Título: Cai fatia de instituições em repasses do BNDES
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2013, Finanças, p. C1

Os segmentos "corporate" dos bancos não costumam abrir seus números. Mas os repasses de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) feitos por essas instituições financeiras, as chamadas "operações indiretas", mostram duas coisas: que a participação dos bancos no total desembolsado pelo BNDES caiu significativamente no último ano e que foram os privados os grandes responsáveis pelo movimento de queda.

Em 2012, o volume de desembolsos feitos pelo BNDES cresceu 12%, se comparado ao ano anterior, totalizando R$ 155,9 bilhões. Desse total, no entanto, os recursos repassados pelos bancos credenciados, destacando os que utilizaram o FGPC - fundo que garante parte do risco de crédito nas operações de micro e pequenas empresas e médias empresas exportadoras - tiveram leve queda de 0,2% para R$ 84 bilhões.

Os números indicam também uma perda de participação das instituições financeiras no total desembolsado pelo banco de fomento: em 2011, 60,7% do que foi emprestado pelo BNDES passou pelos bancos, ante 53,9% em 2012. Além disso, o total desembolsado pelos grandes bancos privados teve queda significativa, sendo compensada pelo aumento dos empréstimos feitos pelas instituições públicas.

Desde 2006, a participação das operações indiretas no total emprestado pelo BNDES se manteve acima de 50%. O pico foi atingido em 2011, quando perto de 61% dos recursos liberados pelo BNDES chegaram às mãos dos tomadores via bancos. A exceção foi 2008, ano da crise financeira global.

Em 2012, os bancos públicos se consolidaram como os principais parceiros do banco de fomento. Na dianteira, o Banco do Brasil repassou R$ 24,036 bilhões de recursos no ano, uma alta de 33% em relação a 2011. A Caixa teve também uma alta expressiva nos repasses, de 34,5% para um total de R$ 3,8 bilhões.

Os dois maiores parceiros privados do BNDES - Bradesco e Itaú - se mantêm bem à frente da Caixa no total emprestado, mas perderam participação no bolo. No Bradesco, "os recursos necessários para dar combustão ao motor da economia brasileira", como frisou o presidente do banco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, em teleconferência no dia 29, recuaram 21% em 2012 para um total de R$ 12,3 bilhões. Já no Itaú, a baixa foi de 12% totalizando R$ 11,9 bilhões.

Outro que enfrentou queda nos repasses do BNDES foi o HSBC, cujas operações indiretas caíram de R$ 1,4 bilhão para R$ 971, 4 milhões - um recuo de 34%. "O mais correto seria considerar uma queda de 19%, de R$ 1,47 bilhão para R$ 1,2 bilhão, número que considera todas as modalidades de BNDES", diz Fernando Freiberger, diretor do corporate banking do HSBC.

Até mesmo os bancos ligados a montadoras - com peso importante no repasse de recursos - perderam participação. No banco Volkswagen, o quinto maior repassador de recursos, os empréstimos recuaram quase 22%.

A queda, porém, não atingiu a todos os privados. Entre os dez maiores parceiros do BNDES, o Santander viu seus empréstimos subirem para R$ 2,951 bilhões em 2012, 6,3% a mais do que em 2011.

Segundo uma fonte que preferiu não ser identificada, a queda dos repasses dos maiores bancos privados pode ser explicada por uma forte preocupação dos bancos com a inadimplência em 2012. Houve ainda uma migração, por parte das empresas, de linhas de mais longo prazo, para o financiamento de capital de giro e que movimenta volumes menores.

Simão Damasceno, superintendente executivo do Corporate do Banco Votorantim cita entre os fatores para a contração dos repasses a falta de visibilidade do empresário com relação ao crescimento do país e a inadimplência da pessoa física, que pode ter afetado os pedidos de empréstimo de empresas com operações no varejo. O Votorantim emprestou 35,8% menos em 2012 para um total de R$ 1,5 bilhão desembolsados. (FL)