Título: PSDB e DEM tentam evitar divergências na CPI
Autor: Costa, Raymundo e Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 02/05/2007, Política, p. A7

Numa tentativa de evitar o aprofundamento das divergências e o comprometimento das investigações na CPI do Apagão Aéreo, PSDB e DEM vão tentar patrocinar um entendimento entre os líderes dos dois partidos na Câmara, o tucano Antônio Carlos Pannunzio (SP) e o integrante do Democratas, Ônix Lorenzoni (RS). As duas siglas não se entendem em relação a quase tudo que se refere às CPIs.

A CPI da Câmara deve ser instalada amanhã. A do Senado, em meados de maio. A primeira divergência se deu em relação à CPI da Câmara: o DEM achava que oposição deveria concentrar as investigações no Senado, onde a relação de forças entre governo e oposição é mais bem equilibrada entre os senadores, de sete a seis para o Planalto, contra 16 a oito na Câmara. Os tucanos, no entanto, não abriram mão da comissão dos deputados e pensavam até em desistir da CPI dos senadores.

Na Câmara, o DEM quer começar a investigação pela Infraero e as suspeitas de irregularidades na empresa detectadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Pannunzio jogou água na fervura ao dizer que isso era querer levar a CPI a "produzir espetáculos televisivos para desgastar o governo", além de criar dificuldades para a própria CPI. Os antigos pefelistas também levantaram suspeitas sobre a indicação do senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) para a CPI do Senado - ele é concunhado do ex-presidente da Infraero Carlos Wilson (PT-PE).

Nesse clima é que os líderes do PSDB e do DEM no Senado, Artur Virgílio (AM) e José Agripino Maia (RN) tomaram a decisão de tentar o entendimento entre Ônix e Pannunzio. "É mais um polimento das relações na Câmara", diz Agripino, para quem os desentendimentos são "produto do começo" e que os partidos se entenderão . "Vamos chegar a uma composição", promete Virgílio. "Nós somos poucos e não podemos estar dispersos. Precisamos deles e eles precisam de nós. Uma oposição com 50 deputados é pior do que uma oposição com cem", diz o vice-líder do Democratas, José Carlos Aleluia (BA).

Sérgio Lima/FolhaImagem Pannunzio participará da conversa com os senadores sem muita empolgação e diz ter resolvido os problemas com Onix. "Tive uma conversa com ele onde falamos desses descontentamentos. Fizemos um entendimento", revelou. "O DEM tem o estilo dele. É um direito", disse.

Sobre o foco de investigação da CPI, Pannunzio voltou a criticar a intenção do DEM de investigar primeiramente a Infraero. "Não se pode dizer que só a Infraero é o foco. Temos de investigar a Anac, os controladores, o Ministério da Defesa, a Aeronáutica. A CPI não é um palco", diz. "O objetivo não é desgastar o governo. É investigar. O desgaste virá naturalmente quando descobrirmos a inépcia na administração, a malversação do dinheiro público. Transformar a CPI é uma batalha de situação contra oposição é infantil", diz.

Se a oposição tem problemas, o mesmo ocorre em relação ao governo. PMDB e PT disputam a presidência da CPI da Câmara. O PT havia proposto ao PMDB troca de cargos. Os petistas ficariam com a presidência e os pemedebistas, com a relatoria. Ontem o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), disse que o partido não cederá a presidência da comissão. "Isso é assunto vencido". O presidente tem influência decisiva na aprovação de requerimentos e sobre quem será ou não convocado. Entre os próprios pemedebistas se afirma que o partido pretenda usar a função para pressionar o governo a liberar cargos reivindicados pelos deputados.

O PSDB também parece menos suscetível e negociar a criação de uma CPI mista com deputados e senadores - a tendência é que as duas sejam instaladas. Há outros sinais de perigo detectados pelo governo. Um deles é o senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA). Muito embora tenha visitado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto, há outra explicação para o interesse de ACM na CPI que não seja ajuda o governo: ele é inimigo do deputado Carlos Wilson, ex-presidente da Infraero, que foi relator do processo aberto contra ele no Conselho de Ética por causa da quebra do sigilo do painel eletrônico do Senado. O próprio Sérgio Guerra, apesar dos laços de família, é autor de processos eleitorais contra Wilson.

As rusgas entre PSDB e DEM, especialmente entre Pannunzio e Onix, já extrapolaram os bastidores. A primeira demonstração pública de descontentamento aconteceu há pouco mais de um mês. Na época, a oposição havia decidido iniciar a obstrução na Câmara por causa da falta de iniciativa do presidente da Casa, Arlindo Chinaglia, na direção de instalar a CPI do Apagão.

Em plenário, Pannunzio conseguiu convencer Chinaglia de receber a oposição para uma conversa naquele momento. O presidente da Câmara concordou. Em seguida, Onix pediu a palavra e fez ataques ao petista, dizendo que ele manobrava para engavetar a CPI. Chinaglia se irritou e cancelou o encontro. O PSDB se irritou com Onix. Numa reunião, os tucanos desancaram o antigo pefelista. "Inábil" foi a qualificação mais amena empregada ao líder do DEM.(Com agências noticiosas)