Título: Em crise, Espanha reduz incentivo para fontes renováveis
Autor: Johnson , Miles
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2013, Empresas, p. B6

A mais nova tentativa do governo espanhol de conter seu endividamento cada vez maior com o setor de energia do país deverá resultar em queda nos lucros das empresas de fontes renováveis de energia. O governo tem um déficit de € 28 bilhões com setor, provocado por anos de subsídios.

A recente reforma do setor na Espanha vai obrigar as companhias de energias renováveis a escolher entre um preço fixo ou o preço do mercado por sua energia - eliminando um subsídio oferecido anteriormente -, sendo que o reajuste dos subsídios às fontes renováveis deixará de basear-se na inflação ao consumidor e passará seguir indicador que mede o núcleo da inflação.

As ações da Acciona, segunda maior operadora de energia eólica da Espanha, caíram 20%, enquanto os papéis da Abengoa, maior construtora de usinas de energia solar da Espanha, também tiveram forte desvalorização desde o anúncio das mudanças no fim da semana passada.

Analistas da Mirabaud projetam que o lucro por ação da Acciona deverá cair 40%, enquanto o da Abengoa deverá ter queda de 12%. Na Iberdrola, cujas atividades com fontes renováveis representam uma parte bem menor do lucro total, o declínio deverá ser de 3%. Analistas do Goldman Sachs, por sua vez, projetam queda de 60% no lucro por ação da Acciona.

Durante os anos vertiginosos da onda de expansão do setor de construção civil na Espanha, uma série de subsídios e incentivos para as energias solar e eólica tornaram o país um dos destinos mais atrativos do mundo para a chamada "energia verde", embora as tarifas cobradas tenham, em parte, provocado desequilíbrios no mercado de energia e o acúmulo de dívidas, com garantia do governo.

O atual governo espanhol, desde que assumiu o poder no fim de 2011, vem tentando lidar com a dívida conhecida como o "déficit da tarifa", hoje de quase € 28 bilhões. Mas o governo teve de enfrentar a reação de grupos de defesa das fontes renováveis e investidores argumentando que as reformas são retroativas e vão destruir seus lucros.

Empresas do setor pressionam agressivamente o governo, com concessionárias elétricas de fontes tradicionais e de fontes renováveis sustentando que vêm sendo afetadas de forma injusta pelas propostas dos últimos 12 meses. A nova lei energética espanhola é resultado de decreto governamental, com o que as empresas afetadas não terão muitas chances de contestá-la.

As leis apresentadas dessa forma - a última é a quinta envolvendo o setor de energia desde que o atual governo assumiu o poder - não podem ser modificadas pelo Parlamento, apenas ser aprovadas ou rejeitadas pelos parlamentares. Como o governo tem maioria absoluta com o Partido Popular, a expectativa é a de que a lei seja aprovada.

Embora se estime um impacto menor nas empresas de energia integradas da Espanha, que além das fontes tradicionais também operam parques eólicos, as ações da Iberdrola e Endesa, controlada pela italiana Enel, também se desvalorizaram. Como resultado das reformas, esses grupos estarão livres de ter de contribuir com € 2,2 bilhões para conter o déficit da tarifa, já que o governo espanhol oferecerá uma linha de crédito para aliviar o impacto das mudanças propostas.