Título: Lula frustra expectativas do PT sobre o ministério
Autor: Lyra, Paulo de Tarso e Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2007, Política, p. A7

O PT saiu desapontado ontem da reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, marcada para tratar da reforma ministerial. Aos petistas, o presidente avisou que começará a fazer as alterações nessa semana, mas não as encerrará. Disse que continuará conversando com os partidos. A aposta de alguns integrantes do PT é de que, até sexta, serão confirmadas as trocas já previstas, como a saída de Márcio Thomaz Bastos da Justiça e a provável indicação de Tarso Genro para o cargo.

Outras mudanças permanecem em suspenso. Lula confirmou que tem dúvidas quanto à entrada do PDT na Esplanada, após o apoio da legenda à instalação da CPI do Apagão Aéreo. Os pedetistas sonham em indicar Carlos Luppi para o Ministério da Previdência. A entrada ou não da ex-prefeita Marta Suplicy no governo também continua sendo uma incógnita. Bem como o tamanho do espaço da legenda neste segundo mandato presidencial.

Lula não deu pistas sobre o que reserva para o PT. "Saímos como chegamos", disse o líder do PT na Câmara, Luiz Sérgio (RJ), ao deixar o encontro. Uma hora antes, perguntada se o partido pretendia deixar a reunião ciente das pastas que ocuparia, a deputada Maria do Rosário (PT-RS) confirmou. "A expectativa é essa."

Lula conduziu o encontro de modo a não dar abertura à apresentação de nomes para ocupar cargos. "Se alguém queria apresentar uma lista, ficou inibido", disse Luiz Sérgio. Um petista afirmou que a legenda já fez o que tinha que fazer. "Já apresentamos dicas para a governabilidade. Fizemos sugestões, trouxemos nomes. Agora, cabe ao presidente Lula tomar uma decisão", declarou.

Antes causador de problemas e fonte de grande fogo amigo dentro do governo, o PT deixou a reunião sem dar declarações. Depois da Comissão Executiva do partido reunir-se durante toda a manhã, preparando o encontro que teria com Lula no fim da tarde, o presidente da legenda, Ricardo Berzoini (SP) optou por não conversar com jornalistas. Segundo participantes do encontro, Berzoini só falaria se Lula tivesse dado sinais claros de que a reforma está completamente delineada. "Como não está, não fazia sentido Berzoini falar algo", disse um dos participantes do encontro.

Apenas o líder Luiz Sérgio falou e procurou não melindrar Lula. Chegou a afirmar que Marta não é questão de honra para os petistas. "O PT deixou o presidente à vontade para fazer a reforma que ele quiser, com ou sem Marta", disse. Luiz Sérgio foi além. Disse que o PT ocupa o maior cargo do governo, a Presidência, e até aceitaria uma possível redução do espaço. "Se o presidente achar conveniente que tenhamos de perder espaço, nós vamos compreender e apoiar incondicionalmente a decisão dele", disse o líder.

O resultado da reunião demonstra, mais uma vez, a resistência de Lula em bater o martelo sobre as indicações petistas. Em fevereiro, ao participar de encontro nacional do PT, Lula disse que o partido dava "tiros no pé" e cobrou apoio ao governo. Há uma semana, ao encontrar o presidente do partido, Ricardo Berzoini, deu tratamento pouco afetivo ao colega de partido. E recusou-se e falar do lugar a ser ocupado por Marta.