Título: Plantio de florestas recebe R$ 30 bi até 2012
Autor: Cezar, Genilson
Fonte: Valor Econômico, 01/05/2007, Caderno Especial, p. F1

A área coberta por eucaliptos e pinus para a produção de celulose e papel deve saltar de 1,7 milhão de hectares para 2,6 milhões nos próximos anos, quase a área de um Estado de Alagoas. O crescimento integra os planos de expansão do setor das chamadas florestas plantadas, que incluem investimentos de US$ 14,4 bilhões (cerca de R$ 30 bilhões) até 2012.

Os recursos são próprios ou financiados pelo BNDES. Apenas Votorantim, Aracruz, International Paper e Klabin devem aplicar mais de R$ 5 bilhões este ano. A tendência deve ser acompanhada pela maioria das 220 indústrias de celulose e papel instaladas no país. O objetivo do setor é não só ampliar a área plantada, mas elevar as exportações e colocar em operação novas fábricas, algumas adquiridas em 2006 e outras em construção.

Plantações de eucaliptos e pinus para celulose e papel são encontradas em todas as regiões do país, mas estão concentradas no Sudeste, Sul e Nordeste. A maioria dos cultivos está em Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Espírito Santo e Paraná. "A atividade está em franca expansão na porção sul do Rio Grande do Sul e no Mato Grosso do Sul", informa Rubens Garlipp, superintendente da Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS).

Segundo ele, a disparada das lavouras de eucaliptos e pinus se deve ao crescimento econômico, que eleva a demanda por papel e celulose, e a vantagens comparativas nacionais. "No país há terras, clima e tecnologia apropriadas", diz. Também houve melhoramento genético de espécies para se obter maior produtividade, e a maioria das empresas têm trabalhado com certificação florestal. Há experimentos com árvores transgênicas mais produtivas. "Fábricas estão fechando no Hemisfério Norte por falta de competitividade e migrando para países como Brasil, Chile, Uruguai e Argentina, onde encontram melhores condições", revela o engenheiro florestal.

As características da produção nacional e o panorama favorável no mercado global permitiram que o setor quadruplicasse suas exportações nos últimos dez anos. Em 2007, o montante exportado deve alcançar US$ 4,3 bilhões (cerca de R$ 9 bilhões), mais 6,3% em relação a 2006. Metade da produção de celulose e um quarto da produção de papel são exportadas, principalmente para Ásia, América do Norte e Europa. O superávit previsto para este ano é de US$ 3,1 bilhões. "Mercados emergentes como a China têm demandado cada vez mais celulose e papel com melhor qualidade", diz Otávio Pontes, presidente da Stora Enso para a América Latina.

De acordo com a Associação Brasileira de Celulose e Papel, o setor mantém quase 3 milhões de hectares de matas nativas preservadas e gera mais de cem mil empregos diretos e quase 500 mil indiretos. Graças ao apoio governamental e ao fomento do empresariado, pequenos e médios produtores já representam 25% dos programas de plantio de eucaliptos e pinus e respondem por 10% da área plantada no país para celulose e papel.

Esses produtores contam com linhas de crédito como PropFlora - Programa de Plantio Comercial de Florestas, ligado ao Ministério da Agricultura, e Pronaf Florestal, uma carteira do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, além de fundos constitucionais de desenvolvimento direcionados às regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste.

Com cerca de 200 mil hectares plantados e fábricas em São Paulo, Paraná e Santa Catarina, a Klabin já agrega cerca de 10 mil pequenos e médios produtores no cultivo de outros 60 mil hectares de eucaliptos e pinus. A empresa atua como avalista para agricultores interessados em financiamento para plantio florestal. "É a atividade rural com menor risco, além de ter significado social e econômico único para muitas regiões", diz Reinoldo Poernbacher, diretor florestal da empresa.

De olho nas oportunidades de negócios que surgiram com a escalada do aquecimento global, empresas como Suzano, Klabin, Votorantim, Aracruz e Cenibra estão iniciando negociações de créditos de carbono oriundos de projetos de florestamento e reflorestamento na Chicago Climate Exchange, bolsa de valores climática baseada na cidade norte-americana de Chicago.

Ainda no âmbito das mudanças climáticas, a demanda mundial por biocombustíveis já provoca pesquisas para a produção de álcool a partir de celulose. Estudos foram anunciados pela PetroChina, maior empresa de petróleo chinês, e a Range Fuels deve construir este ano a primeira planta norte-americana de etanol a partir de celulose em escala comercial. O Departamento de Energia dos EUA prevê investir US$ 385 milhões em refinarias que produzirão álcool com restos de madeira, palha de trigo e gramíneas.