Título: Seis cidades dominam PIB
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 11/12/2010, Economia, p. 24

Apesar da visível desconcentração da economia brasileira, as riquezas ainda estão em poder de poucos municípios. Brasília detém 3,9%

Ano a ano, os seis maiores municípios brasileiros perdem peso na composição do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Em 1999, as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Belo Horizonte e Manaus respondiam por 29,4% das riquezas nacionais, mas essa participação caiu para 24,8% em 2008, de acordo com dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

São Paulo continua no topo do ranking, mas viu a sua fatia no bolo diminuir bastante. Respondia por 14,2% do PIB nacional em 1999 e passou para 11,8% em 2008. Ainda assim, esse resultado é pouco mais do que o dobro da parcela da segunda maior cidade brasileira, Rio de Janeiro, cuja participação encolheu de 6,8% para 5,1% no mesmo período. Brasília, por sua vez, manteve-se em terceiro lugar, mesmo com seu pedaço diminuindo de 4,6% para 3,9%.

A crise financeira mundial desencadeada no último trimestre de 2008, contribuiu para as mudanças no cenário. São Paulo perdeu peso naquele ano, especialmente devido ao forte impacto das turbulências no sistema financeiro e na indústria. O valor agregado da produção paulista dentro do total do país encolheu de 13,3% em 1999 para 8,7% em 2008. ¿Brasília, por sua vez, teve resultado positivo de 2007 para 2008, graças à presença maior do governo na economia durante a crise. A participação da cidade no PIB nacional subiu de 3,8% para 3,9%¿, disse Sheila Zani, técnica do IBGE.

Mas não há muito o que comemorar. Segundo Aquiles Rocha de Farias, economista e professor do Ibemec-DF, ¿a concentração de renda nas grandes capitais permanece, apesar de elas perderem relativamente participação no PIB, especialmente porque o resto do Brasil está crescendo¿.

O estudo do IBGE constata que há uma forte mudança na distribuição do PIB nacional. As cidades de grande porte (com mais de 500 mil habitantes), inchadas, estão perdendo competitividade para as menores, especialmente as médias (com 100 mil a 500 mil pessoas). Enquanto a participação do primeira grupo no PIB encolheu três pontos percentuais, a do segundo avançou 2,5 pontos.

¿O forte aumento dos preços das commodities agrícolas e minerais nos últimos anos contribuiu para o crescimento de cidades fora do eixo das grandes capitais. A distribuição do PIB está ficando mais pulverizada e as cidades médias estão entre as que mais cresceram, em especial por conta do avanço interno do país, principalmente em serviços¿, explicou Sheila.

A técnica do IBGE cita as cidades médias próximas a portos e a poços de extração de petróleo ou de minerais como as que registraram os maiores ganhos de participação nas riquezas nacionais entre 1999 e 2008. São elas: Campos de Goytacazes (RJ), Santos (SP), Betim (MG), Vitória (ES), Itajaí (SC), Serra (ES), Macaé (RJ), Cabo Frio (RJ) e Parauapebas (PA). Dentre as cidades de pequeno porte (com menos de 20 mil habitantes), a líder de ganho foi Rio das Ostras (RJ). Esse grupo, composto por 1.313 municípios (onde residem 3,4% da população), responde por apenas 1% do PIB do país.

A pequena cidade de São Francisco do Conde (BA), onde está situada uma das maiores refinarias da Petrobras, faz parte desse bloco, mas destaca-se mesmo como o município com maior renda per capita do Brasil, de R$ 288,3 mil por habitante. A renda média nacional ficou em R$ 15,9 mil por habitante em 2008. O segundo lugar ficou com Porto Real (RJ), um dos polos automobilísticos da Região Sudeste, com PIB per capita de R$ 203 mil.

Quase 33% dos municípios brasileiros ainda são muito dependentes da administração pública, responsável por mais de um terço de suas economias. Uiramutã (PR) lidera a lista das 10 maiores dependentes, com 78,7%, seguida de perto por Poço de Santas (PB), com 70,8% de dependência dos governos.

AS 10 MAIORES CAPITAIS

Cidade - Participação no PIB (Em %)

São Paulo (SP) - 11,8 Rio de Janeiro (RJ) - 5,1 Brasília (DF) - 3,9 Curitiba (PR) - 1,4 Belo Horizonte (MG) - 1,4 Manaus (AM) - 1,3 Porto Alegre (RS) - 1,2 Salvador (BA) - 1,0 Fortaleza (CE) - 0,9 Vitória (ES) - 0,7

Fonte: IBGE