Título: Inflação pode exigir uso de outros instrumentos
Autor: Izaguirre , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2012, Brasil, p. A2

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa básica de juros em 7,25% reforçou entre os profissionais de mercado a expectativa de que o Banco Central vai buscar outros instrumentos alternativos aos juros caso o horizonte inflacionário mude para pior.

O Banco Central disse, por meio do comunicado após a reunião do Copom, que "a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta, ainda que de forma não linear".

Com a decisão de manter estável a Selic pela primeira vez em 16 encontros do Copom - até agora a segunda mais longa sequência de mudanças do juro básico desde a criação do comitê - o Banco Central inicia um ciclo de estabilidade do juro básico que, para o mercado, pode ultrapassar o recorde anterior, quando a taxa ficou sem mudanças por sete encontros, entre abril e outubro de 1999.

"Eu sublinho no comunicado do Copom o destaque dado ao cenário externo, que para mim dá um viés da Selic. Se o BC tiver que fazer algo vai ser por conta de uma atividade doméstica mais fraca por causa do ambiente externo. Não trabalho com cenário de alta de jeito nenhum", afirmou o economista-chefe do Banco Pine, Marco Maciel.

Outro profissional de mercado que está no grupo que espera manutenção da Selic ao longo das próximas oito reuniões do Copom é o economista-chefe da Concórdia Corretora, Flavio Combat. "Na eventual necessidade de um aperto monetário em 2013, o BC lançará mão de instrumentos não convencionais de política monetária, as medidas macroprudenciais ou recorrer à política cambial como instrumento de controle da inflação, permitindo uma suave valorização do Real frente ao dólar a fim de cobrir o excesso de demanda interna com importações", disse Combat.

Para o Gestor de Investimentos da Lecca, Georges Catalão, o Banco Central reforçou no comunicado que está bastante preocupado com a economia doméstica e com o ambiente internacional. "Enquanto não houver uma melhora nesse quadro, o BC não vai mudar a estratégia", afirma.

Nesta sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE divulga o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro do terceiro trimestre. No levantamento feito pelo Valor Data com 11 consultorias e instituições financeiras a média estimada apontou expansão de 1,2%, feitos os ajustes sazonais, o que indica um ritmo de expansão anual próximo a 5% ao ano. As projeções variam de alta de 0,9% a avanço de 1,3% no trimestre. (Ver matéria na próxima página)

O executivo responsável pela gestão de recursos da Lecca espera uma quinta-feira de ajustes marginais na curva de DIs da BM&F. "Acho que os ativos estavam bastante precificados para essa decisão, então não deve haver grande volatilidade em termos de ajustes".

Para entidades que representam o setor produtivo da economia brasileira, como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a autoridade monetária deveria ter mantido a trajetória de queda da taxa básica de juros, o que significaria um novo corte na taxa Selic.

Em levantamento do Valor Data com 35 economistas e consultores, uma maioria formada por 20 analistas espera que a taxa Selic fique inalterada até dezembro de 2013. Essa expectativa de estabilidade por um longo período também está presente no último boletim Focus, pesquisa feita pelo Banco Central junto a bancos, corretoras e consultorias.