Título: Haddad promete governo de coalizão
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2012, Política, p. A15

Com vistas à construção da base de apoio na Câmara Municipal, o prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), disse ontem que fará um governo de coalizão e que os partidos aliados assumirão responsabilidade sobre a gestão. "Não é um governo de toma lá dá cá. É um governo de corresponsabilidade", afirmou, ao anunciar a participação do PT, PSB, PMDB, PCdoB e PV em seu secretariado.

"Queremos mudar o padrão do relacionamento do Executivo com o Legislativo em São Paulo. Esses partidos estão assumindo a responsabilidade pelo governo", declarou Haddad, depois de apresentar mais sete secretários, na sede do governo de transição, no centro de São Paulo. "São partidos do governo, não da base do governo. Essa é a diferença. Vamos dividir o sucesso desse empreendimento".

Haddad disse que seus secretários não têm perfil apenas técnico, mas também político. Ressaltou que as nomeações foram negociadas com os presidentes dos partidos aliados, inclusive com lideranças nacionais, como Michel Temer, vice-presidente da República.

Ao sinalizar que os partidos aliados terão força em sua gestão, o prefeito eleito afirmou que adotará um modelo inédito na composição das subprefeituras - marcadas nas últimas gestões pela militarização e pelo loteamento político. Haddad, no entanto, não detalhou como negociará as indicações com os partidos. Disse apenas que os próximos subprefeitos não serão militares, como na atual gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSD). Terão de ser lideranças comunitárias, morar no bairro, ter capacidade técnica e concordar com seu plano de governo.

O responsável pela Coordenação das Subprefeituras será o vereador Chico Macena (PT), anunciado ontem. Ex-integrante da gestão Marta Suplicy (PT), Macena foi o tesoureiro da campanha petista.

O outro secretário do PT oficializado ontem por Haddad é o deputado estadual João Antonio, que cuidará da Pasta de Relações Governamentais. Ex-líder do governo Marta na Câmara Municipal, o parlamentar será o responsável por negociar com os partidos aliados e com o Legislativo.

Para contemplar o PSB, o prefeito eleito escolheu o presidente do diretório municipal do partido, vereador Eliseu Gabriel, para a Pasta de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho. A secretaria deverá ser unificada com a de Microempreendedor Individual. O foco do secretário, segundo Haddad, deverá será de cuidar dos "600 mil empreendedores da cidade".

O PCdoB foi anunciado para comandar a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, com o vereador Netinho de Paula. O partido já tem a vice, com Nadia Campeão, que deverá cuidar das atividades voltadas para a Copa do Mundo de 2014. A atual Secretaria Especial de Articulação para a Copa do Mundo deve ser extinta. Com a nomeação do vereador Netinho o ex-minstro Orlando Silva, suplente, assumirá uma cadeira na Câmara Municipal na próxima Legislatura.

O PV ficou com a Secretaria de Verde e Meio Ambiente, com o vereador Roberto Tripoli. Fundados do partido e líder do governo Kassab, Tripoli obteve a maior votação na disputa pela Câmara Municipal deste ano, com a bandeira da defesa dos animais.

Já o PMDB, que apoiou Haddad no segundo turno, foi contemplado com a Secretaria da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, com Marianne Pinotti, e com a Secretaria de Assistência Social, com Luciana Temer.

A indicação foi negociada com Temer e com o presidente do diretório municipal do PMDB, deputado Gabriel Chalita. Marianne foi vice de Chalita na disputa pela prefeitura neste ano e foi vice de Paulo Skaf na eleição para o governo de São Paulo em 2010. Luciana é filha de Michel Temer. O vice-presidente deve ajudar Haddad na nomeação de um técnico para a Secretaria de Segurança Urbana.

Haddad ainda negocia a participação do PP e do PSD. O PP apoiou o petista já no primeiro turno e, segundo Haddad, poderá ficar com Habitação. "É uma possibilidade", disse. O prefeito eleito desconversou quando questionado se manterá algum secretário de Kassab.

Além dos sete secretários anunciados ontem, Haddad já havia divulgado sete nomes. No total, serão 27.

O prefeito eleito disse que todos os secretários têm um perfil político, além do técnico. "Tem que ter as duas características. Não tem como dissociar", afirmou. Haddad citou como exemplo o caso de Marcos Cruz, consultor e sócio da McKinsey & Company, que deixou a sociedade para assumir a Secretaria de Finanças em seu governo. "Ele tem um lado político", disse.

Haddad planejava indicar Cleuza Repulho para Educação, mas desistiu. Cleuza é secretária de Educação de São Bernardo do Campo, da gestão Luiz Marinho (PT), e sua saída para a Prefeitura de São Paulo desfalcaria a equipe de Marinho. Haddad desconversou sobre as investigações de supostas irregularidades na gestão de Cleuza quando participou da administração de João Avamileno na Prefeitura de Santo André.