Título: Bolívia anuncia hoje novos decretos
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Fonte: Valor Econômico, 02/05/2007, Internacional, p. A9

O presidente da Bolívia, Evo Morales, marcou ontem o primeiro aniversário da estatização do setor de hidrocarbonetos com promessas de reduzir ainda mais o papel de empresas estrangeiras no país. Durante comemorações do Dia do Trabalho, Morales ameaçou assumir o controle dos ativos da Petrobras e da Telecom Itália, caso as negociações com as duas companhias não derem resultado. O presidente disse também que anunciará hoje novos decretos sobre a estatização.

"Vamos basear todas as nossa negociações no diálogo, porque nós, povos indígenas, acreditamos no princípio do diálogo", disse o presidente para uma multidão que se reunia diante do palácio do governo em La Paz. "Mas se o diálogo não funcionar, nós vamos recuperar nossos recursos naturais e nossas empresas sem medo."

O governo tenta estatizar duas refinarias da Petrobras, mas as negociações com o governo brasileiro estão diante de um impasse sobre o valor da indenização a ser paga. Morales também quer que a Telecom Itália devolva sua subsidiária no país, Entel, antiga estatal de telefonia boliviana.

Havia uma expectativa que Morales anunciasse ontem mesmo novos decretos. "Alguns decretos serão divulgados amanhã (quarta-feira)", disse o presidente, sem dar detalhes sobre os setores que serão afetados nem se as medidas trarão novidades sobre as duas refinarias da Petrobras no país, disse a BBC Brasil.

Morales esperava completar as duas nacionalizações a tempo das comemorações ontem do Dia do Trabalho. Mas após um mês de conversações com a Telecom e mais de um ano com a Petrobras, o boliviano ainda não teve sucesso.

Segundo informou a agência de notícias Reuters, novos contratos com as multinacionais Petrobras, Repsol, Total e British Gas começam a vigorar hoje às 6 horas (horário local), 7 horas no Brasil.

O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse que não viu nenhuma surpresa nas declarações feitas por Morales. Ontem, em Houston, onde participa da Offshore Technology Conference, Gabrielli disse que não havia "nenhuma surpresa (da Bolívia) até o momento". Acompanhado do ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, Gabrielli se mostrou tranqüilo. "Como já vínhamos afirmando desde outubro de 2006, quando o contrato foi assinado, o acordo prevê que a Petrobras tenha rentabilidade por um longo prazo". Sobre as refinarias da estatal, das quais a Bolívia quer 51% , Gabrielli disse que as negociações ainda não foram concluídas e que espera "bons resultados". (Com Cláudia Schüffner, de Houston)