Título: Um novo salto
Autor: Cezar, Genilson
Fonte: Valor Econômico, 01/05/2007, Caderno Especial, p. F1

A indústria brasileira de papel e celulose não tem tempo a perder. É certo que há muitas pedras no caminho: o dólar continua desvalorizado, prejudicando o bom andamento das exportações, o país tem um dos mais baixos consumos de papel per capita, a burocracia impede que se resolva o problema das compensações dos créditos adquiridos nas exportações e os movimentos sociais acirram a disputa de terras em áreas de florestas.

Mas nem por isso o setor sofre de inibições. Nos próximos cinco anos, os fabricantes brasileiros consolidam um programa de investimentos da ordem de US$ 14,4 bilhões, iniciado em 2003, para construção de novas fábricas e expansão das áreas de produção florestal, com objetivo de ampliar a capacidade produtiva do país. A idéia é atender o tão esperado aumento da demanda interna, que resultará do esforço governamental de crescimento da economia, além de buscar ampliar bastante as metas de exportação.

"Nosso maior desafio hoje é correr atrás de redução de custos operacionais e aumentar a produtividade", define André Dorf, diretor da unidade papel da Suzano Papel e Celulose, com receitas de US$ 1,4 bilhão e capacidade de produção de 700 mil toneladas de celulose de mercado e 1,1 milhão de toneladas de papel. A empresa está investindo pesado nas duas frentes de negócio, segundo Dorf. Na área de papel, acaba de concluir a liquidação financeira da aquisição da unidade de Embu da Ripasa, assumindo o controle total da empresa, que até então dividia com a VCP (Votorantim Celulose e Papel).

No segmento de celulose, prepara-se para inaugurar no próximo semestre a planta de Mucuri, fruto de um investimento total de US$ 1,3 bilhão. Com isso, elevará a capacidade de produção da Suzano de 1,35 milhão de toneladas para cerca de 2,7 milhões de toneladas. "Será um grande salto destinado a ampliar nosso volume de exportações de celulose de mercado", confia.

Otimismo é o que não falta nos planos estratégicos elaborados pelas empresas brasileiras, confirma Horácio Lafer Piva, presidente da Bracelpa (Associação Brasileira de Celulose e Papel). Na verdade, avalia ele, trata-se de uma indústria num estágio de maturidade muito grande, praticamente consolidada, com uma produção de celulose de 11,1 milhões de toneladas e de papel de 8,8 milhões de toneladas.

"É um setor altamente investidor, com balança superavitária, com pleno domínio da tecnologia de manejo florestal e dos recursos de sustentabilidade", explica Piva.

A valorização do real num cenário de retração do preço da celulose em dólar no mercado internacional é uma grande dor de cabeça para os exportadores, aponta o presidente da Bracelpa. Há dificuldades também de ordem tributária, de licenciamento de novos empreendimentos de produção florestal e, principalmente, no que se refere ao enfrentamento da questão do direito de propriedade com os movimentos sociais. Um dos maiores alvos da disputa é a Aracruz Celulose, que recentemente sofreu invasões de suas propriedades no Espírito Santo. "São conflitos que acabam por afastar os investimentos internacionais do país", reclama Piva.

Sem dúvida, o câmbio atrapalha. E as invasões de terras, muito mais. "Mas nosso negócio não pode basear-se em decisões conjunturais", sustenta Máximo Pacheco, presidente executivo da filial brasileira da International Paper (IP), uma das gigantes mundiais do setor, com faturamento em torno de US$ 22 bilhões em 2006. "Nossa principal tarefa hoje é executar bem o Plano de Transformação Global, que prevê o investimento no Brasil de US$ 1,5 bilhão, de 2005 a 2008, para transformar o país numa plataforma de exportação de papel para toda América Latina", afirma Pacheco.

O esforço inclui a concentração das ações em poucos negócios globais - no ano passado, a IP se desfez de vários ativos, como indústrias de papel revestido, serrarias e produtoras de cavacos. Mas passa, especialmente, pelo foco estratégico da empresa nos negócios de papéis para imprimir e escrever e de embalagens. Por meio de um acordo de permutas de ativos com a VCP, concluído em fevereiro, a IP integrou ao seu portfólio de negócios a fábrica de celulose e papel e sua base florestal, localizados em Luiz Antônio e municípios vizinhos no Estado de São Paulo. "Desde março, dobramos nossa capacidade de produção para 800 mil toneladas de papel visando atender à crescente demanda por papel na América Latina", diz Pacheco.

A desvalorização do dólar não afeta tanto as exportações como afeta os custos operacionais da empresa. "O grande desafio é enfrentar o real valorizado buscando melhorar os custos, aumentar a produtividade e intensificar a mecanização", afirma Carlos Aguiar, presidente da Aracruz Celulose, uma das maiores fabricantes mundiais de celulose de eucalipto e uma das principais exportadoras brasileiras, com receita líquida de R$ 3,7 bilhões em 2006.

Mas os empresários do setor têm bons motivos para estar confiantes em suas estratégias de longo prazo. Segundo a Bracelpa, o Brasil exibe uma das menores taxas de consumo de papel do mundo - deve chegar a 42 kg/habitante/ano em 2007, mas ainda assim, bem abaixo da média mundial de 56,3 kg/habitante/ano. Isto significa que há um espaço enorme para ocupar. "A perspectiva de crescimento econômico do país alimenta as esperanças das empresas, especialmente por conta de uma maior utilização de papel de embalagens", diz Piva.

Pacheco, da IP, vê dois outros bons incentivos aos planos de investimentos: a elevação da taxa de escolaridade resultante do esforço do governo para melhoria do sistema educacional, e a expansão dos gastos com computadores em 2006 (8,5 milhões de máquinas vendidas) e impressoras (3,5 milhões de unidades), o que, por certo, elevará o consumo de papel.