Título: BNDES vê retomada de grandes projetos estruturantes
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 02/05/2007, Caderno Especial, p. F8

Com um orçamento de R$ 61 bilhões previsto para este ano, maior que o do Banco Mundial (Bird), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), criado no segundo governo de Getúlio Vargas, continua sendo uma instituição de fomento extremamente relevante para o investimento no Brasil. Os recursos do banco, que no ano passado desembolsou R$ 52,28 bilhões em 122.169 operações, continuam indo majoritariamente para grandes grupos empresariais, ao contrário do que se poderia supor num cenário de real valorizado e alta liquidez internacional. Do total de dinheiro liberado em 2006, 78% foram destinados a grandes empresas e 22% a pequenas e médias.

Nos últimos dois anos, os grandes clientes, que pertencem a setores tradicionais como os de infra-estrutura e indústria, voltaram a investir como há muito não faziam. A disposição é de dar grandes saltos em seus negócios por meio de novas plantas e expansões. Para Demian Fiocca, a vocação clássica do BNDES é de financiar projetos estruturantes, razão pela qual se destacam grandes projetos no seu portfólio. Fiocca conversou com o Valor ainda como presidente, cargo que transmitirá ao economista Luciano Coutinho, escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assumir o comando do banco estatal.

Em meados de 2004 as grandes operações voltaram a ser foco da instituição, apesar de ter crescido bastante o volume de aprovações para as pequenas empresas, diz Fiocca. "O volume de operações cresceu também para as pequenas empresas", ressalta. Mas os números de desembolso do primeiro trimestre de 2007 revelam que a história se repete. De janeiro a março, as liberações totais do BNDES alcançaram R$ 11,27 bilhões, com 42.134 operações. Desse total, R$ 8,23 bilhões foram para as grandes empresas e R$ 3,04 bilhões para as pequenas e médias. Em número de operações, as pequenas e médias predominam. Nos três primeiros meses do ano foram feitas 4.125 operações de financiamento para grandes empresas e 38 mil para as pequenas e médias.

Estes números confirmam o cenário de Fiocca de que está havendo um movimento de retomada dos grandes projetos de investimento no banco. De julho de 2004 a março deste ano, foram aprovados R$ 22,3 bilhões para grandes empresas. Só a Brasil Telecom, por exemplo, teve aprovados dois financiamentos. Um de R$ 1,3 bilhão, em julho de 2004, e outro de R$ 2,1 bilhões, em outubro de 2006. O grupo Suzano Papel e Celulose teve aprovada uma linha de R$ 2,4 bilhões para o projeto de expansão da Bahia Sul e a empresa ferroviária ALL levou R$ 1,1 bilhão também para modernização e expansão de seus serviços. Em janeiro, R$ 2,5 bilhões foram concedidos para construção de dez navios da Transpetro pelo estaleiro Atlântico Sul e, em abril R$ 1,8 bilhão para a construção de outros nove navios da Transpetro pelo estaleiro Rio Naval.

As duas últimas aprovações já compõem a carteira do BNDES para financiar projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Este ano, o PAC será uma das prioridades da instituição de fomento. O portfólio do BNDES soma 101 projetos do PAC, dos quais 78 da área de energia, 6 de logística e 17 da área social urbana, que inclui basicamente saneamento e transporte urbano. Estes projetos somam investimentos da ordem de R$ 38 bilhões. Do total destas operações, 33 já estão contratadas e 21 aprovadas.

Além do PAC, a instituição trabalha para agilizar os procedimentos de concessão de financiamentos a projetos. Essa reivindicação é antiga. Os empresários têm solicitado medidas para reduzir o prazo de aprovação dos projetos em sucessivas gestões, mas sem sucesso. Nos últimos meses da gestão Fiocca, foi montada uma equipe que costurou várias propostas para reduzir cada vez mais o tempo entre a entrada da consulta do financiamento pelas empresas até o desembolso.

"O avanço neste caminho é positivo para o banco sob todos os aspectos", diz Fiocca. Os técnicos do banco vão levar à nova diretoria um pleito em favor da continuidade do trabalho de desburocratização da instituição. Segundo estatísticas do próprio BNDES, os prazos para aprovação de projetos considerados complexos começaram a ser reduzidos em 2004. Em novembro daquele ano, ainda na gestão de Guido Mantega, eram de 12,07 meses, caindo para 10,61 meses em março de 2006 e fechando em março deste ano em 6,74 meses.

Fiocca deixa para seu sucessor um pacote de medidas para serem colocadas em prática nos próximos meses para diminuir mais o período de aprovação e desembolso dos recursos. O pacote inclui a sugestão de criação de "empréstimo-ponte", o que permitirá às empresas receberem recursos, em condições especiais, para tocar a obra enquanto o projeto estiver tramitando no banco, desde que o cliente seja de baixo risco. A medida será importante para projetos de infra-estrutura como os do PAC.

Outra medida sugerida é a ampliação da linha de limite de crédito, espécie de cheque especial gigante, criado por Mantega para acelerar os empréstimos a clientes com melhores ratings de avaliação no banco. O limite máximo atual deste "cheque especial" pode ir a R$ 900 milhões, como é o caso da Gerdau. Os prazos para pagamentos do limite de crédito, hoje limitados a cinco anos, ficarão alinhados com os prazos das linhas normais do banco. Outra proposta de Fiocca é que o banco faça análise e enquadramento de projetos simultaneamente, exigindo garantias de acordo com o grau de risco do cliente.

O sucesso das medidas poderá resultar em uma revolução cultural no BNDES, tornando-o menos burocrático e lento. A instituição ficaria melhor se atrelasse às medidas um fundo de aval mais funcional e ágil, instrumento que existe no banco para avalizar as garantias das pequenas e médias empresas aos agentes financeiros, mas que na prática não funciona.