Título: Brasil atrai grandes fundos estrangeiros
Autor: Silva Júnior, Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2007, Finanças, p. C1

O Brasil entrou finalmente na rota de investimento dos grandes fundos de private equity internacionais. A empresa inglesa Actis está abrindo um escritório em São Paulo que será o responsável pelas operações em toda a América Latina. Inicialmente, terá um fundo de até US$ 300 milhões para aplicar em dez empresas, contou ao Valor Andrew Reicher, um dos principais sócios da gestora.

"O Brasil tem as melhores oportunidades para investimentos de private equity na América Latina", disse. Reicher veio ao Brasil para participar de um congresso destes fundos, organizado pela ABVCap, a associação do setor. Ele fará uma palestra amanhã.

Marcus Regueira, presidente da ABVCap, prevê que os investimentos dos fundos no Brasil este ano vão superar os US$ 2 bilhões inicialmente previstos. Os maiores private equities do mundo, como Darby, AIG Capital, Advent, AAI e Carlyle estão reforçando a atuação no Brasil e prometem novos investimentos.

O Actis tem mais de US$ 3 bilhões investidos na Índia, China e África. Na América Latina, está desde 1974, mas apenas na América Central e nos países andinos (Peru, Bolívia e Equador). O Actis veio da CDC Capital Partners, espécie de entidade de fomento do governo britânico. Em 2000, resolveu abrir um escritório no México, mas desistiu. Há um ano, começou uma série de pesquisas na região que mostraram que o Brasil era o local ideal. "Temos visto um significativo aumento no interesse dos investidores pela América Latina em geral e pelo Brasil em particular". A abertura de uma outra unidade no México não está descartada.

O fundo promete investir em diferentes setores, sobretudo aqueles que ofereçam oportunidades de longo prazo. Reicher avalia que o Brasil tem classe consumidora e poder de compra em expansão, o que abre oportunidade em setores ligados ao consumo, imóveis e serviços financeiros. Ele ainda cita os setores agrícolas e aeroespacial como atraentes. O fato de o Brasil tem mercado de capitais em expansão também foi outro fator que atraiu o fundo para cá.

Para a América Latina, um novo fundo será criado. Ele pode ter patrimônio de US$ 200 milhões a US$ 300 milhões. Uma das fontes de recursos será o CDC, que também apoiou as operações na Índia, China e África. O fundo pretende investir em empresas com valor de mercado na casa dos US$ 100 milhões. A idéia é comprar participações relevantes em cada uma e aplicar entre US$ 20 milhões a US$ 40 milhões por negócio e fazer investimentos com prazo de cinco a sete anos.

Segundo ele, o fundo não está vindo para o Brasil só porque vê uma janela de oportunidades. "Queremos construir um negócio para o longo prazo", disse, destacando que depois do primeiro fundo, novas carteiras vão ser criadas. "A intenção é se tornar um dos melhores operadores estabelecidos no mercado brasileiro e latino-americano", afirma. África, Índia e China estão gerenciando US$ 1 bilhão em capital hoje do Actis. "Isto dá uma idéia do que queremos atingir aqui", disse.

Segundo ele, já foi aplicado dinheiro demais para Índia e China e os investidores globais estão começando a perceber oportunidades em outras regiões. No Brasil, diz, há empresas com alto potenciais, apesar de o crescimento econômico do país ainda não estar nos níveis da China e Índia. "Há companhias com potencial para crescer quase 20% ao ano", afirma.