Título: Lula cogita Mantega para disputar SP
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 06/02/2013, Política, p. A9

Mantega: eventual saída neste momento poderia sinalizar que Mantega não deixou o ministério para ser candidato, mas foi candidato para sair do ministério

Uma das opções do PT para o governo de São Paulo, em 2014, é o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O nome de Mantega é um dos cinco petistas cuja candidatura é avaliada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se a alternativa do partido, em São Paulo, for pela candidatura própria ao governo estadual.

A outra hipótese avaliada por Lula é o PT apoiar o nome de um aliado. Segundo fontes do PT, ele já mencionou o nome do deputado federal Gabriel Chalita, do PMDB, e até o do vice-presidente da República, Michel Temer, que é presidente licenciado do PMDB. Os pemedebistas preferem ficar onde estão. O partido tem apenas um deputado de São Paulo.

Se for confirmada a indicação do ministro, resta saber quando ele deixará o ministério. Ele poderia sair já, quando a presidente deve fazer alguns ajustes no ministério. Mas isso poderia sinalizar para o mercado que Mantega não deixou o ministério para ser candidato, mas foi candidato para sair do ministério.

Isso ocorreu com o tucano José Serra, em 1996, quando era ministro do Planejamento do governo Fernando Henrique Cardoso e deixou o cargo para disputar a Prefeitura de São Paulo. Serra tinha divergências com o restante da equipe econômica do então presidente Fernando Henrique Cardoso e a candidatura foi o pretexto para sua saída, muito embora as pesquisas, à época, indicassem que ele tinha chance (o eleito foi Celso Pitta).

Mantega, atualmente, é criticado - inclusive entre governistas - pelo baixo crescimento e pela falta de respostas da economia às políticas governamentais.

Lula decidiu reeditar, na disputa pelo governo de São Paulo, o que fez nas eleições presidenciais e na disputa pela Prefeitura de São Paulo, quando preferiu recorrer a nomes de fora da política, Dilma Rousseff e Fernando Haddad, respectivamente, ambos ministros em seu governo.

Antes de Lula começar a emitir avaliações sobre o governo de São Paulo, o nome mais falado no PT era o do ministro Alexandre Padilha (Saúde). A situação do setor, neste instante, não recomendaria essa opção, segundo fontes do PT. Além disso, a relação da presidente Dilma com o seu ministro da Saúde não passa por seu melhor momento, conforme publicou ontem o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.

O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), é outra alternativa, mas suas chances de ser indicado pelo PT são exíguas. O ministro Aloizio Mercadante (Educação), é bem cotado, tem a simpatia de Dilma, mas fracassou em tentativa anterior e foge ao perfil desejado por Lula. Mantega reúne duas condições: é um nome novo na política e já é conhecido nacionalmente. Até por isso, se for o escolhido, pode esperar abril de 2014 para deixar o governo.

Outro nome que sempre esteve nas especulações do petista é o do prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, que também fez parte de sua equipe de governo como ministro do Trabalho. Lula "adotou" Marinho politicamente desde os seus tempos na Central Única dos Trabalhadores (CUT). Hoje são amigos. Há dúvidas no PT sobre a viabilidade de uma candidatura estadual de Marinho, mas os exemplos de Dilma e Haddad são suficientes para barrar qualquer discussão, no PT, sobre uma escolha de candidato feita e apoiada por Lula.

Curiosamente, um nome não tem sido mencionado pelas fontes petistas sobre as avaliações de Lula: o da senadora Marta Suplicy (PT), que a exemplo de Mercadante seria uma espécie de "candidatura natural" do PT. Marta já foi descartada por Lula nas eleições municipais do ano passado, quando ela reivindicou a indicação do PT para disputar a Prefeitura de São Paulo. Preterida, foi compensada por Dilma com o Ministério da Cultura.

O início das articulações de Lula para a escolha do candidato a governador de São Paulo deixou irritada a cúpula do PMDB, em especial o grupo ligado a Temer. Na avaliação da cúpula partidária o PMDB está sob "ataque especulativo" e o objetivo é trocar o vice-presidente Michel Temer, na chapa da reeleição de Dilma, pelo nome do atual governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

Dirigentes do partido afirmam que o PMDB não abre mão da manutenção de Temer na Vice-Presidência de Dilma. Afirmam inclusive que a presidente já se comprometeu com Temer para a reedição da chapa. Mas no próprio PT há quem diga que a troca seria uma "vontade de Lula", mas de viabilização muito difícil, a menos que o PMDB concordasse com a proposta, o que não é o caso, pelo menos por enquanto. A cúpula do PMDB não aceita essa explicação, até porque avalia que a maioria do PT traiu o acordo entre os dois partidos para votar em Henrique Alves (RN) para presidente da Câmara - o deputado teve menos votos do que esperava, mas mesmo assim venceu no primeiro turno.