Título: Indústrias fora do eixo Rio-São Paulo voltam a crescer no ano passado
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2013, Brasil, p. A4

Na contramão da indústria nacional, que amargou queda de 2,7% na produção em 2012 ante o ano anterior, as indústrias fora do eixo Rio-São Paulo surpreenderam positivamente, impulsionadas por atividades ligadas às commodities industriais. Das 14 localidades pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cinco mostraram aumento na produção industrial em 2012 ante ano anterior. É o caso de Minas Gerais (1,4%), Goiás (3,8%) e, principalmente, da região Nordeste (1,7%) - com especial destaque para Pernambuco (1,3%) e Bahia (4,2%).

Esses avanços, porém, foram exceção no cenário industrial regional do ano passado, que mostrou predomínio de taxas negativas entre as localidades, segundo o IBGE, que apresentou ontem a Pesquisa Industrial Mensal Produção Física - Regional de 2012. Para analistas, o cenário foi positivo para o desenvolvimento de economias regionais. Mas comprova um fato incômodo: não há sinais de recuperação de atividade em regiões com forte presença da indústria da transformação, que representa 75% do setor industrial como um todo.

No caso da indústria nordestina, a expansão em 2012 é ainda mais significativa, porque representa recuperação ante o ano anterior. Em 2011, a atividade industrial na localidade caiu 4,4% em comparação com 2010. A utilização de base de comparação baixa favoreceu aumento de produção industrial na localidade, na análise do professor do Ibmec-RJ Ruy Quintans.

Mas um possível efeito estatístico não foi o único fator a conduzir ao resultado. Expressiva presença de indústrias de refino de petróleo, e de papel e celulose, ajudaram a compor o quadro de retomada na região, na análise do consultor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas IBRE/FGV), e ex-coordenador de Indústria no IBGE, Silvio Sales. Essas atividades, no Nordeste, mostraram cenário mais favorável em 2012, com expansão em torno de 3,5% na produção de refino de petróleo e álcool, e expansão de cerca de 8% na atividade do setor químico. Isso ajudou a impulsionar a indústria nordestina como um todo.

A Bahia foi o Estado que mais ajudou na recuperação da atividade nordestina, segundo o gerente da coordenação de indústria do IBGE, André Macedo. "A indústria baiana foi impulsionada pela produção de químicos e refino de petróleo, setores que vêm crescendo muito em função da baixa base de comparação de 2011. Juntos, esses setores têm um peso de 50% da indústria da Bahia, o que nos ajuda a entender o crescimento industrial naquele Estado", disse Macedo.

A melhora da indústria nordestina foi classificada como positiva pelo economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério César de Souza. Ele admitiu que taxas positivas contínuas em horizonte de longo prazo podem elevar a participação de regiões fora do eixo Sudeste dentro do total da indústria nacional. "Mas isso ocorreria se esse cenário se repetisse em um cenário bem de longo prazo. São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais ainda representam, juntas, quase 60% do total da indústria nacional", ressaltou.

Atualmente, a indústria nordestina representa apenas 10% do total nacional. Por isso, na análise de Souza, uma recuperação sustentável da atividade industrial brasileira somente seria possível ancorada em São Paulo, onde reside a maior concentração de indústria da transformação do país, e que representa 42% da indústria nacional. Porém, a indústria paulista mostrou queda de 3,9% na produção de 2012 ante ano anterior - a segunda pior em 20 anos. As ações tomadas pelo governo de estímulos à atividade industrial, como redução de preço de energia e melhorias em infraestrutura e logística (o que também ajuda a reduzir custos industriais), devem contribuir para melhora na produção, em São Paulo e no País, assinalou o especialista do Iedi. "Mas essa melhora não vai acontecer da noite para o dia", afirmou.