Título: Trichet recomenda cautela aos emergentes
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2007, Finanças, p. C6

As economias emergentes, que inclui o Brasil, devem manter especial vigilância e cautela nas políticas monetária e fiscal, no atual contexto de volatilidade nos mercados financeiros internacionais. Além disso, precisam prosseguir reformas estruturais para elevar o potencial de crescimento.

Essa foi a recomendação dada ontem por Jean-Claude Trichet, porta-voz do G-10, que reúne os principais bancos centrais do planeta, ao ser indagado por jornalistas brasileiros o que os emergentes devem fazer para evitar que a taxa de crescimento diminua em meio a incertezas na economia global.

Por sua vez, o presidente do Banco Central brasileiro, Henrique Meirelles, depois de reunião com o G-10, considerou que a recomendação não se aplica ao caso do Brasil. "Ele não falou de uma situação especifica. Cada país difere. Não entendam isso como qualquer coisa de política monetária no Brasil", disse.

Em entrevista ao final de reunião que avaliou a economia mundial, Trichet, que é presidente do Banco Central Europeu (BCE), foi incisivo: "Nosso dever é ser cauteloso e vigilante para permitir que correção (nos mercados) ocorra com ordem, e não de forma abrupta, porque ainda não terminou. Isso vale para emergentes e para os outros também".

Indagado se repetiria as declarações de Trichet de não haver espaço para complacência, o brasileiro retrucou que a ata do Copom dirá "tudo sobre juros" na quinta-feira próxima.

A situação da economia global foi avaliada pelo G-10 e alguns emergentes como Brasil, China, Índia e México, ontem no Banco de Compensações Internacionais (BIS), espécie de banco dos bancos centrais.

Os banqueiros centrais consideram que a economia mundial está suficientemente forte para resistir as quedas nos mercados financeiros. Tampouco esperam recessão na economia dos Estados Unidos.

Os BCs avaliam que a economia global "continua dinâmica", e que a volatilidade "não vai deflagrar uma correção na economia real".

Trichet insistiu que a turbulência recente não foi gerada por mudanças nos fundamentos. "Foi uma correção ampla, global e rápida, afetou virtualmente todas as economias" e vários segmentos do mercado.

Destacou que a liquidez se manteve alta durante toda a turbulência, os mercados funcionaram e resistiram bem, e pode ter sido importante.

" Num ambiente em que apetite ao risco esteve alto, onde havia sinais de subapreciação do risco pelo mercado, o episódio foi alerta útil de que há riscos em todos os mercados", disse Trichet.

"Estamos desfrutando há anos de um período de crescimento global que é muito favorável e mais equilibrado entre regiões, e a sustentabilidade é mais dividida entre regiões", acrescentou. "Mas insisto que esse não é o momento para complacência."