Título: Pré-aprovado desaparece
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 11/12/2010, Economia, p. 18

As linhas automáticas de financiamento para os bons clientes das instituições financeiras secaram após o aperto monetário imposto pelo governo. Alta de juros deve piorar a situação no ano que vem

A farra do dinheiro fácil acabou. Depois que o Banco Central (BC) apertou a política monetária para evitar bolhas de crédito e desequilíbrios, como os que geraram a crise de 2008 nos Estados Unidos, as primeiras linhas de financiamento a secar foram as pré-aprovadas. Clientes classificados como bons pagadores, que antes tinham uma infinidade de opções para parcelar suas compras, levaram um susto ao pegar os extratos bancários na última semana. O empréstimo, anteriormente disponível mesmo sem ser solicitado, não estava mais à mão. O objetivo das instituições é evitar riscos.

A opção dos bancos de diminuir a oferta excessiva de crédito está de acordo com o planejado pela autoridade monetária quando decidiu retirar R$ 61 bilhões da economia e ¿cobrar um prêmio¿ maior pelos financiamentos de risco. ¿É natural uma retração nessas linhas de crédito pré-aprovadas. Estávamos em um processo de tomada de recursos muito fácil e que oferecia grande risco. Poderia nascer dali o subprime brasileiro¿, argumentou Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do BC. A referência é aos empréstimos imobiliários com baixas garantias nos Estados Unidos, que detonaram a crise global.

Saldo médio O Correio conversou com clientes de quatro grandes instituições: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Santander e Bradesco. Todos observaram encolhimento nas linhas de financiamento disponíveis e, em alguns casos, extinção da modalidade pré-aprovada. ¿Esse tipo de crédito é o que a instituição dá para clientes regulares. Se você tem um saldo médio, fez empréstimos, pagou certinho e tem um bom score (classificação dentro do banco), a instituição ¿ que quer ganhar dinheiro com o empréstimo ¿ já o deixa aprovado¿, explicou Carlos Coradi, presidente da EFC Consultores. ¿Mas provavelmente pelo aumento do compulsório, os bancos vão retrair essa opção.¿

O consumidor que espera um ano novo mais ameno para o bolso, com uma volta do crédito barato, pode se preparar. A expectativa do mercado é que o BC inicie um novo ciclo de aperto já na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do governo Dilma Rousseff, em 18 e 19 de janeiro. O reflexo direto de uma elevação da taxa básica de juros (Selic) são empréstimos mais caros. Na sabatina no Senado, o futuro presidente do BC, Alexandre Tombini, explicou o motivo: metade da economia é financiada, o que dá mais potência para a Selic na missão de conter o consumo e domar a inflação.

O Correio entrou em contato com os bancos para avaliar o impacto das resoluções do BC nas carteiras de crédito, mas apenas dois responderam. O BB disse que tem adequado ¿suas linhas de crédito para pessoa física ao novo cenário concorrencial¿ trazido pelas medidas do BC. A Caixa negou qualquer alteração nas tabelas. ¿A Caixa Econômica Federal informa que está avaliando os impactos das medidas anunciadas pelo governo. Dessa forma, ainda não alterou nenhuma de suas linhas de crédito para pessoa física¿, informou em nota. ¿Não houve, portanto, nenhuma mudança nas tabelas de valores, taxas ou prazos dos empréstimos oferecidos pela Caixa.¿

Manutenção mais cara

Gustavo Henrique Braga

A escalada de preços no setor automotivo torna cada vez mais difícil para o brasileiro manter um veículo particular. A inflação do carro, medida pela Agência AutoInforme, registrou alta de 1,83% em novembro, o que levou o acumulado no ano a 7,1%. O etanol foi o produto com maior elevação no mês, obrigando os motoristas a gastar 6,95% a mais para abastecer os veículos. No ano, o álcool subiu 5,66%.

Para se ter uma ideia do impacto no bolso, o combustível representa mais de 30% do custo de um motorista e é o item de maior peso na composição do índice. Por isso, qualquer alteração dos preços tem grande influência.

A composição da inflação do carro é feita com base na evolução dos valores de todos os produtos e serviços que o motorista compra e usa para andar e fazer a manutenção do veículo: peças, combustíveis, impostos e seguros, por exemplo. Itens como bateria (5,6%) e cambagem ( 4,7%) também tiveram aumentos expressivos no mês. No ano, as peças estão, respectivamente, 11,69% e 11,58% mais caras.

A mão de obra de oficina teve uma alta de 2,66% no mês e 5,83% no ano, já o preço da lavagem simples subiu 2,56% e 7,14%, respectivamente. Ficaram mais baratos, no mês passado, as pastilhas de freio (-1,89%), o filtro de combustível (-1,02%) e o filtro de óleo (-0,61%).