Título: Fracasso eleitoral de ex-estrelas de CPIs motiva cautela do PSDB
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 03/05/2007, Política, p. A12

O fracasso eleitoral de algumas das principais estrelas das grandes CPIs de 2005, o temor da desmoralização, se a investigação não chegar a um bom diagnóstico sobre a crise do setor e um líder sem muita autonomia de ação ajudam a explicar o desconforto do PSDB em relação à CPI do Apagão Aéreo, segundo deputados e dirigentes tucanos.

Para uma boa parte da bancada ainda é nítida a lembrança do que ocorreu com parlamentares como Delcídio Amaral (PT-MS), presidente da CPI dos Correios, e Garibaldi Alves (PMDB-RN), relator da CPI dos Bingos, que perderam a eleição para o governo de seus Estados, apesar da ampla exposição a que foram submetidos durante as investigações. Os casos de sucesso, como os de ACM Neto (DEM-BA), Gustavo Fruet (PSDB-PR) e José Eduardo Cardozo (PT-SP) não bastam para que deputados considerem que participar de CPI não é um bom passaporte eleitoral.

Um caso é bastante comentado na bancada: o do ex-deputado Luiz Máximo (PSDB-SP), que foi relator do processo de cassação do ex-presidente da Câmara Ibsen Pinheiro, em 1993. Na campanha, Máximo adotou o slogan "o homem que cassou Ibsen". Não conseguiu a reeleição.

O temor da desmoralização, numa CPI em que o governo é amplamente majoritário, ronda os deputados do PSDB. O receio é maior com os novatos, os que mais parecem seduzidos pela perspectiva dos holofotes. Uma das estrelas da CPI dos Correios, o deputado Gustavo Fruet não demonstrava muito interesse em participar da CPI do Apagão Aéreo - foi relacionado entre os titulares para ser o "ponto de equilíbrio" tucano.

Esse "ponto de equilíbrio" segundo dirigentes tucanos, seria a CPI produzir um bom diagnóstico sobre a crise do setor aéreo, questionar o "equívoco" das prioridades adotadas, como investir em aeroportos mais que na segurança das pistas, e discutir a questão salarial e dos equipamentos de controle de vôo. "Os escândalos da Infraero entrarão naturalmente, mas não pode ser o centro da CPI. A força de uma CPI está no resultado. Por isso a do Collor (o ex-presidente Fernando Collor) deu certo", avalia um tucano bem situado na hierarquia do PSDB.

A questão dos governadores, que precisam manter um bom relacionamento administrativo com o governo federal, existe mas não explicaria todo o desconforto exibido pelo PSDB da Câmara. Da ala serrista do partido, o líder Antonio Carlos Pannunzio (SP) se posicionou contra a criação da CPI do Senado, o que foi logo entendido como sendo a posição do governador de São Paulo, José Serra.

Em uma conversa com os senadores do PSDB, no mesmo dia em que esteve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador foi questionado sobre o assunto. Serra, que não queria se indispor com os senadores, respondeu que não era contrário à CPI do Senado e deu seu aval à proposta. Quando foi informado da conversa, Pannunzio comentou, desolado, segundo o testemunho de deputados tucanos: "O Serra mudou de posição". O fato é que as manifestações de Pannunzio em geral são vistas como "coisa do Serra", como ocorreu, por exemplo, quando o PSDB da Câmara decidiu apoiar o candidato do PT a presidente da Câmara.