Título: Para Força Sindical, divergência sobre MP levou à ausência de Lula no 1º de maio
Autor: Agostine, Cristiane e Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 02/05/2007, Política, p. A6

As divergências sobre a Medida Provisória que legaliza as centrais sindicais ficaram patentes nas comemorações do 1º de Maio ontem. "O presidente Lula está com a MP pronta, mas só irá assiná-la desde que haja um acordo entre as centrais", disse o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, no evento promovido pela Força Sindical.

Hoje as centrais não participam da divisão do imposto sindical, equivalente a um dia de trabalho de todos os contratados com carteira assinada, porque não estão legalizadas. Com a proposta, elas receberão metade da cota do governo (10%) dos recursos arrecadados com o imposto sindical. As centrais divergem sobre o repasse desses recursos que hoje são rateados entre governo, sindicatos, federações e confederações.

O presidente da Força Sindical e deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) atribuiu ao impasse a ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no 1º de Maio. "Falei com o presidente ontem. Como não teve acordo na MP, ele disse que não viria. Não teria o que anunciar", disse. Ao ser questionado se esse era o único motivo, Paulinho reiterou: "Ele me disse que não tinha o que falar já que o acordo emperrou". É a primeira vez, desde sua posse que Lula não comparece à missa em São Bernardo, compromisso ao qual mantém-se fiel desde seus tempos de dirigente do sindicato dos metalúrgicos.

À Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) foi atribuída a objeção ao acordo que havia sido firmado para a repartição de recursos. Sindicalistas da CUT, no entanto, também se opunham a que o ministro do Trabalho, em seu primeiro mês no cargo já fosse reconhecido por uma medida que é uma reivindicação histórica do movimento. Lupi substituiu ao ex-presidente da CUT, Luiz Marinho, no ministério.

Segundo Artur Henrique, presidente da CUT, a proposta da entidade é que primeiro haja a legalização das centrais e em um ano se estabeleça como será repartida a arrecadação do imposto. Para Artur, a idéia é que os sindicatos escolham para quem vão reverter o dinheiro: federações, confederações ou centrais.

Porém, no médio e longo prazo, o sindicalista garante que a CUT prefere a extinção do imposto sindical e a substituição por uma contribuição a ser escolhida pelo trabalhador em assembléia, sem que ela seja obrigatória ou compulsória.

As divergências aparecem até mesmo dentro do Ministério do Trabalho. O secretário de Relações do Trabalho, Luiz Antônio de Medeiros, afirmou que mesmo sem consenso entre as centrais, o governo vai editar até meados de maio a MP. "Se não houver consenso, vamos fazer a legalização de qualquer jeito", disse. Já ministro espera o acordo entre as centrais. Na próxima semana, o governo reunirá os sindicalistas para tentar resolver o impasse.

Depois da regularização o governo quer retomar a discussão da reforma sindical. Um fórum deverá ser aberto para debater o tema.

O ministro do Trabalho garantiu que o repasse de dinheiro às centrais não é prioritário. "A prioridade é a regulamentação delas", afirmou Lupi. Entretanto, a destinação de mais recursos deve azeitar a relação do governo com os sindicalistas. Para o presidente da Força Sindical, o governo acerta em consertar um erro do passado: "O dinheiro (do imposto sindical) não é do governo, é do trabalhador. Mas o erro está no passado, quando foi definida essa regra", apontou. "Hoje as centrais não têm dinheiro. Elas vivem do dinheiro da contribuição dos sindicatos".

A disposição mostrada pelo presidente em negociar os pedidos das centrais e o bom trânsito dos sindicalistas no Congresso renderam discursos favoráveis ao governo nas duas maiores comemorações do 1º de Maio. As críticas ficaram em segundo plano e focaram-se na política econômica.

Na festa da Força, a defesa do meio ambiente tomou o lugar das críticas. Lupi, do Trabalho, disse que o "nosso governo está empenhado em gerar mais empregos, com carteira assinada". O discurso feito pelo presidente da Força nem de longe lembrou o tom dos anos anteriores: Paulinho elogiou o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse que tem ajudado o governo e apenas nos últimos minutos criticou o sistema financeiro e o reajuste dos aposentados. "Com esse aumento não dá nem para tomar cachaça no boteco", ironizou. A festa no Campo de Bagatelle, em São Paulo, reuniu mais de 1 milhão de pessoas, de acordo com a PM.

Ao tentar despistar as críticas por trocar o lema dos direitos dos trabalhadores pelo meio ambiente, Paulinho foi infeliz: "Meio ambiente, vamos falar a verdade, até pouco tempo atrás era coisa de 'veado'. (...) Agora queremos fazer com que os trabalhadores preservem o meio ambiente e que não seja só coisa da minoria".

No palco da CUT sobraram elogios ao presidente Lula e críticas ao governador de São Paulo, José Serra (PSDB). Os sindicalistas criticaram, ainda, a proposta da emenda 3. "Apoiamos o veto do presidente. Foi uma decisão sábia, pois é uma maneira disfarçada de retirar direitos dos trabalhadores", disse Renato Rabello, presidente do PC do B. Segundo a polícia militar, antes do principal show, de Zeca Pagodinho, estavam no local 80 mil pessoas. Para a CUT, 800 mil passaram pela região.

O governismo das centrais foi bastante criticado tanto pelo secretário de Trabalho de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, quanto pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF). "No 1º de Maio de 2006, por exemplo, estávamos juntos dizendo menos imposto e mais emprego", apontou Afif. "Precisamos avermelhar o 1 de Maio, porque ele está amarelando", disse Buarque.