Título: Fator Ciro definirá a projeção do PSB
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 14/12/2010, Política, p. 4

TRANSIÇÃO Deputado e Dilma se reunirão para traçar o papel do parlamentar e do partido dele no governo

O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) é esperado amanhã em Brasília para uma conversa com a presidente eleita, Dilma Rousseff. Os dois trocaram ideias por telefone e Ciro demonstrou interesse em participar do futuro governo. Falta definir que lugar caberá ao deputado. A primeira pedida é a Integração Nacional, onde Ciro, no início do governo Lula, desenhou o projeto de transposição do Rio São Francisco. A segunda, a Secretaria de Portos, avaliam os ¿ciristas¿, não será recusada se for oferecida acoplada à aviação civil, com poder de fogo sobre Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e Infraero. Aí, ele teria condições de empreender um trabalho de visibilidade, com a recuperação de aeroportos.

Ciro deu a entender que não pode aceitar qualquer coisa. Integrantes da transição dizem que ele chegou a insinuar que aceitaria o Ministério da Saúde, mas não houve convite formal porque, desde que o PMDB perdeu o direito de indicar o futuro ministro, o PT pressiona para ficar com a pasta, um dos maiores orçamentos da Esplanada.

A chegada de Ciro tumultuou o cenário da transição. O PT cerrou fileiras para segurar a Saúde. O PSB se viu obrigado a refazer seu tabuleiro e o PMDB fez cara de quem não gostou. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estava fora dessa conversa, esteve ontem no Ceará e, hoje, estará em Pernambuco, onde aproveitará para conversar com Eduardo Campos.

Ciro estava fora das conversas iniciais entre Dilma e o PSB até porque fez questão de ficar praticamente fora da campanha presidencial no primeiro turno. E, quando entrou, o próprio Lula já havia dado um jeito de conquistar os votos de que Dilma precisava no Nordeste e no próprio Ceará. Para completar, já havia problemas entre o deputado e o PMDB (leia abaixo).

No caso do PSB, Campos já havia indicado seu secretário de governo, Fernando Bezerra, para a Integração Nacional e deixado à bancada na Câmara a tarefa de indicar o futuro ministro da Secretaria de Portos. Quando Ciro entrou no jogo, a intenção da cúpula partidária era transferir da bancada para o Ceará o direito de indicar o futuro ministro da Secretaria de Portos. Os cearenses acharam pouco para um nome tão expressivo quanto o do ex-candidato à Presidência, ex-ministro da Fazenda do governo Itamar e, ainda, ex-ministro da Integração Nacional de Lula.

Foi então que, ainda na noite de sexta-feira, surgiu a proposta de troca: Ciro ficaria com a Integração e Campos, com Portos, sem aeroportos. O problema, entretanto, não foi resolvido. Conforme antecipou o Correio, a bancada do PSB reclamou da configuração. Muitos deputados se sentiram desprestigiados. A conversa dele com Dilma irá definir quem vai sobrar nessa configuração.

MEMÓRIA Armistício necessário

Se Ciro Gomes terminar fora do governo, deverá agradecer às suas próprias palavras proferidas no passado, especialmente aos impropérios que desferiu contra o PMDB como um todo. O partido, aliás, já fez chegar à presidente eleita, Dilma Rousseff, sua insatisfação com a possibilidade de que Ciro volte ao poder central do país.

Afinal, em meados do ano passado e até o início deste ano, quando ainda cogitava ser candidato a presidente da República ¿ ou a vice, em parceria com Dilma Rousseff ¿ Ciro atacou duramente o PMDB. Disse que quem mandava no partido ¿não tinha escrúpulo¿ e acusou Michel Temer de chefiar uma quadrilha. Chamou a legenda de ¿ajuntamento de assaltantes¿. Muitas das declarações de Ciro estão gravadas.

A segunda bateria de Ciro contra o PMDB foi justamente no sentido de levar o PSB a não fechar o apoio à chapa Dilma-Temer e lançar candidatura própria. O PSB, entretanto, reuniu seu diretório nacional e, por votação, decidiu seguir com Dilma. Agora, se Ciro quiser mesmo virar ministro, terá que assumir o compromisso de um armistício e de selar um tratado de paz com o PMDB, seus ministros e líderes. Especialmente, Temer. Afinal, amanhã, o deputado Michel Temer deixa a Presidência da Câmara para ser diplomado o vice-presidente da República de Dilma. E, como tal, terá que ter o respeito de todos os ministros, sem exceção. Ou Ciro aceita seguir assim, ou Dilma ficará com Temer. (DR)