente.

"É uma área praticamente equilibrada, tanto para homens como para mulheres, na faixa dos 30 e 40 anos, mas vale ressaltar que profissionais mais velhos, atualizados e reciclados também encontram boas oportunidades de trabalho. O importante é ter acompanhado e se preparado para a evolução e complexidade que o mercado passou a ter", define Luporini. A evolução a que se refere contempla conhecimentos em contrato de seguro, investimento, acompanhamento e contabilidade.

Na avaliação de Picino, da Michael Page, é relativamente recente a procura por profissionais com formação em engenharia. "Como a precificação é uma área que exige extrema sofisticação quanto a avaliação de riscos, muitas empresas procuram executivos dessa área", diz. Além de engenheiros, administradores, economistas e até médicos também vêm encontrando oportunidades. Segundo os consultores, em alguns casos torna-se mais eficaz trazer para dentro da empresa um profissional com conhecimentos específicos que possam ajudar a empresa no desenvolvimento de novos negócios e dar a ele o treinamento técnico da área de seguros.

A trajetória da executiva Patrícia Freitas ilustra bem essa tendência no fluxo de executivos dentro e ao redor do mercado de seguros. Formada em informática, com MBA em administração e negócios, ela ganhou experiência no setor de seguros por ter trabalhado em bancos e em seguradoras de bancos. O conhecimento adquirido nessa fase, ajudou a executiva a ser alçada ao cargo de diretora da área de serviços financeiros da Unisys Brasil, empresa voltada para serviços e soluções na área de TI, que pretende intensificar sua presença no mercado de finanças e seguros do país.

"Não sou especializada em seguros, mas sou capaz de entender o setor e de conversar sobre suaas tendências", explica a executiva, que comanda diretamente uma equipe de oito pessoas, das quais uma delas é um diretor de projetos com foco maior neste setor.