Título: Tendências por apaziguar
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 14/12/2010, Política, p. 2

TRANSIÇÃO Para Dilma, não basta definir o quinhão petista, mas garantir que todas as correntes da legenda sejam contempladas

Com quase 20 ministérios sob o seu comando, o PT ainda não conseguiu fechar completamente a sua configuração no futuro governo de Dilma Rousseff. Isso porque ainda falta contemplar um grupamento dos que compõem hoje o PT: a Democracia Socialista (DS), que perdeu o Desenvolvimento Agrário depois de oito anos dominando a pasta. Isso sem contar a distribuição estadual, que não agrada nem mesmo à tendência majoritária do partido ¿ a Construindo um Novo Brasil (CNB). A indicação da professora Heloísa Starling para o Ministério da Cultura é um exemplo desse descontentamento. ¿Enquanto mineira, é bom, mas não como compensação a um grupo político. Preferimos alguém que possa interagir com a bancada. Ela não tem esse perfil e não nos representa, embora seja uma pessoa do mais alto valor¿, afirma o deputado Odair Cunha (PT-MG).

Odair integra o CNB, que terá metade dos ministérios petistas do governo Dilma, sem contar a pasta da Cultura (veja quadro). O problema, no entanto, é a representação estadual, uma vez que Fernando Pimentel (MG), convidado para o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, é considerado da ala dos ¿independentes¿. Logo, o CNB mineiro se sente órfão no futuro governo.

A segunda maior tendência petista, a Mensagem ao Partido, não tem do que reclamar. Levou o Ministério da Justiça, onde está José Eduardo Cardozo, já anunciado oficialmente. E aguarda a confirmação de Fernando Haddad na Educação. A terceira maior força do partido, o Movimento PT, tem por enquanto uma vaga, a Secretaria de Direitos Humanos, entregue à deputada Maria do Rosário (PT-RS). A Articulação de Esquerda, que perdeu a pesca para o CNB, ganhou a Secretaria Especial de Política para as Mulheres, com o nome de Iriny Lopes (ES). Falta a Democracia Socialista, que hoje está dentro do CNB, mas ainda não se sente contemplada.

Os problemas de atendimento às tendências petistas, além de obrigar a presidente eleita, Dilma Rousseff, a fazer uma ginástica, estão atrasando a indicação do candidato a presidente da Câmara. Ontem à noite, o CNB, que tem 48 deputados dos 88 da bancada do ano que vem, faria reunião para tentar fechar o nome da sua preferência entre seus dois pré-candidatos ¿ o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza, e o atual vice-presidente da Casa, Marco Maia (RS). Vaccarezza tem hoje a maioria do CNB, mas não tem maioria segura dentro das demais tendências. O Movimento PT, com 11 deputados, tem candidato próprio: Arlindo Chinaglia (SP). A Mensagem ao Partido ainda não decidiu o que fazer.

Balança A Mensagem, como os petistas chamam o grupamento do futuro ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, será o fiel da balança para a escolha do candidato da agremiação à Presidência da Câmara. Essa ala reúne entre 23 e 25 deputados. E os petistas já concluíram que ninguém ganhará a Presidência sem o seu apoio. É a Mensagem que indicará o líder da bancada no ano que vem.

Sem um acordo no horizonte próximo, o PT espera que Dilma ajude o partido levando para o Ministério de Relações Institucionais um dos pré-candidatos. Embora Ciro Gomes estivesse interessado em ser ministro da Saúde (leia mais na página 4), o cargo está mais para Alexandre Padilha, atual ministro de Relações Institucionais, que tem vários apoios no setor e trânsito entre os partidos na Câmara. Seria mais um ministro do CNB, mas com uma vantagem: convive bem com todas as tendências, coisa rara.