Título: Peña Nieto foca na economia para mudar perfil do México
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Fonte: Valor Econômico, 29/11/2012, Internacional, p. A19

Enrique Peña Nieto assume sábado com uma meta clara para seu mandato presidencial de 6 anos no México: fazer com que as pessoas encarem o país menos como um campo de extermínio e mais como uma economia dinâmica.

O presidente, de 46 anos, que comanda o ex-governista Partido Revolucionário Institucional (PRI), levou esse recado a Washington na terça-feira, em sua primeira reunião com o presidente Barack Obama. Disse esperar que ambos os lados colaborem de forma mais estreita em questões econômicas, bem como nos tópicos permanentes, constituídos pela reforma da imigração e o combate às drogas.

Obama prometeu estreitar os laços econômicos e saudou a "incrível contribuição que os mexicano-americanos dão à nossa economia, nossa sociedade e nossa política".

Ex-governador, Peña Nieto assume em meio ao período mais sangrento na história recente do México, com um saldo estimado em 65 mil mortos em decorrência da guerra com gangues rivais de narcotráfico travada pelo atual presidente, Felipe Calderón. O horrendo conflito comprometeu a imagem do país no exterior.

Calderón, constitucionalmente proibido de se reeleger, transformou o combate às gangues em sua prioridade número um, apesar de a economia mexicana, prejudicada pela crise financeira mundial, ter crescido em média 2% durante seu governo. A fragilidade da economia foi o grande motivo pelo qual os eleitores desbancaram em julho o PAN, partido conservador de Calderón, e deram mais uma chance ao PRI de Peña Nieto. O PRI governou o país de 1929 a 2000.

O recado não passou despercebido a Peña Nieto, que prometeu tornar a redução da violência, e não a captura dos líderes dos cartéis, o foco do combate às drogas.

Mais exatamente, ele está apostando sua Presidência num ambicioso programa de reformas econômicas para elevar o crescimento. Entre elas está a reforma fiscal, que visa elevar receita a ser investida em áreas como infraestrutura e educação e reformular leis que restringem o investimento privado no setor energético - a pedra de toque do nacionalismo mexicano.

Não será fácil: três presidentes mexicanos tentaram e não conseguiram aprovar essas mesmas reformas nos últimos 15 anos.

Há vários sinais de esperança tanto para Peña quanto para o México. A violência parece ter atingido seu ponto máximo, e tenderia a recuar. Segundo estimativas do governo e dos jornais mexicanos, os assassinatos caíram 7% este ano.

A economia mexicana cresce hoje à taxa anual de 4%, acima da média mundial, com inflação baixa e baixo endividamento. Com o aumento do custo da mão de obra da China, o México virou alternativa para muitas empresas, entre as quais as aeroespaciais.

"Já temos a plataforma econômica para gerar crescimento", disse o presidente do BC mexicano, Agustín Carstens. "Agora, o desafio de fato para o novo governo é fixar a sequência correta para enviar ao Congresso as reformas necessárias para atrair investimentos."

Nenhum presidente mexicano teve maioria no Congresso desde 1997, quando a hegemonia do PRI começou a ceder. Peña Nieto também não a terá, uma vez que o PRI e seu principal aliado, o Partido Verde, ficaram, por pouco, aquém da maioria na Câmara e no Senado.

A grande diferença agora é que o principal partido de oposição, o PAN, de Calderón, apoia as reformas econômicas. Nos últimos 30 dias, ambas as partes se reuniram para aprovar a primeira mudança de peso adotada no país em vários anos: uma reforma trabalhista que facilita a contratação e a demissão.

"Não deteremos as reformas. O México não pode esperar", disse o principal líder do PAN na Câmara, Ricardo Anaya. Mas alertou: "Não seremos uma oposição passiva".

Autorizar mais investimentos externos no setor energético, controlado pela estatal Pemex, poderá dobrar a marca alcançada em 2011 pelo país, de US$ 20 bilhões em investimentos estrangeiros diretos, e aumentar significativamente o crescimento econômico, dizem economistas.

Peña Nieto se depara com um contexto mais favorável nas relações com Washington. Ao contrário de seis anos atrás, o saldo líquido da migração entre México e os EUA está próximo de zero atualmente, com o número de mexicanos que voltam ao país de origem equivalendo ao novo contingente de mexicanos que cruzam a fronteira rumo aos EUA. O renovado foco nos hispânicos como um grupo de eleitores decisivo nos EUA favorece a reforma da imigração.

"Acredito que a equipe de Peña Nieto quer mudar as relações, a partir da que encara o México como fonte de drogas e de pessoas - um problema - para a que vislumbra a economia do México como fonte de oportunidades para a criação de emprego pelos EUA", disse Christopher Wilson, membro do Instituto do México do Wilson Center de Washington.