Título: Faturamento da indústria aumenta, mas folha salarial sobe mais
Autor: Lima , Flavia
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2013, Brasil, p. A4

O balanço de 2012 foi claramente negativo para a indústria da transformação, afirma Flavio Castelo Branco, gerente-executivo de política econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ao comentar os números da pesquisa Indicadores Industriais, divulgada ontem pela CNI.

Além de uma deterioração evidente do quadro da atividade industrial no ano passado, os números mostram também que um dos poucos dados positivos do ano - a alta do faturamento real da indústria em 2012 com relação a 2011 - inspira preocupação. Há ainda um descasamento importante e não visto em 2011 entre o faturamento real e a massa salarial real do segmento.

O faturamento real (descontada a inflação), cresceu 2,4% em 2012, puxado pelo ajuste dos estoques e pelo uso de insumos importados pela indústria. O motivo de alerta é que a alta foi bem menor do a verificada nos últimos anos - em 2011, por exemplo, o faturamento real da indústria cresceu 5,1%. Além disso, enquanto em 2011 o faturamento real e a massa salarial real da indústria andaram juntos, em alta de 5,1% e 5,2%, respectivamente, em 2012 o quadro mudou. A alta do faturamento (de 2,4%) foi bem inferior à da massa salarial, que teve expansão de 5,1%.

Para Castelo Branco, o descompasso mostra que, apesar das dificuldades, há uma manutenção do emprego e da remuneração paga pelo setor industrial a seus trabalhadores. "Ao mesmo tempo, como se produz menos com a mesma quantidade de mão de obra, e se fatura proporcionalmente menos, isso acaba se refletindo em menor produtividade e maior pressão de custos", diz.

Castelo Branco avalia que esse quadro precisa ser revertido, mas não enxerga a redução da remuneração como a melhor opção. "Precisamos estimular a produção e para isso as medidas de redução de custos e de elevação da competitividade são críticas".

Para Antonio Corrêa de Lacerda, professor do programa de estudos pós-graduados em economia política da PUC de São Paulo, o descolamento entre os números seria insuportável para a indústria, caso se configurassem como uma tendência de longo prazo. O professor, no entanto, acredita que o movimento não teria fôlego para se manter no próximo ano. "Isso é pontual."

Para Lacerda, os salários continuarão crescendo na indústria, pressionados pelo mercado de trabalho apertado. Em reação a isso, contudo, o professor antevê um movimento estrutural de busca da expansão de produtividade no segmento por meio de aumento de investimentos em automação e racionalização das linhas de produção. "Se isso [o descolamento entre os números] ocorresse em um ambiente de mercado de trabalho mais frágil fatalmente resultaria em desemprego. Mas como a situação não é essa, o foco da indústria deve ser em ganho de competitividade."

A pesquisa da CNI apontou ainda que as horas trabalhadas na indústria tiveram queda de 1,5% no ano passado em relação a 2011, indicando que a produção, como os números do IBGE já mostraram, é menor. Dos 19 setores pesquisados pela CNI, 12 apresentaram queda no número de horas trabalhadas, com os maiores recuos registrados em material eletrônico e de comunicação (-10,1%) e equipamentos de transporte, exceto veículos automotores, com baixa de 7,4%.

A queda da atividade da indústria em 2012 afetou também o mercado de trabalho e, com isso, o emprego industrial, que teve leve baixa de 0,2% no ano passado em relação a 2011. Cinco setores registraram quedas significativas: produtos de metal (-6,8%), material eletrônico e de comunicação (-5,8%), têxtil (-4,1%), couros e calçados (-3,4%) e madeira (-2,6%). O quadro foi agravado ainda e pelo uso mais baixo da capacidade instalada, indicando que a indústria trabalhou com ociosidade. A indústria operou, em média, com 81,3% da capacidade instalada no ano passado, um nível 0,9 ponto percentual menor que em 2011, quando o índice foi de 82,2%.

Para 2013, as expectativas para 2013 são bem moderadas. "Tudo vai depender de quão efetivas vão se mostrar medidas como a desoneração da folha de pagamento, a entrada em vigor da redução dos custos de energia e o programa ampliado de infraestrutura enfatizado recentemente pelo governo", diz Castelo Branco. Para ele, o comportamento do câmbio em 2013 "passou a ser uma incógnita" para a indústria, diante do vaivém do dólar nas últimas semanas.

Para Castelo Branco, a economia só volta a crescer e, com ela, a indústria, com a continuidade e efetividade de medidas de redução de custos e o retorno de investimentos. "Essas são as variáveis críticas para a retomada da atividade em 2013". Para o economista da Tendências, Rafael Bacciotti, os esforços do governo em reduzir custos de salário e de produção são positivos e devem surtir algum efeito. Para ele, a produtividade ao longo de 2013 deve mostrar alguma melhora, puxada por uma esperada retomada da produção.