Título: Temer faz discurso pela unidade e diz que buscará dissidentes
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 09/03/2007, Política, p. A7

Presidente do maior partido do país desde setembro de 2001, o deputado Michel Temer (PMDB-SP) será reeleito para novo mandato de dois anos no domingo - em convenção nacional a ser realizar em Brasília -, com um discurso pela unidade partidária. No dia seguinte à eleição dará início à tentativa de aproximação com os dissidentes, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), à frente. "Vou esperar que ele esteja à vontade para conversar. Não vou impor uma conversa. Cada um tem as suas posições. Mas necessariamente vamos conversar", disse ao Valor.

Temer nega que o partido vá dividido para a convenção. "Não há partido rachado. Tenho, na chapa, todos os governadores, vários senadores e representantes de todos os estados. Pode haver, isso sim, uma ou outra divergência. E divergência se resolve dialogando. Portanto, o primeiro gesto depois da eleição é dialogar", afirmou.

Outra missão de Temer será a interlocução do partido com o governo. Já na segunda-feira a reforma ministerial volta à pauta. O deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) deve ser confirmado ministro da Integração Nacional, mas Temer não descarta um novo ministério para o PMDB. "Nós vamos conversar sobre isso na semana que vem. Vai depender (um outro ministério) da conversa que tivermos na segunda-feira", disse.

Ontem, Renan voltou à carga questionando a representatividade de Temer. "A chapa (de Temer) não representa unidade. Ela é a própria divisão", disse.

O presidente do PMDB chega à disputa sem adversários, já que Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), renunciou à candidatura na terça-feira passada. Jobim era o candidato de Renan e de 19 dos 20 senadores do PMDB. Também era tido como o preferido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da maioria dos sete governadores do partido. Jobim renunciou por falta de votos na base do partido, mas saiu alegando que se afastaria porque o presidente Lula tinha feito opção por seu adversário.

Embora diga que faz "nítida distinção" entre sua função como presidente do Senado e a questão partidária, Renan não tem disfarçado sua insatisfação com o Planalto, que prometeu, na semana da convenção, dar ao PMDB da Câmara espaço no governo.

A tentativa de Renan de esvaziar a convenção parece ter fracassado. Ontem, Temer já contava com apoio de todos os governadores. Seis deles vão integrar a chapa e o sétimo, Roberto Requião (PR), não participará pessoalmente, mas autorizou a inclusão de quatro pemedebistas do estado, entre eles seu irmão, Maurício Requião, e o presidente do diretório local, Renato Adur.

De Belo Horizonte, onde teve um encontro com o colega Aécio Neves (PSDB), o governador do Rio, Sérgio Cabral, disse que vê com naturalidade a inclusão de seu nome na chapa de reeleição de Temer: "Nós não temos nenhuma rejeição a Michel Temer. Com a desistência do ministro, nós achamos que não há como os governadores ficarem de fora a direção do PMDB. Não podemos abrir mão de estar juntos no nosso partido. Este auto-exílio não tem cabimento".

Embora a bancada de senadores do PMDB tenha decidido majoritariamente não comparecer à convenção nem participar da chapa de Temer, pelo menos cinco autorizaram sua inclusão na chapa: Joaquim Roriz (DF), Almeida Lima (SE), Gerson Camata (ES), Neuto de Conto (SC) e Mão Santa (PI) - este último aliado de Temer de primeira hora. Outros senadores, como Pedro Simon (RS), não integrariam a chapa mas garantiram presença e a participação dos delegados dos seus estados na eleição.

O desconforto de Renan deve-se ao fato de se sentir o maior derrotado no episódio de Jobim. Ele foi o principal apoiador do gaúcho. Seu gabinete foi transformado em QG da campanha. Renan e o senador José Sarney (PMDB-AP) haviam pedido a Lula que não fizesse qualquer movimento para definir a participação do PMDB no ministério antes da convenção, pois alegavam que qualquer gesto fortaleceria Temer que, de resto, já tinha sua vitória assegurada em todas as contagens de votos.

Temer comentou ontem as farpas de Renan contra ele. "As pessoas estão estranhando as atitudes dele. Ele não é desse estilo. Ele é cordial. Eu pelo menos sempre o achei um sujeito afável", disse. Na convenção nacional do PMDB, 558 convencionais têm direito a voto. Como alguns têm direito a mais de um, pelo cargo que ocupa, ao todo são 775 votos.