Título: Ibovespa 50 mil, dólar R$ 2
Autor: Pavini, Angelo
Fonte: Valor Econômico, 02/05/2007, EU & Investimentos, p. D1

Maio promete ser um mês de grandes expectativas. O Índice Bovespa superará os 50 mil pontos? O dólar cairá abaixo dos R$ 2,00? Romário marcará o milésimo gol?

Os analistas evitam comentar o gol do "baixinho", mas, para os demais pontos, consideram que há grandes chances. Além disso, no caso dos juros, a divisão de votos na última reunião do Copom traz um elemento de incerteza entre um corte de 0,25 ou 0,50 ponto que só vai se dissipar nos dias 5 e 6 de junho, datas da próxima reunião sobre a Selic.

Apesar da forte alta de 6,88% do Ibovespa em abril - 11,54% desde março -, a maioria das corretoras continua otimista com as ações. De 14 instituições consultadas pelo Valor três elevaram as projeções do Ibovespa para o fim deste ano e cinco estão em processo de revisão para cima. Três já esperam que o índice bata 60 mil pontos e apenas três trabalham com um número perto dos 50 mil.

Isso não elimina a possibilidade de quedas no curto prazo, vistas até como saudáveis após a rápida alta, mas que aumentam o risco de quem entra agora no mercado. A alta tem sido impulsionada pela entrada maciça de estrangeiros que, em abril, até dia 26, acumulavam um saldo na Bovespa de R$ 1,460 bilhão, elevando o total no ano para R$ 1,763 bilhão. Por isso, qualquer solavanco no exterior - como a crise política na Turquia na segunda-feira - pode ser o argumento para a realização.

A expectativa de retorno médio da bolsa também é mais estreita, 12,6% caso o Ibovespa, que fechou segunda a 48.856 pontos, bata 55 mil pontos - média das estimativas. O CDI, a 11,7% ao ano, pagaria 7,65% até dezembro. "Eu recomendo para o iniciante aplicar aos poucos, dividir o valor em três, quatro parcelas e comprar um pouco a cada semana, pois a chance de realização agora é grande", diz o gestor Rodrigo Tamer.

A forte alta dos dois últimos meses torna o mercado perigoso, diz Pedro Galdi da corretora do Banco Real. Ele acredita que tem de haver uma realização de curto prazo, para o mercado retomar a alta de forma consistente. "Podemos ficar testando os 50 mil até que o mercado mude de nível, mas ainda não é hora", diz.

Apesar disso, a agenda econômica internacional dá suporte para um mês bom para renda variável, afirma Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria. Os indicadores de atividade americanos devem trazer sinais de recuperação e inflação sob controle, e os bons resultados das empresas ajudarão a sustentar os níveis recordes do índice Dow Jones. "E isso puxaria o Ibovespa, com chance então de ultrapassar os 50 mil pontos", afirma Alessandra.

O fluxo de investidores locais saindo da renda fixa para ações é outro fator que deve sustentar a bolsa, afirma Alexandre Pavan Póvoa, diretor da Modal Asset Management. "Apesar da grande volatilidade prevista para este mês em torno dos indicadores americanos, a bolsa deve continuar escorregando para cima", diz. Além disso, os estrangeiros, diante da possibilidade de o Brasil obter grau de investimento, não querem vender, o que sustenta os preços.

Outro fator que favorece a bolsa é a queda do risco-Brasil, para a casa dos 140 pontos base. A maioria das corretoras está ajustando suas estimativas para as ações e para o Ibovespa a esse risco, lembra Daniel Doll Lemos, analista chefe da Socopa Corretora. O risco influencia o custo das empresas e o cálculo dos resultados futuros, que melhoram. "Reduzimos nossa premissa, de 250 pontos para 200, ainda conservadora, mas tem gente usando 180, 150 pontos".

Há muitos investidores estrangeiro novos procurando o Brasil, enquanto os antigos aumentam as aplicações, um fluxo que garante a alta das ações, diz Roberto Nishikawa, presidente da Itaú Corretora. "E, no mercado local, se os fundos mútuos aumentarem a participação de 8% para 15%, são mais R$ 30 bilhões para a bolsa." A instituição está revendo para cima a estimativa de Ibovespa, acompanhando um novo cenário econômico que projeta o dólar a R$ 2,05 até 2010. Mas Nishikawa acha que o momento é mais para papéis específicos, como de consumo e fornecedores do setor de construção.

Nos EUA, os bons resultados das empresas podem compensar os indicadores negativos da economia e ajudar a melhorar o desempenho do Dow Jones e, por tabela, da bolsa brasileira, diz Marco Melo, chefe da área de análise da corretora Ágora. Mais de dois terços das empresas do índice S&P 500 vieram com lucro igual ou acima do esperado, em alguns casos até 40% acima da previsão. No Brasil, esse lucro cresceria entre 20% e 25% sobre 2006. "É um dos mercados emergentes que têm a melhor taxa de crescimento do lucro."

No time dos que não mexem na projeção, a chefe de análise da Fator Corretora, Lika Takahashi, mantém o Ibovespa em 51 mil pontos. "Minha impressão é que a bolsa está esticada, não só aqui no Brasil como nos Estados Unidos", alerta, citando as preocupações com a desaceleração da economia e a inflação renitente nos EUA para justificar o cuidado. Para ela, a liquidez elevada no mercado internacional faz o investidor dar pouca atenção a esses fatores negativos e para os reflexos do fim da bolha imobiliária americana na economia, que ainda não acabaram. "Precisamos ver os impactos disso na economia dos EUA nos próximos meses", diz.