Título: Bolsa cai pelo 4º dia seguido com exportadoras
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Fonte: Valor Econômico, 08/02/2013, Finanças, p. C2

A Bovespa reagiu indiretamente ao dado de inflação mais elevado em janeiro. A reação se deu por meio das ações de empresas exportadoras, que lideraram as perdas do dia, acompanhando a desvalorização do dólar perante o real. "O IPCA e as declarações do [presidente do Banco Central, Alexandre] Tombini tiveram um impacto psicológico sobre a cotação do dólar, o que acabou pressionando as exportadoras", avalia o estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala.

"O fato é que nada mudou na política monetária por enquanto", diz o especialista, que acredita que o governo não deixará o dólar ir abaixo de R$ 1,95. Gala lembra ainda que a Bovespa vem de uma "ressaca" das diversas mudanças anunciadas pelo governo nos últimos meses em setores como o elétrico e o bancário, além da redução do dividendo pago às ações ordinárias da Petrobras.

Junta-se a isso o clima negativo nas bolsas internacionais e a grande pressão vendedora dos estrangeiros sobre os contratos de Ibovespa Futuro que vencem na quarta-feira de Cinzas. O último dado da BM&FBovespa mostra que esse investidor está com posição líquida vendida de quase 95 mil contratos até quarta passada, quase 10 mil a mais do que na terça.

O Ibovespa marcou a quarta baixa seguida, com perda de 0,98%, aos 58.372 pontos, e volume de R$ 8,061 bilhões. Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones recuou 0,30%, para 13.944 pontos, o Nasdaq perdeu 0,11%, para 3.165 pontos, e o S&P 500 registrou baixa de 0,18%, aos 1.509 pontos. E na Europa, o Stoxx 600 recuou 0,22%, a 286,20 pontos. Lá fora, os investidores tentaram assimilar dados díspares da economia americana e também reagiram ao discurso do presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, sobre a valorização do euro e dos riscos para a economia da região.

Por aqui, as exportadoras concentraram a lista de maiores baixas: Suzano Papel PNA (-5,42%), Fibria ON (-3,25%), Vale ON (-2,78%), Vale PNA (-2,70%) e Embraer ON (-1,62%). Além do recuo do dólar frente ao real, outros fatores pesaram para a queda maior de Fibria e Suzano. O Valor informou ontem que o Ministério do Comércio da China abriu uma investigação antidumping sobre um tipo específico de celulose, a chamada "celulose solúvel", que tem como alvo produtores que exportam a matéria-prima ao mercado chinês a partir dos Estados Unidos, Canadá e Brasil. Aqui, o processo envolve a Bahia Specialty Cellulose (BSC).

A iniciativa pode complicar novamente as relações entre as indústrias de celulose e papel do Brasil e da China. Há mais de um ano, a indústria chinesa prepara uma acusação de dumping contra fábricas do Brasil, como retaliação às iniciativas do governo brasileiro sobre a importação de papel, como aumento da alíquota e licença prévia. No caso da celulose de eucalipto, especialidade de Fibria e Suzano, o pedido de investigação permanece em análise.

Na ponta positiva do Ibovespa ficaram as empresas que divulgaram balanços ou prévia de seus resultados, como ALL ON (4,14%), Cosan ON (3,16%) e Natura ON (2,71%). A ALL divulgou um Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) de R$ 332 milhões no quarto trimestre de 2012, 10,4% maior que no mesmo período de 2011. A Cosan triplicou seu lucro no terceiro trimestre fiscal para R$ 342,3 milhões. O resultado foi quase 50% maior que o esperado pelo mercado.

Já a Natura trouxe queda no lucro 11,5% no quarto trimestre, para R$ 257,3 milhões. Ainda assim, o resultado foi elogiado por analistas, que citaram a ampliação das vendas e o aumento da produtividade da fabricante de cosméticos. Segundo o presidente da empresa, Alessandro Carlucci, a queda no lucro foi provocada por efeitos não recorrentes, "que não estão ligados à gestão operacional da empresa".

OGX ON (1,88%) também figurou entre os destaques de alta do dia. O movimento, segundo operadores, foi apenas uma correção técnica, já que o papel acumula, neste ano, perda de 13,7%.

Petrobras PN terminou com baixa de 0,56%, a R$ 17,50, enquanto a ON voltou a recuar com mais força, marcando perda de 1,76%, a R$ 16,10, ainda sob o efeito da decisão da empresa de pagar dividendo menor a essa classe de ação.