Título: BNDES, com Coutinho, terá ênfase na inovação
Autor: Góes, Francisco e Grabois, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 03/05/2007, Brasil, p. A3

Uma das linhas prioritárias da gestão do novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, será estimular e ampliar os processos de inovação no meio empresarial. Coutinho, que recebeu ontem o cargo do ex-presidente do banco Demian Fiocca, já tem em mãos pedido do ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, para que prepare uma série de estudos setoriais de longo prazo que terão a inovação como um dos eixos centrais de reflexão.

"É a inovação que permite criar mercados, melhorar preços, diferenciar produtos e produzir com maior eficiência", disse Coutinho em sua primeira entrevista como presidente do BNDES. Ele informou que amanhã terá uma primeira reunião de trabalho com Miguel Jorge. Na entrevista, Coutinho sinalizou que o banco, sob sua administração, dará continuidade ao trabalho que vinha sendo feito por Fiocca.

Coutinho indicou que não devem ocorrer mudanças significativas na diretoria: "Vamos, no momento certo, fazer ajustes, mas não mexer em nada que está funcionando bem. Não vamos fazer nenhuma grande mudança, mas é natural que um presidente tenha margem para aperfeiçoamentos", disse. Ele avaliou também que há espaços para redução da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), usada na correção dos empréstimos do banco: "À medida que a Selic (a taxa básica de juros da economia) caia, será importante refletir sobre a conveniência de uma redução adicional na TJLP."

Segundo ele, a TJLP real (descontada a inflação) está próxima às taxas de juros reais cobradas por bancos de desenvolvimento asiáticos. "Estamos perto de um padrão para financiamento de longa maturidade viável, razoável", avaliou. Ele também manifestou-se favorável a uma redução mais rápida da Selic, hoje em 12,5% ao ano. "A expectativa é que (a Selic) continue caindo e, se depender da minha torcida, que caia um pouquinho mais depressa, mas isso é matéria do ministro Guido Mantega (Fazenda) e do presidente do BC, Henrique Meirelles", salientou.

Coutinho afirmou também que o banco vai adotar metas para tornar mais rápidas as liberações de empréstimos às empresas. "Vamos encontrar mecanismos para acelerar (a aprovação de empréstimos) e ter ganhos de produtividade na operação do banco." Ele disse estar confiante de que o Brasil entrará em um ciclo de expansão da economia e, neste cenário, ganhará força a demanda privada por investimentos junto ao banco.

Ontem pela manhã, ao discursar para um plenário cheio de empresários, economistas e técnicos do BNDES, umas 600 pessoas reunidas na sede do banco, Coutinho criticou o desempenho do Brasil no conjunto mais dinâmico das cadeias manufatureiras, aquelas ligadas às tecnologias de informação e de comunicações. "Não há dúvida de que, nesse campo, o Brasil marcou passo enquanto as economias asiáticas em desenvolvimento vêm avançando celeremente na manufatura e na exportação de bens e serviços associados às tecnologias de informação e de comunicações", afirmou.

Coutinho disse que essas cadeias, cujas taxas de crescimento são duas vezes e meia superiores à média internacional, representam apenas 5,5% do valor agregado da indústria brasileira. Nos países desenvolvidos, esse percentual é, em média, de 27,5% no valor agregado da indústria. Na sua visão, a indústria brasileira precisará acelerar os seus processos de inovação em todos os planos: produtos, processos, aumento contínuo da produtividade e de avanços na qualidade da gestão e da governança.

"Por isso, a inovação no plano empresarial deve merecer estímulo e apoio sistêmico com empenho redobrado, como fazem os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento que estão logrando dominar a terceira onda de progresso industrial e tecnológico", discursou. Cumpre ao BNDES, segundo ele, apoiar também as cadeias intensivas em recursos naturais e produtoras de commodities não apenas com ampliação de capacidade produtiva, mas também via aceleração de inovações.

Coutinho avaliou que o Brasil não pode ficar de fora do jogo envolvendo setores de tecnologia da informação e comunicação. "O desafio é como entrar de forma eficiente neste jogo e um critério que propus é que sejam projetos competitivos globalmente, diferente do passado quando o foco estava no mercado interno", disse. Ele revelou ter recebido orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para "encorpar" a política industrial que, em um primeiro momento, concedeu prioridade à microeletrônica, ao desenvolvimento de softwares e aos bens de capital.

Ele acrescentou que os projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), assim como os setores exportadores afetados pela valorização do real, receberão maior atenção do banco. Ele se reuniu com a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, que lhe chamou a atenção para alguns projetos do PAC, como a Ferrovia Norte-Sul e a hidrelétrica de Estreito, no Rio Tocantins.

Em relação aos setores afetados pelo câmbio, Coutinho disse que o Ministério da Fazenda estuda um conjunto de medidas e que, no que cabe ao BNDES, o banco estudará melhoria nas condições de financiamento e avaliará redução dos spreads, além de analisar operações no mercado de capitais para facilitar a capitalização de empresas exportadoras. (* Do Valor Online)