Título: Meio Ambiente substitui pauta tradicional do 1º de Maio
Autor: Salgado, Raquel e Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 01/05/2007, Especial, p. A14

A geração de empregos com carteira assinada cresce há 36 meses consecutivos, o reajuste acima da inflação beneficia 85,7% das categorias e o salário mínimo acumula um ganho real de 28,2% nos cinco anos de governo Lula. A conjuntura favorável ao emprego fez com que as reivindicações tradicionais do sindicalismo fossem relegadas a segundo plano nas comemorações do 1º de maio mais governista desde a redemocratização.

No lugar de palavras de ordem exigindo reajustes maiores, redução da jornada e mais empregos, a Força Sindical adotou o tema do meio ambiente. O lema é "Trabalhadores em defesa do Planeta Terra". "Queremos envolver os trabalhadores com o tema do meio ambiente, do planeta. Não é que não vamos criticar, mas nossa pauta agora é de construção", diz Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da central que foi crítica ao primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) também colocou a preocupação com o meio ambiente ao lado do tema do desenvolvimento com inclusão social na agenda do dia.

A festa do 1º de Maio também será marcada pela inédita aproximação entre a Força e a CUT. Em algumas cidades, como Osasco (SP) e Maceió (AL), os eventos das centrais, que sempre rivalizaram, serão realizados conjuntamente.

A aproximação dá-se no momento em que ambas dividem espaços no governo - a CUT, com o ministro da Previdência, Luiz Marinho, e a Força Sindical com o ministério do Trabalho de Carlos Luppi, correligionário do presidente da central, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP).

As duas centrais afinam o discurso para defender o crescimento econômico e as ações do governo. O próprio presidente Lula, que não participou de nenhuma das festas em comemoração ao dia do Trabalho em seu primeiro mandato, é esperado no evento da CUT.

A aproximação da Força Sindical com o governo ficou evidente durante a campanha pela reeleição do presidente Lula, no ano passado. Após apoiar o candidato tucano, Geraldo Alckmin, no primeiro turno, os principais dirigentes sindicais da Força mudaram de lado e demonstraram apoio público ao petista no segundo turno. No entanto, o presidente da central, Paulo Pereira da Silva, resistia em aliar-se ao petista.

Passados quatro meses do segundo mandato de Lula, o discurso do sindicalista já não é mais o mesmo. "Se não fosse o sistema financeiro, as taxas de juros, esse governo seria perfeito", diz. No ano passado, no palanque da festa em comemoração ao 1º de maio, a conversa era diferente: "O presidente está vivendo no mundo da lua", dizia.

Já a CUT vai manter o tom de apoio ao governo federal. Em sua comemoração pelo dia do trabalho, a central quer enfatizar a necessidade do país se voltar à questão do desenvolvimento. "Nós apoiamos o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), mas com cautela", diz Edílson de Paula, presidente da CUT no Estado de São Paulo. Ele diz que é preciso crescer com respeito ao meio ambiente e às relações de trabalho.

O sindicalista conta que a CUT não deixou de lado bandeiras como a redução dos juros, o estrago que o câmbio tem feito a alguns setores exportadores, nem se esqueceu das críticas às possíveis reformas trabalhista e da Previdência Social. Mas o discurso está claramente mais ameno. "Já estão baixando os juros, ainda que o ritmo não seja o desejado." Em outro sinal de aprovação à política econômica, Edílson lembra que a geração de empregos com carteira foi recorde em março deste ano. E completa: "Não podemos falar que tudo está uma maravilha, mas é fato que o Brasil passou por transformações importantes nos últimos anos."

As duas maiores centrais nunca estiveram tão alinhadas ao governo. Após a crise política deflagrada a partir de 2005, o número de ministros com origem no movimento sindical diminuiu pela metade no segundo mandato. Embora figuras de peso no movimento sindical como Ricardo Berzoini e Luiz Gushiken tenham deixado o primeiro escalão do governo, as centrais ainda têm em suas mãos a Previdência e o Trabalho, dois ministérios estratégicos para os trabalhadores.

Não foi apenas a conjuntura macroeconômica mais favorável que amenizou as críticas dos sindicalistas. A pauta de reivindicações dos trabalhadores tem encontrado respaldo no governo. No caso da polêmica emenda 3, que proíbe os auditores fiscais de multar e desfazer pessoas jurídicas quando constatado que a relação de prestação de serviços com uma outra empresa é uma relação trabalhista, os sindicalistas contaram com o veto presidencial.

Outros dois temas sensíveis aos trabalhadores, as reformas sindical e trabalhista, permaneceram intocados. Se, de um lado, os sindicalistas anseiam por uma maior representatividade, especialmente econômica, que viria com uma nova legislação sindical, de outro, temem mudanças que retirem direitos. E ambas as discussões, abafadas pela crise política, não foram recolocadas em pauta.

Os sindicalistas não acreditam que as reformas voltem a ser debatidas, mas também não atacam o governo, nem o Congresso. "Não há nenhuma chance de reforma. Vamos tentar aprovar no máximo mudanças pontuais", defende Paulinho.

Os principais pontos em discussão são a regulamentação do trabalho aos domingos, com pelo menos duas folgas por mês, a garantia dos direitos dos trabalhadores terceirizados e a legalização das centrais.

Com a nova agenda em comum, a relação entre as centrais se estreitou. "Conseguimos nos entender e vimos que é melhor nos juntarmos para defender os interesses dos trabalhadores. Resolvemos deixar as divergências de lado", relatou o presidente da Força. "Estamos evoluindo."

Edílson, presidente da CUT de São Paulo, concorda com Paulinho. "Torço para que um dia possamos fazer uma única festa." Porém, a principal divergência está na organização do evento. A CUT se recusa a fazer sorteios de carros e apartamentos como a outra central. "Ouvir música e fazer festa para comemorar não é pecado. Mas não se pode transformar a comemoração em um bingo", critica.

Na festa deste ano, a Força Sindical sorteará dez carros, cinco apartamentos e gastará R$ 3 milhões. Já a CUT vai desembolsar R$ 2,5 milhões para festejar o dia do trabalhador.