Título: Zeina Latif deve ir para o Banco Central
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 11/12/2010, Economia, p. 20

Economista renovará ares no BC ao assumir a diretoria de Estudos Especiais, que traça cenários sobre juros

Depois de nomear um ministério sem expressão e velho, por incluir vários integrantes do governo Lula, a presidente eleita, Dilma Rousseff, decidiu pela renovação no Banco Central. Se nada mudar no meio do caminho, a economista Zeina Latif, hoje trabalhando na filial brasileira do Royal Bank of Scotland, será nomeada para a diretoria de Estudos Especiais do BC, responsável por abastecer o comando da autoridade monetária de informações fundamentais para decisões sobre a taxa básica de juros (Selic).

Apontada como uma das mais brilhantes profissionais de sua geração, Zeina já conversou com o presidente indicado para o BC, Alexandre Tombini, e está dependendo, agora, do envio de seu nome para o Senado, onde terá que passar por uma sabatina. Zeina foi indicada por Mário Mesquita, ex-diretor de Política Econômica do BC, com quem havia trabalhado no antigo ABN Amro Bank.

Com uma visão bastante diferenciada do mercado financeiro, Zeina é muito bem avaliada dentro do BC e no Ministério da Fazenda. ¿Ela foge do padrão dos economistas de bancos. Enquanto a maioria deles está preocupada em criar cenários para que as instituições nas quais trabalham lucrem especulando com juros, Zeina opta por avaliações técnicas, respaldadas¿, disse um integrante do governo de transição.

Em recente entrevista ao Correio, Zeina alertou ver espaço para o BC reduzir os juros ainda neste ano, desde que o governo cumpra a promessa de economizar 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB) para conter a dívida pública.

Indústria estagnada » Cristiane Bonfanti

A dificuldade do governo em conter a valorização do real frente ao dólar continua fazendo estragos. Pelo terceiro mês seguido, além de sofrer com a invasão de artigos importados no mercado, as fábricas brasileiras enfrentaram dificuldades para vender os seus produtos a outros países e não conseguiram responder às demandas do mercado de trabalho. Segundo a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a indústria não criou vagas entre setembro e outubro. A taxa do emprego industrial ficou nula, após ter permanecido praticamente estável nos dois meses anteriores (0,1% em agosto e -0,1% em setembro). Na comparação com outubro do ano passado, houve uma expansão de 4,2%.

O enfraquecimento da indústria foi uma das principais influências negativas para o desempenho da economia brasileira no terceiro trimestre, que avançou apenas 0,5% ante os meses de abril, maio e junho. ¿Alguns setores, como o siderúrgico e o de petróleo, estão sofrendo uma concorrência muito forte de produtos importados e essa situação começa a se refletir na criação de empregos. Além disso, as fábricas acumularam estoques no primeiro trimestre e, nos dois seguintes, tiveram de colocar o pé no freio na produção para queimá-los¿, explicou o pesquisador do IBGE Fernando Abritta.

Para o superintendente adjunto de ciclos econômicos da Fundação Getulio Vargas (FGV), Aloísio Campelo Júnior, além da valorização do real, o fim da redução do imposto sobre produtos industrializados (IPI) para automóveis e eletrodomésticos da linha branca (geladeira, fogões e máquinas de lavar) enfraqueceu a indústria brasileira. ¿Esses fatores reduziram a confiança do empresário. Se não houver mudança no câmbio, a tendência é que os produtos tornem-se menos competitivos e que o mercado de trabalho sofra mais ainda¿, explicou o especialista.

Menos horas pagas Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o número de horas pagas caiu 0,8% em outubro em relação a setembro, mês que já havia apresentado queda de 0,4% no índice. Mas a folha de pagamento real dos trabalhadores avançou 0,4% em outubro, frente ao mês anterior. No acumulado do ano, a melhoria foi de 6,8%. ¿Isso contribuiu, por exemplo, para o aumento do consumo das famílias, influenciado pelo emprego e pela renda¿, observou o pesquisador Fernando Abritta.