Título: Países ricos tiram etanol da lista de bens ambientais
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 02/05/2007, Brasil, p. A4

Os Estados Unidos, a União Européia (UE) e outros países industrializados acabam de apresentar uma proposta pela qual deixam de fora o etanol de uma nova lista de bens ambientais para terem redução ou eliminação de tarifas na Rodada Doha. O Brasil reagirá hoje com uma mensagem clara: primeiro, não quer lista nenhuma. Mas se lista houver, ela terá de incluir o etanol, ser restrita e claramente identificada com bem ambiental. Do contrário, Brasília bloqueará sua aprovação.

A orientação de condicionar qualquer lista à inclusão do etanol partiu do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo fontes de Brasília, diante da rejeição dos Estados Unidos de baixar a alíquota para o produto.

Durante a visita do presidente americano George W. Bush a São Paulo, em fevereiro, a representante comercial Susan Schwab disse a empresários brasileiros que a tarifa de 54 centavos nos EUA não estava sujeita a qualquer compromisso de redução por parte de Washington, seja em que rodada for.

Por isso, segundo ela, mesmo se a Rodada Doha aprovar redução nas tarifas para etanol, a taxa de 54 centavos permanece inalterada. A existência de uma lista de produtos ambientais para ter corte tarifário maior do que de outros produtos causa uma verdadeira batalha. Na primeira lista, foram incluídos cerca de mil produtos, com visível exagero. A Suíça colocou até barco a vela, enquanto os asiáticos incluíram bicicletas.

Agora, os países ricos reduziram a demanda para cerca de 400 bens ambientais, como alternador de corrente, produtos para controle da poluição do ar, equipamentos de energia renovável, tratamento de água potável etc. Ocorre que o produto mais em voga na agenda internacional, que é o etanol, continuou fora, apesar de o Brasil insistir com esse produto praticamente desde o começo da rodada.

Enquanto isso, a UE, que também impõe alta alíquota na importação de etanol, abriu discussão pública para estabelecer etiquetagem de biocombustível ecologicamente sustentável. A idéia é de estimular o etanol que é produzido poupando a emissão de gás de efeito-estufa, que não estrague a floresta nem a biodiversidade. Bruxelas quer negociar acordos bilaterais, para fazer esses critérios respeitados. Em troca, o país com a etiquetagem poderia se beneficiar de tarifa mais baixa para vender seu biocombustível na Europa.

Na Suíça, o presidente da Nestlé, Peter Brabeck, atacou a produção de etanol a partir de certos alimentos. Segundo ele, são necessários 4.560 litros de água para produzir um litro de etanol de milho, o que deveria levar à discussão sobre a oportunidade deste uso. Seu porta-voz esclareceu que Brabeck considera que outros tipos de etanol são mais ecológicos, mas não mencionou o Brasil.