Título: Dilma corteja PR e amplia presença no Nordeste
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Fonte: Valor Econômico, 08/02/2013, Política, p. A8

Em meio a negociações voltadas a fortalecer a sua base de sustentação no Congresso e preparar o terreno para a reforma ministerial que deve ser realizada em março, a presidente Dilma Rousseff tomou a frente das articulações políticas para manter o PR na coalizão governista. Dilma também decidiu reforçar sua agenda de viagens pelo país e, portanto, sua campanha à reeleição.

Embora nos primeiros dois meses do ano o número de visitas aos Estados ainda seja menor em relação ao mesmo período do ano passado, é possível observar uma mudança na estratégia do Palácio do Planalto: em pré-campanha para a sua reeleição, Dilma tem ampliado sua presença em Estados governados pela oposição e no Nordeste, onde o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, conta com uma crescente influência.

O comportamento da presidente evidencia algo que já é dado como um fato no PT: Dilma Rousseff será mesmo candidata a reeleição em 2014. A mudança de postura da presidente convenceu inclusive os mais renitentes, que apostavam na volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre eles ministros e ex-ministros da administração Lula.

O PT se convenceu da recandidatura Dilma depois do encontro da presidente com o seu antecessor no dia 25 de janeiro. Ela sente-se "ungida" e ele "à vontade para se intrometer em assuntos de governo". O fato é que Dilma entrou em 2013 com uma agenda mais pública, como queria Lula.

Além das viagens aos Estados, medidas como a redução da tarifa de energia elétrica e dos pronunciamentos em tom e conteúdo de campanha, Dilma recebeu empresários e também sindicalistas, tudo de acordo com o figurino lulista. O ex-presidente também a aconselhou a defender o projeto do PT e reforçar a comunicação social do governo.

Na reunião do dia 25 de janeiro, estiveram presentes o presidente do PT, Rui Falcão, o ex-ministro Franklin Martins e o jornalista João Santana, marqueteiro da campanha de Dilma e que também está mais ativo e tem orientado a presidente sobre suas atividades públicas e pronunciamentos.

Assim como Lula, Dilma usará as viagens pelo país para aparecer nos veículos de comunicação locais e abordar, em entrevistas e discursos, temas que tenham impacto direto na vida dos cidadãos. Nos Estados governados pela oposição, Dilma buscará fortalecer uma imagem da "estadista" que não discrimina governadores e prefeitos.

Foi exatamente o que fez Dilma na terça-feira em entrevista a rádios paranaenses, quando perguntada se o calendário eleitoral de 2014 alteraria a política de investimentos do governo federal no Paraná. O Estado é governado pelo tucano Beto Richa. "O Brasil mudou", respondeu a presidente, lembrando que tem uma relação especial com o Estado de São Paulo devido à sua população e também com os Estados do Nordeste por conta das "carências" da região.

Dilma já tem três viagens nacionais agendadas para as próximas semanas. No dia 18, irá a Alagoas, Estado administrado pelo PSDB. A presidente pretende ainda desembarcar no Ceará e na Paraíba, respectivamente nos dias 26 de fevereiro e 4 de março. Ambos os Estados têm governadores filiados ao PSB.

Neste ano, ela também já visitou dois municípios do Piauí, São Paulo, Aracaju, Belém e duas cidades do Paraná. Estes dois últimos Estados são governados por tucanos. Comparando com o mesmo período de 2012, porém, o ritmo da agenda nacional da presidente desacelerou. Dilma realizou 11 viagens pelo país entre janeiro e fevereiro do ano passado. Em 2011, nos dois meses subsequentes à posse, Dilma fez apenas seis visitas a Estados. Já as viagens nacionais realizadas em março de 2012 e 2011 pela presidente levaram Dilma a deixar Brasília por duas e cinco vezes, respectivamente.

As agendas presidenciais nos Estados também servirão para Dilma estreitar relações com integrantes da base aliada, que têm reclamado da falta de acesso ao Palácio do Planalto. O mesmo motivo tem feito a presidente voltar a receber líderes partidários, num momento em que Dilma se prepara para realizar mudanças em sua equipe e os partidos políticos começam a desenhar os acordos que darão formato à campanha presidencial de 2014.

Na quarta-feira, Dilma reuniu-se com o senador Blairo Maggi (MT), que no passado já recusou um convite da presidente para assumir uma cadeira na Esplanada dos Ministérios. Ontem, a presidente recebeu em seu gabinete no Palácio do Planalto o presidente e líder do partido no Senado, Alfredo Nascimento (AM), o líder da legenda na Câmara, deputado Anthony Garotinho (RJ), e o senador Antonio Carlos Rodrigues (SP).

As reuniões, seguidas de um elogio público da presidente a Blairo Maggi por seu sucesso como produtor rural, fizeram ressurgir em Brasília os rumores de que o senador seria nomeado ministro. "Queria dirigir um cumprimento especial a um senador que nos acompanha, que é o senador Blairo Maggi, que foi governador do Mato Grosso e tem sido um exemplo para todos os produtores do Brasil", discursou Dilma, em recente viagem ao Paraná.

Blairo é o principal interlocutor da presidente no PR. No entanto, enfrenta resistências entre integrantes da cúpula da legenda. Além de não integrar a Executiva Nacional da sigla, Blairo já ameaçou deixar o partido. É também acusado por correligionários de ter deixado o PR se enfraquecer o partido em seu Estado.

Desde a crise que derrubou parte da cúpula do Ministério dos Transportes o PR cobra mais espaço na Esplanada dos Ministérios. Em 2011, o senador Alfredo Nascimento deixou a Pasta em meio a denúncias de irregularidades. Foi substituído pelo ministro Paulo Sérgio Passos, que também é filiado ao PR. Mesmo assim, o partido tenta indicar mais um nome para um ministério desde então e ameaça deixar a base aliada.

A sigla chegou a anunciar que adotara uma postura independente no Congresso, mas não criou grandes problemas para o Executivo em votações estratégicas. "O partido não quer ser oposição", resume uma liderança do PR, lembrando que o PR conta com cinco senadores e 34 deputados em exercício. A assessoria de imprensa do partido, por sua vez, declarou que não comentaria os encontros realizados no Palácio do Planalto e ponderou que a decisão sobre mudanças em ministérios é uma prerrogativa exclusiva da presidente.