Título: Seleção de ouro
Autor: Cotias, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 03/05/2007, EU & Investimentos, p. D1

Com a esticada do Ibovespa - que subiu 6,9% só em abril e beirou os 50 mil pontos -, os participantes da Carteira Valor tiveram de fazer muita ginástica para compor a seleção de maio. Depois de o índice acumular alta de mais de 10% em apenas quatro meses, os analistas contam que já não há mais barganhas. A queda do risco-Brasil e os bons lucros apresentados pelas empresas até agora dão, porém, pistas sobre quais papéis ainda podem trazer resultados para o investidor.

Em abril, a Carteira Valor ganhou 4,14%, abaixo do Ibovespa, mas no ano o portfólio sugerido leva a melhor, com retorno de 14,02%. Em 12 meses, o placar é de 39,24% para a lista de eleitas, contra 21,29% da principal referência do mercado acionário.

No mês passado, as units (recibos de ações) da América Latina Logística (ALL) é que foram o cavalo azarão, com queda de 4,95%. Nem por isso deixaram de ser destaque na carteira de maio, com três votos, empatando com as preferenciais (PN, sem voto) da Lojas Americanas e da Gerdau PN. Petrobras PN, que vem oscilando ao ritmo das cotações do petróleo e perdeu 1,26% em abril, ficou no topo, com quatro recomendações

"Petrobras ficou atrasada em relação ao índice e está descontada quando comparada às concorrentes internacionais", diz o analista da corretora do Banco Real José Francisco Cataldo. No portfólio indicado, o especialista incluiu Copel PNB. "A companhia teve um resultado forte no primeiro trimestre e vai se beneficiar do aumento dos volumes de energia vendida e do fim dos descontos tarifários."

Com a boa safra agrícola e o aumento dos volumes transportados em março e abril, as units da ALL seguem na lista "top 5" da Itaú Corretora. "Alguns problemas operacionais com a Brasil Ferrovias podem ter atrapalhado os resultados do primeiro trimestre, mas a rota já foi corrigida e a empresa tende a manter boa performance ao longo do ano", diz o estrategista de renda variável Fábio de Araújo. Na carteira de maio, foram incluídas as PNs da Brasil Telecom e da Bradespar, além da PNB da Cesp, numa tentativa de capitalizar a possível privatização pelo governo Serra. "Apesar de faltar estabelecer um novo preço, a arquitetura do processo está pronta, o que pode acelerar a venda", diz Araújo. E a grande vantagem da classe PNB, acrescenta, é que garante "tag along", o prêmio de controle, de 100% aos minoritários.

O setor elétrico também vem representado nas indicações da Link Corretora, com o acréscimo das ordinárias (ON, com direito a voto) da CPFL Energia. "É um segmento importante na dinâmica doméstica da economia e o papel ficou para trás em comparação aos seus pares", diz o chefe de análise, Adriano Blanaru. A carteira recomendada, com Itaúsa, Lojas Americanas, ALL e Totvs, manteve o seu tom na expansão da atividade local, como estratégia de proteção a uma eventual mudança de humor no mercado internacional. "A elevação das projeções do PIB, os dados de atividade, de consumo e aumento de renda têm surpreendido e corroboram com essa visão."

O apelo do mercado interno pautou as escolhas da Unibanco Corretora, que incluiu Eternit ON. "A empresa pode ganhar com o desenvolvimento do setor imobiliário com foco na baixa renda", diz o estrategista Carlos Macedo.

A Concórdia manteve M.Dias Branco e incluiu Embraer, Sabesp, Brasken e Saraiva. As duas últimas pela possibilidade de comandarem movimentos de consolidação em seus respectivos segmentos, defende o chefe de análise, Eduardo Kondo. "A Brasken vai ficar com a Copesul, um dos melhores ativos petroquímicos do Brasil, e vem ocupando espaços na América do Sul", diz. "A Saraiva extrai seus melhores resultados no primeiro trimestre e ainda tem o caixa da oferta pública feita no ano passado para usar em aquisições."