Título: Escola pública é objeto de desejo de grandes editoras
Autor: Bispo, Tainã
Fonte: Valor Econômico, 02/05/2007, Empresas, p. B4

As novas diretrizes do governo federal para o ensino básico, que injetam mais dinheiro na compra de material didático e dão maior liberdade ao municípios, ampliam vendas de apostilas e treinamento de professores. A rede pública, que já vinha atraindo editoras antes dedicadas ao ensino privado, é hoje mercado estratégico para empresas como Anglo, Positivo e Sistema Uno (da Santillana).

São dois os principais fatores que influenciam essa aposta: a disposição do governo em investir mais em educação, através do recém-lançado Plano de Desenvolvimento da Educação, que destinará mais de R$ 8 bilhões até 2010 ao ensino básico; e o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), criado em dezembro de 2006.

"Além do maior investimento em educação, o PDE e o Fundeb aumentam a autonomia das prefeituras, que podem decidir pelo livro didático oferecido pelo governo federal ou comprar um sistema de ensino", diz Ryon Braga, presidente da consultoria Hoper Educacional. O sistema de ensino vendido pelas editoras reúne, em geral, apostilas, treinamento de professores e assessoria pedagógica.

Segundo Braga, o projeto que antecedia o Fundeb, autorizava o uso de sistemas de ensino apenas para o nível fundamental. Com a criação do Fundeb em dezembro, o município recebeu sinal verde para trabalhar com sistema no ensino médio também, diz Braga.

As editoras também reforçam a aposta na rede pública pois não há mais espaço para crescer no mercado privado. "O número de alunos na rede particular está praticamente estagnado", diz Braga. "O principal fator é a taxa de crescimento populacional das classes A e B, quase nula". Na rede privada cerca de 35% dos alunos usa apostilas.

O Sistema Uno, do grupo Santillana, faturou R$ 30 milhões em 2006 com um produto voltado para escolas particulares (138 mil alunos). Com o Uno Público, lançado no final do ano passado, o diretor-geral Mário Ghio Júnior prevê crescer 33% em 2007. "As escolas públicas irão representar 15% do faturamento neste ano", afirma.

A Positivo, com 520 mil alunos na rede particular, lançou em 2005 um sistema para escola pública, que hoje atinge 70 prefeituras e 120 mil alunos. "O potencial de crescimento está na rede pública", diz Acedriana Sandi, gerente pedagógica de Sistemas de Ensino da Editora Positivo.

O Anglo também está no páreo. Hoje 270 mil alunos trabalham com seu material, sendo que 5% desse total estudam em escola pública. A expansão de 15% na receita de 2006 foi impulsionada pela rede pública. "A escola particular parou de crescer nos últimos cinco anos", diz Guilherme Faiguenboim, diretor do Sistema Anglo de Ensino.

Ao contrário das outras empresas, a COC tem clientes na rede pública há dez anos. Trabalha com 89 prefeituras em São Paulo. Em 2008 o grupo planeja levar sua experiência a outros cinco Estados. "Investimos mais de R$ 10 milhões e criamos o ensino à distância (via satélite) dentro do grupo. Dessa forma, podemos capacitar professores que usam o sistema de ensino para a rede pública. Essa fato possibilitou sair de São Paulo", diz Nilson Curti, diretor-superintendente do Sistema COC.

Braga, da Hoper Educacional, observa que as escolas públicas que optam por comprar o sistema de ensino estão mais interessadas no apoio vendido pelas editoras, em áreas como gestão escolar e curso para professores, do que nas apostilas.