Título: Espanha e Itália voltam a lançar dúvidas sobre euro
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Fonte: Valor Econômico, 07/02/2013, Internacional, p. A11

Incertezas políticas ameaçam a frágil trégua obtida nos últimos meses pela Itália e pela Espanha, as duas economia europeias que mais preocupam os mercados. O spread da dívida desses dois países voltou a subir esta semana, e o temor de um novo período de turbulência fez o euro cair ontem em relação ao dólar.

Na Espanha, o premiê Mariano Rajoy está sob suspeita de ter recebido pagamentos não declarados de seu Partido Popular, por meio de uma conta secreta abastecida por contribuições de empresas. O escândalo, uma espécie de mensalão espanhol, atinge ainda outros membros do partido.

Tanto Rajoy como o partido negam as acusações, mas em entrevista coletiva esta semana, o premiê disse que a denúncia, publicada pelo jornal "El País", estava toda errada, "exceto alguma coisa", sem especificar o quê. A oposição socialista já pediu a renúncia de Rajoy, e têm ocorrido manifestações de rua diárias contra o governo.

No caso da Itália, o país terá eleições legislativas no final deste mês, e o que parecia uma vitória certa do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, está se transformando num imbróglio de incertezas, com o avanço nas pesquisas do ex-premiê Silvio Berlusconi, ancorado por um punhado de propostas populistas que minariam a política de ajuste fiscal do atual premiê, Mario Monti.

Algumas pesquisas de intenção de voto já mostram o partido de Berlusconi, o Povo da Liberdade (PDL), em empate técnico com o PD, de Pier Luigi Bersani. O imbróglio é tanto que não se sabe ao certo que é o candidato a premiê do PDL. Formalmente, é o líder do partido, Angiolino Alfano. Na prática, porém, quem aperece com líder e faz propostas de governo é Berlusconi, que renunciou ao governo há pouco mais de um ano, quando a Itália estava ameaçada de ter de pedir ajudar financeira internacional.

Os mercados temem que uma mudança de governo e eventualmente de política econômica possa agravar a situação fiscal nos dois países, jogando-os de volta na crise da dívida, que teve seu pico entre 2011 e 2012.

Desde meados do ano passado, os juros pagos por Itália e Espanha para rolar sua dúvida vinham caindo (veja gráfico). Mas esta semana, diante das incertezas políticas, eles voltaram a subir. As principais bolsas na zona do euro fecharam em baixa ontem.

"As pessoas acenderam o sinal de alerta para esses riscos políticos na Espanha e na Itália, mas ninguém sabe muito bem o que fazer com isso", afirmou Marius Daheim, estrategista sênior de renda fixa do alemão Bayerische Landesbank, de Munique.

O euro, que vem se valorizando há 14 meses, caiu ontem em relação às principais moedas globais.

"O euro está reagindo a essas questões políticas que vem da Itália e da Espanha", disse Charles St-Arnaud, estrategista de câmbio da Nomura Holdings, em Nova York.

"Parece que estamos começando a trazer as preocupações de volta para a Europa", disse Sandy Lincoln, estrategista-chefe de mercado do BMO Global Asset Menagement, de Chicago. "Estamos num ambiente muito frágil, e onde quer que haja vidro que pode se quebrar facilmente, as pessoas ficam preocupadas."

Com a eleição italiana marcada para 24 de fevereiro e as investigações na Espanha avançando lentamente, as incertezas políticas devem persistir por várias semanas ou até meses, o que deve elevar a volatilidade nos mercados.