Título: Gol pode ceder aviões à Nordeste
Autor: Vilella, Janaina
Fonte: Valor Econômico, 01/05/2007, Empresas, p. B2

A Gol estuda a possibilidade de ceder seis aviões para a Nordeste (antiga Varig), companhia aérea que continua em processo de recuperação judicial, até janeiro do próximo ano. O Valor apurou com fontes próximas às companhias aéreas que o aporte de recursos na Nordeste via cessão de aeronaves seria uma forma de a Gol evitar riscos de sucessão fiscal e trabalhista.

Para advogados ouvidos pelo Valor, a quebra da Nordeste poderia representar riscos ainda maiores de a companhia aérea da família Constantino herdar os passivos da Varig, da ordem de R$ 7 bilhões.

Os compromissos financeiros assumidos pela Nova Varig, assim como receitas do aluguel de alguns imóveis, do Centro de Treinamento Operacional e de estações de rádio não estão sendo suficientes para manter as operações da companhia.

O rombo mensal no fluxo de caixa da companhia aérea varia entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões. Mesmo que a companhia aérea volte a operar rotas em setembro, conforme prevê o seu plano de negócios, a empresa ainda precisaria de pelo menos R$ 40 milhões em dinheiro novo para se manter até lá, segundo uma fonte da Nordeste.

Em reunião na última sexta-feira no Rio com os juízes responsáveis pelo processo de recuperação judicial da Varig e com representantes do fundo de pensão Aerus, o presidente da Gol, Constantino de Oliveira Jr., teria afirmado, segundo fontes presentes ao encontro, que a companhia não pretende competir com a Nordeste.

A idéia é que a companhia aérea tenha rotas alternativas às da Gol e da TAM nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. Procurada pelo Valor, a Gol informou por meio de sua assessoria de imprensa que não comentaria o assunto.

Durante o encontro, Junior teria se comprometido a recontratar pelo menos 2.100 funcionários da Varig até o fim de 2008. Além disso, teria afirmado que a área técnica da Gol estuda de que forma poderá antecipar o resgate de duas debêntures conversíveis em ações da VRG Linhas Aéreas no valor de R$ 100 milhões às classes 1 (trabalhadores) e 2 (Aerus, BR Distribuidora, Infraero, empresas de leasing e Banco do Brasil) de credores da antiga Varig.

O plano de recuperação da companhia aérea prevê o resgate desses papéis, emitidos em 17 de janeiro, em até dez anos com remuneração fixa de 8,4% ao ano. "Esta conta é complexa porque envolve conversão em participação acionária. Como saber o preço da ação daqui a dez anos? Além disso, ainda tem que ser feito um cálculo de deságio. Não é tão fácil quanto parece", disse uma fonte envolvida nas negociações. O resgate das debêntures, no entanto, ainda depende da aprovação dos credores da companhia aérea.

A juíza da 2ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, Márcia Cunha, afirmou ao Valor que a Gol vem buscando uma solução jurídica para resolver o impasse em torno das rotas internacionais que não estão sendo operadas pela Varig. A companhia aérea tem até junho para voltar a voar nessas rotas. Caso não assuma as freqüências no prazo, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) deverá retomá-las e redistribuí-las entre as eventuais companhias aéreas interessadas. A Gol estuda pedir a prorrogação do prazo, embora a Anac já tenha se pronunciado contra o adiamento.