Título: Investimento mira expansão de capacidade
Autor: Cezar, Genilson
Fonte: Valor Econômico, 01/05/2007, Caderno Especial, p. F1

As indústrias de papel e celulose estão investindo pesado na ampliação da capacidade de produção para atender a demanda do mercado externo e interno. Pelas projeções do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), os investimentos no setor devem atingir cerca de R$ 20 bilhões de 2007 a 2010, dos quais R$ 11,7 bilhões serão financiados pela instituição. O volume total a ser aplicado é mais do que o dobro dos R$ 9,1 bilhões investidos entre 2002 e 2005.

Os desembolsos do BNDES têm crescido nos últimos anos. Em 2006, os recursos efetivamente liberados para as empresas chegaram a R$ 2,32 bilhões, aumento de 81,2% frente o ano anterior e quase seis vezes mais do que os R$ 430 milhões em 2003. Para 2007, a estimativa é de desembolso no valor R$ 1,7 bilhão, menor do que no ano passado, porque as liberações dependem do andamento e maturação dos projetos.

"O setor está investindo muito para garantir competitividade aqui e no exterior. Os R$ 20 bilhões previstos de 2007 a 2010 representam um crescimento médio de 17% ao ano, bem acima do PIB", diz Wagner Bittencourt, diretor de insumos básicos e infra-estrutura do BNDES. Na instituição, segundo ele, há atualmente uma carteira de 27 projetos - contratados, enquadrados, em análise e outras modalidades - do setor de papel e celulose, que somam R$ 14,3 bilhões.

O total de investimentos em 2007, envolvendo financiamentos do BNDES e recursos próprios, deve chegar a US$ 3 bilhões, segundo a Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa). A aposta das indústrias em aumentar a capacidade de produção é resultado da demanda por papel e, principalmente, por celulose no mercado externo. Em 2006, a produção brasileira de celulose chegou a 11,1 milhões de toneladas, e a de papel, 8,8 milhões de toneladas, um crescimento de 7,2% para celulose e 1,8% para papel em relação ao ano anterior, de acordo com os dados da entidade. No ano passado, as exportações totalizaram US$ 4 bilhões e a expectativa é que alcancem US$ 4,3 bilhões em 2007.

A Klabin, a maior exportadora de papéis do Brasil, está investindo R$ 2,2 bilhões entre 2006 e 2007 para ampliar a produção de sua unidade em Telêmaco Borba (PR), de 700 mil toneladas para 1,1 milhão de toneladas ano. Com esses investimentos, dos quais R$ 1,3 bilhão são financiados pelo BNDES, a capacidade total da empresa passará de 1,6 milhão de toneladas para 2 milhões de toneladas a partir de 2008. A expansão colocará a empresa como a sexta maior fabricante global de cartões de fibras virgens.

"A Klabin continua focada na indústria de papel e embalagens, com tecnologia avançada, que agrega maior valor à produção", diz Miguel Sampol, diretor geral. A receita líquida da empresa em 2006 chegou a R$ 2,7 bilhões, com 40% resultando de exportações. Para este ano, a perspectiva é de crescer no mercado externo, diz ele, sem revelar números. "A demanda interna, onde somos líderes de mercado em caixas de papel ondulado, cresceu 3,4% no primeiro trimestre em relação a igual período de 2006, quando o crescimento havia sido de 1% na comparação com 2005", afirma.

Com o aumento da capacidade de produção, a empresa vai contratar 1.000 empregados para trabalhar na fábrica e nas operações florestais. Assim, a empresa passará a ter um total de quase 5.000 pessoas entre empregos diretos e terceirizados. Atualmente, na obra da unidade do Paraná estão trabalhando 3.500 pessoas e o número chegará a 4.500. Em outubro, parte da ampliação começa a operar e até janeiro de 2008 todas as obras estão terminadas.

A Klabin estuda novos investimentos como o aumento da capacidade de produção de krafliner na fábrica de Otacílio Costa (SC), onde são produzidas 350 mil toneladas.

A Suzano Papel e Celulose, com receitas líquidas de R$ 3,1 bilhões em 2006, também investe para aumentar sua capacidade produtiva. Recursos no valor de R$ 2,4 bilhões, com aplicações de 2006 a 2008, estão sendo feitos na unidade de Mucuri, no sul da Bahia, que aumentará a capacidade instalada para 1,1 milhão de toneladas de celulose. A empresa, que também detém 50% do controle acionário da Ripasa ao lado da VCP Papel e Celulose, deverá produzir em 2009 um total de cerca de 2,7 milhões de toneladas, sendo 1,1 milhão de toneladas de papel e 1,6 milhão de toneladas de celulose de mercado. Com 3.420 empregados, atualmente trabalham nas obras de Mucuri cerca de 6.500 pessoas.

"Toda a produção de Mucuri será exportada, colocando a empresa em outro patamar como um player global", afirma Ernesto Pousada, diretor do projeto Mucuri. A expansão da unidade tornará a empresa a segunda maior produtora do Brasil de celulose de eucalipto e entre as dez maiores do mundo.

Os preços aquecidos da celulose no mercado internacional, em torno de US$ 680 a tonelada, estimulam a Aracruz Celulose, líder mundial de celulose branqueada de eucalipto, a investir. A empresa está aplicando R$ 595 milhões para aumentar a capacidade de produção nas três unidades do Espírito Santo, que passará de 2,08 milhões de toneladas ano para 2,33 milhões de toneladas. Essa produção somada à da unidade do Rio Grande do Sul, com 450 mil toneladas, e da Veracel - parceria da Aracruz com a sueco-finlandesa Stora Enso - com 500 mil toneladas vai garantir à empresa um total de 3,3 milhões de toneladas por ano de celulose por ano. A ampliação das fábricas deverá gerar 1.880 empregos.

"Nos próximos sete anos a produção deverá chegar a 5,5 milhões de toneladas, o que exigirá investimentos totais da ordem de US$ 3 bilhões", afirma Isac Zagury, diretor financeiro da Aracruz Celulose. Com receitas líquidas de R$ 3,7 bilhões no ano passado, a empresa exporta 98% de sua produção, tendo vendido 3 milhões de toneladas, um aumento de 16% na comparação com 2005. Do total exportado, 42% foram para a Europa, 34% para a América do Norte, 22% para a Ásia e o restante para outras regiões.