Título: Brasil é diferente dos outros países latinos, diz Meirelles
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2007, Finanças, p. C4

O Brasil tem uma situação diferente e não será afetado como outros países latino-americanos pela desaceleração da economia dos Estados Unidos.

Foi o que o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, reiterou ontem em Basiléia (Suiça), onde participou de avaliação da economia mundial com as principais autoridades monetárias, no Banco para Compensações Internacionais (BIS). "Apesar de um cenário internacional de maior incerteza, o Brasil tem todas as condições para continuar aumentando suas taxas de crescimento", disse ele em entrevista.

No domingo, os presidentes dos bancos centrais da Argentina, México e Chile manifestaram preocupação com o efeito da volatilidade financeira nos mercados internacionais e da desaceleração nos EUA nas suas economias.

Já Meirelles ressalvou ontem que a queda no crescimento dos EUA terá efeito diferenciado na América Latina e no resto do mundo. "Não há dúvida de que muitos países estão preocupados", comentou. "Países que são mais dependentes dos EUA, que estão com seus fundamentos menos equilibrados que o Brasil estão preocupados. O fato concreto é que o Brasil está na direção correta".

A avaliação de Meirelles é de que a recente turbulência dos mercados ''demonstrou o acerto da política econômica no Brasil''.

Outros dirigentes financeiros latino-americanos dizem que, mesmo se o período de bonança na economia global não terminou, o menor crescimento internacional significa menor impulso de fora sobre as economias da América Latina. Mas Meirelles indicou que o Brasil não perdeu oportunidade da época mais favorável global para acelerar o crescimento.

Ele insistiu que o Brasil "preparou-se e tem condições de crescer de forma sustentada, a taxa maior, em função das melhorias de fundamentos conseguidas nos últimos anos".

Meirelles exemplificou com ''fundamentos muito mais sólidos'' - reservas internacionais, saldo de contas correntes, saldo comercial, inflação na meta, relação dívida/produto - que "dão condições ao Brasil de ser menos dependente de outros países da demanda internacional para crescer".

Nos contatos com os outros banqueiros, repetiu que o país tem também maior solidez que no passado, do que outros países "para fazer face a quaisquer turbulências que possam ocorrer nos mercados."

O presidente do BC saiu pela tangente em relação a sugestão de "alguns" governadores, como frisou, para o BC ser mais ousado no corte de juros. "Outros disseram que o nível está adequado. Estamos abertos as opiniões''.

Estudo recente da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), espécie de clube dos países ricos, concluiu que impostos sobre transações bancárias, como a CPMF, provocam desintermediação financeira, ou seja, tiram clientes dos serviços de bancos na América Latina e podem gerar ineficiência na economia.