Título: Obama e Senado dos EUA iniciam reforma da imigração no país
Autor: Fifield, Ana
Fonte: Valor Econômico, 29/01/2012, Internacional, p. A9

O presidente Barack Obama inicia hoje seu esforço para reformar o sistema de imigração dos EUA, defendendo reformas abrangentes que permitam aos 11 milhões de imigrantes ilegais no país solicitar o status de cidadão americano.

O discurso de Obama, em Las Vegas, acontecerá um dia após um grupo bipartidário de oito senadores ter anunciado um plano para criar "um caminho árduo, mas justo, à cidadania", colocando a questão extremamente emotiva no topo da agenda legislativa deste ano.

"Toda essa combinação é extremamente importante", disse Ben Johnson, diretor-executivo do Conselho de Imigração Americano e forte defensor da reforma. "Temos um grupo bipartidário que está apresentando um conjunto definido de princípios e temos o presidente assumindo um papel de liderança. O desafio será transformar isso em lei, mas ainda não podemos nos sentir confiantes neste momento", disse Johnson.

Obama defenderá hoje uma segurança mais rigorosa nas fronteiras e medidas contra empregadores que contratam trabalhadores em situação irregular, ao mesmo tempo em que propõe criar um caminho para a "conquista" de cidadania para imigrantes ilegais. Em sua campanha à reeleição, Obama prometeu pressionar por uma reforma completa da imigração e há um novo impulso para que os republicanos apoiem uma revisão.

Os hispânicos constituem o segmento que mais cresce no eleitorado americano e distanciaram-se em massa dos republicanos, no ano passado, quando candidatos do partido defenderam dura repressão aos imigrantes ilegais.

O crescente consenso bipartidário em torno de uma reforma da imigração prenuncia a melhor oportunidade para mudanças desde a apresentação de um plano apoiado por George W. Bush, o ex-presidente republicano, que foi recusado pelo Senado em 2007.

Nos termos do plano anunciado ontem, o bipartidário "grupo dos oito" senadores disse que o sistema de imigração está "quebrado".

"Nossa projeto de lei reconhece essa realidade ao finalmente comprometer os recursos necessários para proteger a fronteira, modernizar e racionalizar nosso sistema de imigração legal, mediante a criação de um programa de legalização de difícil cumprimento, porém justo, para as pessoas que já estão aqui", escreveram os senadores. O grupo é composto pelos democratas Chuck Schumer, Dick Durbin, Bob Menendez e Michael Bennet e os republicanos John McCain, Lindsey Graham, Marco Rubio e Jeff Flake.

O plano prevê a criação de uma via para obtenção da cidadania para os imigrantes ilegais, obrigando-os a pagar multa e impostos retroativos e ser aprovados num teste de inglês e na verificação de antecedentes criminais. Depois disso, eles entrariam no fim da fila para obtenção do "green card".

Prevê-se um processo separado para os "dreamers" (sonhadores) - pessoas trazidas aos EUA ainda crianças e que hoje estão em universidades ou servindo nas Forças Armadas - e para trabalhadores agrícolas, em reconhecimento pelo difícil trabalho que desempenham no sentido de assegurar a segurança alimentar americana.

A proposta também busca dificultar fluxos futuros de imigração mediante o estabelecimento de um sistema de verificação de emprego, para assegurar que empregadores não contratem trabalhadores sem documentação, e concede "green cards" a pessoas pós-graduadas em universidades americanas nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia ou matemática.

O plano prevê ainda medidas de segurança mais duras na fronteira, demanda básica dos republicanos.

Os senadores esperam converter sua proposta em projeto de lei no prazo de cinco semanas. Uma vez que a proposta deverá sofrer oposição mais intensa na Câmara dos Deputados, controlada pelos republicanos, eles estão torcendo para que um forte apoio no Senado ajude a fazer com que o projeto de lei seja aprovado na Câmara com o apoio dos democratas.

A Casa Branca afirmou ontem que o presidente está "satisfeito com o progresso conseguido com o apoio bipartidário". Muitos hispânicos ficaram decepcionados com o fato de Obama não ter agido no primeiro mandato conforme sua promessa de pressionar por uma reforma abrangente da imigração, mas sua imagem parece favorável, em comparação com a de seus rivais republicanos.

O candidato republicano à Presidência em 2012, Mitt Romney, prometeu tornar as condições tão ruins para os imigrantes ilegais que eles se "autodeportariam", o que ajudou Obama a obter uma vantagem de 44 pontos percentuais entre hispânicos na eleição de novembro.

Dados divulgados pela empresa de pesquisas Latino Decisions na semana passada mostraram que 74% dos eleitores hispânicos entrevistados disseram que Romney não se importava com a comunidade latina ou demonstrou ser ativamente hostil em relação a eles.

As implicações de tais sentimentos fizeram "cair a ficha" dos republicanos. Se a mesma proporção de latinos que votou em Bush em 2004 tivesse votado em Romney, o candidato republicano teria vencido a eleição de novembro.