Título: Fim de IPI reduzido diminui otimismo do comércio
Autor: Serodio, Guilherme
Fonte: Valor Econômico, 06/02/2013, Brasil, p. A4

Aloísio Campelo: expectativas favoráveis nos segmentos menos ligados ao crédito

O fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) provocou o recuo da confiança do comércio nos últimos três meses, de acordo com Aloísio Campelo, coordenador de sondagens conjunturais do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). O Índice de Confiança do Comércio (Icom) registrou, no trimestre encerrado em janeiro, 126,1 pontos. No trimestre encerrado em dezembro estava em 130,3 pontos. Apesar da queda, o resultado indica ritmo de atividade entre moderado e forte no setor.

Na visão de Campelo, o resultado negativo é concentrado nos setores do comércio que estão sendo afetados pelo aumento gradual do IPI de automóveis e eletrodomésticos desde 1º de janeiro e mostra que a percepção negativa desses segmentos industriais chegou ao comércio.

Nos setores do varejo com produtos mais relacionados ao nível de renda não houve uma piora expressiva do nível de confiança. A queda é mais concentrada nos bens duráveis, onde estão os segmento de veículos, motos e peças, no qual o índice caiu de -2,5% em dezembro para -7,6% em janeiro, móveis e eletrodomésticos (de -15,6% para -21,2%), e material para escritório e informática (recuo de 1,5% para -10,4%). "Essa oscilação, muito conectada com o IPI, estava mais na indústria. Agora se manifesta também no comércio, onde as expectativas pioraram muito", diz o economista do Ibre.

Na comparação com janeiro de 2012, no entanto, o Icom ficou estável. Para Campelo o resultado é uma boa notícia para a economia e mostra que os setores do comércio ligados aos bens não duráveis mantêm uma expectativa muito próxima ao que tinham no ano passado. A confiança dos comerciantes de bens não duráveis aumentou 1,4% em relação a janeiro de 2012. Entre os comerciantes de bens duráveis, caiu 3,5%.

"O que a gente está vendo é um comércio mais tradicional vendendo no mesmo nível", avalia Campelo. "Há expectativas ainda favoráveis nos segmentos menos ligados ao crédito. Mas nos setores de bens duráveis deve haver desaceleração", prevê. Ele acredita que o estímulo ao crédito para incentivar o consumo não deve conseguir manter o ritmo de vendas de bens duráveis ao longo do primeiro semestre. "Se o cenário internacional for mais constante, pode-se esperar que o nível de vendas dos bens duráveis tenha alguma recuperação. Mas as famílias ainda estão endividadas", ressalta. Para Campelo, o cenário mostra que a economia brasileira precisa voltar a investir para crescer neste ano.

No varejo restrito, que exclui veículos e material de construção, o índice de confiança caiu 1,2% em janeiro ante janeiro de 2012. No varejo ampliado houve queda de 0,7% na mesma base de comparação.