Título: Ambientalistas temem por avanço da cultura no RS
Autor: Cezar, Genilson
Fonte: Valor Econômico, 01/05/2007, Caderno Especial, p. F1

Com previsão de grandes plantios de eucaliptos para produção de celulose e papel, o sul do Rio Grande do Sul tornou-se palco de disputa entre setor produtivo e ambiental. A silvicultura ocuparia cerca de 400 mil hectares, ou pouco mais de 1% do território gaúcho. Projetos das empresas Votorantim, Stora Enso e Aracruz prevêem o cultivo inicial de outros 300 mil hectares, o que representaria mais 1% da área do RS, ou 2% da metade sul do Estado. Os plantios, no entanto, podem chegar a um milhão de hectares ou 3,6% dos 28 milhões de hectares do território gaúcho. Agricultura e pastagens chegariam a 70% do Estado. "O objetivo é plantar eucaliptos em quantidade suficiente para abastecer uma fábrica moderna de celulose", diz Otávio Pontes, presidente da Stora Enso na América Latina.

Conforme as empresas, os investimentos projetados para produção de celulose, papel, painéis de madeira e para serrarias poderiam transformar o Estado em um dos maiores produtores nacionais, gerando 200 mil empregos e trazendo desenvolvimento econômico e social para a região menos desenvolvida do Rio Grande do Sul.

Mas para Ludwig Buckup, professor do Instituto de Biociências da Universidade Federal do RS, as contas e previsões dos silvicultores estão incorretas. Segundo ele, pelo menos 14% da área desocupada no sul gaúcho pode tornar-se lavoura de eucaliptos. "É preciso subtrair da conta grandes mananciais, como as lagoas Mangueira, Mirim e dos Patos, áreas urbanizadas ou convertidas para outras atividades", explica.

Conforme o pesquisador e membro da entidade ecológica Igré - Amigos da Água, de Porto Alegre, as monoculturas trariam impactos negativos para os recursos hídricos e solos da região. "Pesquisas no pampa argentino e na África mostram que solos são exauridos e que rios próximos a plantações de eucaliptos têm secado. Se alguém quer secar um banhado no Rio Grande do Sul, basta plantar eucaliptos", afirma.

De acordo com o gerente de planejamento e pesquisa da Klabin, José Totti, as críticas ao plantio de eucaliptos vêm do desconhecimento da realidade do setor. Segundo ele, os empresários cada vez mais buscam a sustentabilidade para as florestas plantadas, garantindo manutenção das águas e do solo. "É fundamental para a sobrevivência da própria atividade", diz.

Segundo Buckup, eucaliptos estão sendo plantados em áreas ricas em biodiversidade e próximos a bacias fluviais, além de ameaçarem plantas forrageiras e medicinais nativas. Conforme o professor, os plantios não estão respeitando o zoneamento ecológico e não há estudos concluídos sobre os reais impactos da silvicultura na região. "Os plantios já começaram, com apoio do governo estadual. A monocultura de eucaliptos é uma das coisas mais agressivas que se pode cometer em uma ecossistema frágil como o Pampa".

Para Pontes, da Stora Enso, a resistência à cultura é promovida por grupos ideologicamente contrários à produção e exportação de papel e celulose, para os quais a terra deve ser usada apenas para reforma agrária e agricultura familiar. (A.B.)