Título: Venezuela assume campos de petróleo e gera dúvida sobre investimentos
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Fonte: Valor Econômico, 02/05/2007, Internacional, p. A9

O governo da Venezuela assumiu ontem formalmente o controle operacional sobre os projetos de petróleo da região da Faixa do Orinoco, num lance decisivo para a política de estatização que vem sendo adotada pelo presidente Hugo Chávez.

As petroleiras americanas Chevron, Exxon Mobil, além da britânica BP, a norueguesa Statoil e a francesa Total, concordaram em atender a um decreto que determinava a transferência de seus projetos para a estatal PDVSA. A ConocoPhillips era a única que vinha mostrando resistência aos termos do decreto, mas ontem afirmou que também está cooperando com a decisão de Caracas.

Os quatro projetos operados na região podem produzir cerca de 600 mil barris de petróleo por dia. Especialistas dizem que a Faixa do Orinoco pode conter a maior reserva de petróleo do mundo.

Ontem, durante visita a uma refinaria da região, Chávez disse que planeja aumentar a presença militar nos campos do Orinoco. Milhares de trabalhadores do setor de petróleo se reuniram diante das instalações das petroleiras para comemorar o anúncio. "O presidente Chávez ordenou que exerçamos a nossa total soberania sobre o nosso petróleo, e estamos fazendo isso hoje", disse o ministro do Petróleo, Rafael Ramírez, em um pronunciamento televisionado, feito pouco depois da meia-noite, após ele ter sido recebido como um herói pelos trabalhadores no Orinoco.

As petroleiras estrangeiras estão agora diante de questões críticas: se conservarão uma participação suficiente que fará valer a pena permanecer operando no país; como deverão ser remuneradas pela redução em sua participação; e se têm esperanças de explorar as reservas tecnicamente pertencentes à Venezuela.

"O governo está certo em modificar os termos contratuais, mas precisa ser cuidadoso, para que essas mudanças não resultem em total perda de interesse, por parte das companhias, de realizar novos investimentos", diz Roger Tissot, um analista da PFC Energy. No setor, há dúvidas sobre a capacidade de a PDVSA. de fazer novos investimentos.

A Petrobras também tem interesses no Orinoco. Mas apesar de discutir investimentos conjuntos com a PDVSA há quatro anos, a estatal brasileira avalia que até agora essas negociações não foram suficientes para as duas empresas darem início às parcerias para que a Petrobras produza petróleo e gás na Venezuela e a PDVSA formalize sua entrada como sócia da refinaria do Nordeste com 40%.

Os pontos que ainda precisam avançar, segundo o gerente-executivo da Petrobras responsável por Américas, África e Eurásia, Samir Awad, dizem respeito à associação para produção de petróleo no campo Carabobo, que fica na faixa do Orinoco, a produção em campos maduros e a destinação do gás que for produzido na região de Mariscal Sucre.

Segundo Awad, os avanços obtidos com o encontro dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez em janeiro não foram suficientes para fechar negócio. É o caso de Carabobo, campo gigante na Faixa do Orinoco com reservas certificadas de 5 bilhões de barris de óleo ultra pesado.

"Avançamos todo ano mas não a ponto de deslanchar o projeto. A última reunião dos presidentes representou um avanço mas entendemos que é preciso um novo passo à frente, inclusive o contorno legal", disse Awad, que participou ontem da Offshore Technology Conference (OTC), em Houston.

O problema em Carabobo, diz Awad, é que a PDVSA precisa fazer uma licitação para definir o valor de mercado do campo. Sem isso, não tem negócio. "A Petrobras não pode aceitar entrar em um bloco sem saber quanto vai pagar."

Já em Mariscal Sucre, o problema é a definição do preço do gás natural produzido ali. O plano estratégico da Petrobras prevê investimentos de US$ 2 bilhões na Venezuela até 2011. Mas isso só vai acontecer se os projetos deslancharem. (Com Cláudia Schüffner, de Houston)